Adeus ano velho, feliz ano novo

Todo final de ano fico meio sentimental. Junta a saudade dos que partiram com a ansiedade pelo ano que se inicia, um turbilhão de coisas e eu fico me sentindo muito sem energia. Na última semana do ano passado eu só fiz dormir. Acordava, bebia água, dormia de novo. Era um sono sem precedentes, uma coisa incontrolável. Fiquei chateada com o tempo nublado, pois planejava dar muitos passeios durante o recesso, mas que se há de fazer? Vai ver era tudo um grande esquema pra me convencer de que eu precisava mesmo era dormir. rs

Ano novo – a virada, em si – é uma coisa que normalmente dá errado pra mim. De 2016 pra 2017 tive uma infecção intestinal bizarra que começou as 22h do dia 31 de Dezembro. Parece história, mas é real. Passei a primeira semana do ano de cama, com febre, botando pra fora tudo que comia e bebia. Nem deu pra ter aquela sensação de mudança de ano e energias renovadas. Do ano passado pra agora, uma amiga de uma amiga que foi passar lá em casa passou mal, caiu no meu banheiro, machucou o joelho. Caos total, preocupação, correria. Íamos tocar e acabamos não conseguindo fazer nada. Fiquei com a sensação de que o segredo é ficar na minha e não convidar ninguém. Nos anos anteriores eu sempre ficava meio melancólica, mas nada de exatamente ruim acontecia. Fica aqui a nota mental pro final desse ano: família e só. Se possível, sozinha comendo um monte de coisa boa e vendo filme. Eu na realidade não ligo pro que faço na data, percebo agora. A única coisa que eu nunca quero mesmo é passar perrengue (por isso mesmo não saio de casa nem no dia 31, nem no dia 1º rs).

Com tudo, estou animada com esse ano. Não mais que o nível de animação normal das pessoas meio apáticas feito eu, mas mais do que ano passado. Procuro ser uma otimista consciente e continuar levando e correndo atrás. Não acredito muito em destino ou coisa do tipo, acredito em trabalho, em foco, em concentração. Se eu fosse acreditar em sorte, já teria desistido da vida faz tempo, porque isso é uma coisa que eu definitivamente não tenho. Sendo assim, talvez o maior aprendizado do ano passado tenha sido não correr. Não correr com o tempo, com as decisões, com nada. Manter as coisas no meu ritmo e ignorar o ritmo do mundo. Tudo tem funcionado muito melhor pra mim desde que comecei a agir assim.

Pra finalizar, deixo aqui uma das minhas músicas favoritas de ano novo:
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Ser radical me deixou doente

Sabe quando o tempo passa e conseguimos enxergar os padrões de fora? Me sinto exatamente assim agora. Pode ser a proximidade com o meu aniversário (faltam dois dias só rs) ou com o final do ano, mas parei recentemente pra analisar minha vida e minhas escolhas em 2016/2017, e cheguei a uma conclusão: ser radical me deixou doente.

Pra quem não sabe – já falei diversas vezes, mas vai que – entrei num processo depressivo pesado do meio pro final do ano passado. No início desse ano a vontade de desistir de tudo era grande, mas graças a Deus encontrei pessoas e oportunidades incríveis que me ajudaram a dar a volta por cima. Como tudo na vida é processo não vou dizer que estou 100% todos os dias, mas hoje entendo que às vezes o 50% é uma grande vitória. Deixando essas questões de lado, vamos ao assunto do post.

O que é ser radical, afinal?

É possível ser radical de diversas formas, em diversas questões diferentes. Meu radicalismo, por exemplo, dizia respeito as questões que trato aqui: consumo, capitalismo, cadeia produtiva e relacionados. Primeiro foram diversos experimentos com alternativas pros cosméticos. Aliado a isso, um desespero muito grande de saber a origem de tudo que eu consumia. Pra muita gente, isso leva a uma vida com mais propósito e significado. Pra mim, em algum ponto, se tornou uma obsessão. Essa obsessão dava as caras das mais diversas maneiras: culpa por consumir alguma coisa que eu não soubesse a origem precisa, culpa por comprar qualquer coisa, mesmo que necessária, culpa por usar maquiagem. Era um esforço honesto que se transformou num caos. Eu fui afundando e afundando e afundando. Me vicio fácil em absolutamente qualquer coisa. Tenho uma facilidade enorme e triste para os vícios. Quando adolescente isso me levou a bulimia. Já fui viciada em jogos, em atitudes, tudo se torna obsessivo e eu perco a hora de parar. Com essas coisas não foi diferente.

Conto isso pra alertar você. Você mesmo, que acabou de assistir um documentário que mostra como as roupas das grandes redes são produzidas, ou sobre os animais, ou sobre o capitalismo. Você que ficou chocado e enojado e desesperado. Porque eu fiquei. Eu permaneço.

E como ser consciente sem cair na obsessão?

Como em tudo na vida, é preciso equilíbrio. Na forma de pensar, na forma de consumir. Eu fui ao extremo e me fez tão mal quanto estar na outra ponta – da pessoa que comprava sem pensar, usava sem pensar, descartava sem pensar. Se você não consegue lidar com o cabelo cheirando a cabelo e ama um shampoo cheirosinho, encontre algo que seja eco friendly e caiba no seu orçamento, por exemplo. Não se martirize tentando viver a base de vinagre e bicarbonato. Isso vale pra todos os cosméticos, na verdade.

Se você gosta de se vestir bem, além dos brechós existem lojas que produzem de maneira consciente sem custar um absurdo. Vale a pena pesquisar! Eu não deixei de me importar com nada que aprendi, eu só deixei o radicalismo de lado. No final do dia, não importa quanta coisa você deixou de fazer, se isso está te deixando miserável. Não vale muito mais a pena encontrar o meio termo? Pode parecer difícil, mas ele existe.

No mais, eu não quero ser uma dessas pessoas que produzem um quilo de lixo por ano. Não quero ser a pessoa que só usa cosmético natural feito em casa, nem a pessoa que não consome alimentos industrializados. Em algum ponto eu gostaria de ser essa pessoa. Eu admiro quem tem a fibra pra fazer isso, mas a minha saúde mental apenas não me permite.

E como foi bom me perdoar. Como está sendo bom tentar encontrar esse equilíbrio. Como é maravilhoso conseguir separar o que eu fazia pela influência da mídia e do meio das coisas que eu realmente gosto! No mais, espero encontrar cada vez mais o balanço perfeito pra minha vida. Porque ela é minha, no final, e só eu sei o que é melhor pra mim.

Espero honestamente que você tenha esbarrado com esse texto no início da jornada rumo a uma vida mais saudável e consciente! Espero que ele ajude a manter o pé no chão e traçar metas concretas e organizadas. Espero que você encontre o equilíbrio mais cedo, e viva uma vida repleta de realizações e amor ao próximo! Os tombos fazem parte, mas saber que existe ajuda torna tudo um pouco mais fácil. Acredite: existe ajuda! Qualquer coisa que precisar, estou aqui pra ajudar. <3

4 tipos de pessoa para evitar na vida

Sem introdução, uma lista que vai direto ao ponto (pra variar):

1 – A pessoa que só te quer da forma que ela quer

Todo mundo já teve experiência com gente assim. Pode ser amigo, namorado, parente. A pessoa forma uma imagem mental sua e não aceita mudanças ou, pior, ela espera que você seja de uma determinada forma e não te enxerga pelo que você realmente é. É como se no filme da vida, esse tipo de gente te quisesse sempre como melhor amiga, nunca como protagonista. Sabe? Aquele tipo clássico de filme em que a mocinha tem uma melhor amiga meio esquisita, sem história de fundo e sem grandes reviravoltas? Fuja dessas pessoas. Você é dona da sua história, a personagem principal. Não mantenha por perto quem te faz sentir saco de pancadas, desimportante ou não liga pro que você diz.

2 – O amigo de ocasião

Existe uma ideia que rola pela internet de que amigo de verdade é aquele que está por perto quando você está no auge, porque só quem te ama de verdade suporta te ver bem. Não sei quem inventou essa história, mas é a maior furada, especialmente no estado em que as coisas estão agora. A realidade é o que se dizia antes: amigo é quem está com você nos piores momentos. Quem já passou por depressão ou qualquer coisa relacionada talvez entenda isso melhor. A partir do momento em que você está tão mal que não consegue lidar, as pessoas somem. Você passa a ser o amigo bad vibe, o estranho do rolê, a energia negativa. Quando estamos bem, todo mundo se mantém próximo. Não caia nessa ideia de que amigo é quem está com você no auge. Nem que seja por algum sentimento errado, no auge todo mundo está lá.

3 – O pseudo sábio sem empatia

Esse é um dos tipos de pessoa que mais me incomoda. A pessoa que por alguma razão acha que é muito experiente e sábia, e não consegue ter empatia pelo que você diz ou passa. Você conta as coisas e a reação é vir com aqueles conselhos enlatados, como se todas as pessoas passassem pelas coisas da mesma maneira. O pior? Quando você não ouve o conselho a pessoa se afasta, afinal, ela sabe muito mais da vida do que você. Amigo é quem respeita as suas escolhas mesmo que não concorde com elas. Um “”amigo”” que some quando você não faz o que ele quer e parece reaparecer só pra dizer “eu avisei” não é amigo, é só mais um encosto.

4 – O egocêntrico

Tudo, absolutamente tudo é sempre sobre ele. Você está mal? Ele está pior. Você está bem? Ele está melhor? Você teve uma ideia? Ele teve uma ideia muito mais genial e precisa te cortar na metade pra dizer. Gente egocêntrica vive tão ocupada em ser o centro de tudo que costumeiramente não percebe ser assim. Aí a gente se sente mal quando tenta se afastar e acaba voltando, só pra passar por tudo de novo. Fuja desse ciclo a toda velocidade. Quem vive numa egotrip vai continuar viajando no egocentrismo – percebendo ou não – e nunca vai ter espaço pra empatia, pra ouvir, pra incluir. No final, o maluco ainda é você.


 

Sou muito grata por algumas pessoas da minha vida, muito. Em outros momentos, sobre algumas outras pessoas, eu só consigo me perguntar: porque não afastei elas antes? É difícil enxergar nossos próprios padrões de comportamento, e o que nos atrai pras pessoