Menu fechado

Rio de Janeiro: o que aprendi me mudando 3 vezes em menos de 1 ano

Não sou fã de mudanças, nem de casa e nem na vida. Me causam ansiedade e tenho tendência a acreditar que tudo vai ser pior na próxima. É algo que trabalho todos os dias e que vira e mexe perturba meu sono. A vida nos joga obstáculos que nos ajudam – ou obrigam rs – a lidar com nossos piores pesadelos, e com isso me mudei 3 vezes em menos de um ano (estou no sexto endereço em 5 anos rs). No meu caso, os obstáculos vieram na forma de vícios ocultos em absolutamente todos os imóveis em que morei. Azar? Burrice? Gosto de sofrer? Já não sei mais o que pensar. Se não eram problemas da própria construção, era a mudança de temperatura ou luz solar entre uma estação e outra. Pra vocês terem ideia, morei em um apartamento tão quente que fez alguns eletrônicos estourarem dentro do armário. Em outro, o fim do verão representou o fim da luz, e com ele veio a umidade, os ácaros, a alergia, o mofo e a ferrugem. Coisas que eu não poderia prever ou ter qualquer ideia antes de morar no lugar. Entupimento crônico? Vivi. ´Síndica louca? Vivi também. Chão completamente torto? Estou aqui nesse momento, louca pro mês passar e eu me mudar para o endereço novo. Em um mundo caótico, com cada vez mais gente vivendo nas ruas e vendo ruir sonhos e capacidades, me sinto mal de reclamar, mas definitivamente não foi bom ou fácil. Já chorei incontáveis noites. Da forma que for, não deixei de ter um teto sobre a minha cabeça, mas se eu gostaria que esses tetos fossem menos problemáticos? Definitivamente.

Com tudo, sinto que aprendi uma porção de lições, virei um CSI ambulante e hoje sou capaz de antecipar alguns problemas que podem acontecer. Com sorte, você vai ser mais esperta do que eu e, usando a sabedoria de quem se fudeu consecutivas vezes, vai escolher melhor seu próximo lar. Lembrando que passo beeeem longe de ser rica, o que limita muito a busca e as opções, e além disso me recuso a aceitar os valores dos imóveis na cidade e pechincho tudo. Aceita quem quer. É como ensinam os sábios do trem: pagar barato não é vergonha, é sabedoria e oportunidade! Vamos lá:

1 – Taco só é bonito na foto

Eu costumava achar tacos a coisa maaais linda desse mundo, uma coisa vintage, quentinha e incrível. A verdade é que só são bonitos na foto mesmo. Se não são cuidados, a chance de estarem infestados de cupim é grande, e não necessariamente é possível perceber isso em uma visita. Se estiverem bem cuidados, você não consegue aproveitar nada com medo de arranhar o sinteco. E acredite: absolutamente qualquer coisa é capaz de arranhar um sinteco.

Além de tudo, taco é chato de limpar, não pode passar nada cheiroso, e se você riscar ou danificar, vai ter que gastar uma fortuna pra fazer reparo. Se você não for rica e influencer, não vale a pena. Se for uma animal como eu sou, vale menos ainda.

2 – Subsolo é para insetos, raízes e cadáveres

Eu costumava andar por Santa Teresa, ver os apês de subsolo e pensar “nossa, deve ser incrível, quase um quintalzinho, quando for bem sucedida vou morar num desse, ficar bebendo vinho e sendo phyna na área externa”. Aí eu morei e descobri que nem tudo são flores: viver no subsolo significa, de maneira geral, morar onde moram os insetos mais estranhos e os mofos mais absurdos, além de umidade no inverno e falta total de luz solar durante uma grande parte do ano. Você só fica phyna na área externa se não ligar pra ser observada por eventuais passantes e correr o risco de jogarem lixo na sua cabeça. Isso aqui é Rio, e o Rio não é pra amadores. De copo de guaravita a pacote de biscoito, jogavam de tudo. Não é glamuroso como me parecia a princípio, e tudo que eu tive foi alergia, estresse e ferrugem.

3 – Banheiras são um pesadelo

Pra começo de conversa, limpar uma banheira é um porre. Morei em um apê com uma jacuzzi linda, rica, de marca, cheia de redemoinhos e jatos doidos de água. Achamos que a putaria ia rolar solta, mas encher e fazer manutenção era tão chato que usamos somente uma vez nos poucos meses em que moramos no apê. Pra completar, fica muito linda a banheira sem um box, mas o resultado é quase morrer de hipotermia cada vez que toma banho, mesmo com tudo fechado. Eu queria gritar, sentia saudade de um chuveiro normal, de uma cortina, de um box, de qualquer coisa. Além disso, machuquei o joelho enquanto morava no apê e era um parto chegar no chuveiro. Acessibilidade zero e manutenção alta, só é bom pra classe média que não limpa o próprio banheiro. Deus me livre não limpar meu próprio banheiro.

4 – Acústica é tudo

Antes de se mudar praquele apê lindo em um prédio antigo, bata na casa dos vizinhos e pergunte como funciona a acústica do prédio. O apartamento com o melhor banheiro do universo ficava em um prédio com uma síndica de filme de terror, que ouvia até o barulho de um alfinete caindo no chão. Lavávamos louças grandes no tanque (pia pequena, outro caos), e recebemos uma reclamação sobre os “barulhos de máquinas e lixamentos”. Tenho guardado até hoje, me senti uma má influência badass fodona recebendo reclamação de barulho sem nunca dar uma festa, mas na prática era horrível ter medo de me mover e receber reclamação. Aguentei 1 ano pra não pagar multa e vazei correndo mais rápido que o Bolt.

5 – Quando for ver casa, leve uma bolinha de ping pong ou um prumo

Parece brincadeira, né. Você tá aí no seu chão plano achando que eu tô de zueira, mas a casa em que moro atualmente tem o chão de um jeito que nunca vi, e que foi impossível perceber antes de ter móveis no piso. A estante fica 5cm afastada da parede embaixo, 20cm (ou mais kkkcrying) em cima. A cadeira fica tão torta que ficamos os dois aqui com problema de coluna. Não estou exagerando. Atualmente trabalho com a mesa atravessada no meio da sala porque foi o ponto menos torto que encontramos. Tem coisas que só percebemos com os móveis no lugar. Tudo teria sido diferente com um prumo ou uma bolinha de ping pong. Qualquer um dos dois nos faria perceber o estado surreal do piso. Me sinto numa casa construída pelo Salvador Dalí. Graças a Deus, no final do mês vou para o próximo endereço.

6 – Cuidado com a Tijuca

A Tijuca é um bairro legal se você é branco e padrão, qualquer coisa fora disso e é uma merda, a menos que você seja desligada(o) o suficiente pra não prestar atenção. Um bairro conservador, que come merda e arrota caviar, uma verdadeira chuva de racismo, misoginia e caos. Tem supermercado e metrô? Tem sim, mas se você tem dreads, por exemplo, também tem olhar torto, segurança te seguindo e aquilo tudo que sabemos. Eu achava que era branca, até morar na Tijuca. Se você não for branca(o) mesmo, 100%, colarzinho de pérola e os caraio, você não vai ter paz. Eu, ao menos, não tive.

7 – Cuidado com o Centro

Uma terra inóspita, sem uma sombrinha pro pedestre. Um lugar que morre a noite. Na real, tem duas opções: ou você mora onde morre a noite, ou você não dorme. Ok, três opções, já que você pode viver na boemia e aceitar o caos. Eu trabalho durante o dia, então essa terceira opção já não me cabia mais. Talvez eu tivesse gostado se tivesse 20 anos, mas com 30 e poucos achei uó. Morei na Lapa, no final da Riachuelo, e era um caos total, pisadinha tocando 24/7, um calor insuportável, quilômetros de caminhada até qualquer coisa. Na Rua de Santana? Pior ainda. Qualquer coisa próxima da Uruguaiana? Péssimo. Cinelândia? Cai a noite e vira Walking Dead. Não tem pra onde fugir e, por razões que só a especulação explica, custa cada vez mais caro. Nada como pagar de hipster hype e andar correndo o risco de tomar uma facada, né? O Rio não faz sentido, o Centro do Rio faz menos sentido ainda.

8 – Cuidado com Santa Teresa

Só é bom pros ricos sem noção e pros hipsters metidos a boemios. Como ter qualidade de vida em um bairro que não tem su´permercado? Nem só de bar caro e restaurante ruim vive um ser humano, e é só isso que o bairro oferece. E ladeiras. Muitas ladeiras.

9 – Cuidado com os elevadores

Tudo muito bom, tudo muito bem, até chegar o dia da mudança e você se dar conta de que a cama não cabe no elevador. Vai ver isso é bem óbvio pra quem mora em prédios a vida toda, mas sendo a roceira que sou, só me dei conta quando a coisa não entrou. Quando várias coisas não entraram. Por sorte avisei a equipe antes de que algumas coisas talvez não coubessem, mas confesso que tive esperança até o último segundo.

A verdade? Mal cabiam 2 pessoas. E vira e mexe algum vizinho sem noção insistia em andar junto, bem no auge da pandemia, três pessoas em um elevador minúsculo. Não foi bom, não recomendo.

10 – Aqueles clichês…

Abra todas as torneiras, teste todos os ralos, meça todos os seus móveis e leve a trena (ou uma fita métrica) antes de ir. Cheque o piso para pózinho de cupim, observe se o imóvel tem um monte de traças, teste as janelas e olhe bem dentro de armários (uma vez fui ver um imóvel que parecia promissor e tinha um mofo verde radioativo dentro do armário que parecia saído de um filme de terror rs). Eu já falei sobre testar os ralos? Não tem certeza se vai ter água no imóvel? Leve uma pet cheia d’água. Os vícios ocultos são um perigo real, especialmente em um mercado que trata moradia como negócio e caga para manutenção. Se for uma casa, observe os portais e rodapés pra ver se tem formigas (além do chão torto, vivo em uma infestação delas hehehelp). Se for na cidade, vá no horário do rush, assim saberá se é barulhento. No caos ou fora dele, vá no sol de meio dia, pra ver se é um forno. Observe se o imóvel tem tomadas. Você não quer viver com 1 tomada por cômodo.

E não importa o que você fizer, nunca nunca NUNCA aceite pagar uma fortuna por um muquifo. Só você sabe quão difícil é ganhar o dinheiro que ganha. Dinheiro não dá em árvore, e a qualidade da nossa moradia define nossa qualidade de vida. Não consegue morar com dignidade na cidade? Vá para bairros periféricos. É melhor do que sofrer morando mal e ver sua saúde ir embora. E antes que alguém me diga “nem todo mundo tem condições bla bla bla”: se você tem condições de pagar uma fortuna por um muquifo, tem sim condições de escolher. Eles cobram quanto querem, mesmo quando não faz sentido. Paga quem é trouxa.

Bônus – Dica de ouro: Desista do que chamam Rio de Janeiro

Vamos ser honestas aqui: quando alguém fala “Rio de Janeiro”, a pessoa está falando do Centro e da Zona sul, no máximo de alguns pedaços da Zona Norte. Aí você paga caro pra morar em muquifo e passar perrengue, só pra dizer que “”””mora bem””””. Eu vivia com medo de sair de casa sozinha. Tinha taquicardia só de ouvir uma moto se aproximar. No Centro inteiro você tem uns 2 ou 3 (ou 4) mercados no máximo, todos asquerosos e sem muita opção. Vai comer fora? Uma facada. Vai comprar roupa? Uma facada. Qualquer coisa é uma facada, e vez ou outra inclusive você caminha correndo o risco da facada literal. Sou da Zona Oeste e cresci ouvindo todo mundo fazer pouco de onde eu vinha, agir como se fosse tudo muito longe e coisas desse tipo. Longe do quê? Do caos? De gente metida a besta? É sim, bastante.

Com o mesmo valor que estão cobrando por uma kitnet de 20m² na cidade vou morar em uma casa que me faz sentir uma magnata, em uma vizinhança tranquila e repleta de comércios. O aluguel dessa cidade bosta só sobe, uma cidade que vive de fama e que nada oferece de bom! Estão cobrando mais de 2k por aluguel na Rua de Santana! Na Rua de Santana, meu Deus, onde eu saía do prédio e tinha uma cracolândia na porta! Dava 19h era basicamente um toque de recolher, saía quem tinha coragem ou precisava. Se você é aventureira, more no Rio. Se você valoriza sua qualidade de vida, vem pra ZO que você passa melhor! #CGmeupaís #XôEduardo. Meu sonho de princesa era que meu bairro se emancipasse dessa cidade horrível e virasse um município. A maior parte do PIB que esse prefeito doente usa pra fazer obra vem daqui, queria ver o tal do Rio se manter sem a gente produzindo tudo. Mas enfim, assunto pra outro post! rs

Meu sonho da vida era morar no Centro. Eu me achava a rainha da boemia, sou apaixonada por carnaval, queria estar onde – dizem – as coisas acontecem. Morei por 4 anos na cidade e te digo: nada de realmente bom ou genuíno acontece por lá. É uma briga de egos, uma coisa terrível, uma gente sem noção de porra nenhuma. A classe média podre fazendo os hipsters que vieram da roça ou da periferia de pet, e os idiotas batendo palma e achando tudo o máximo. Sinto que quem sai daqui (e de outras periferias) não consegue entender essa dinâmica e o lugar que eles ocupam pra quem realmente está no topo da pirâmide da cidade. A galera mora mal e paga caro pra ficar que nem mosca em volta de uma gente alienada, não faz sentido. Eu só passava raiva e, trouxa que sou, ainda tentava alertar. Perdi amigos pra cidade e tenho muito orgulho de nunca ter me perdido! A melhor coisa que fiz foi sair do Rio e vir pro interior da ZO: pago muito menos e vivo muito melhor!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *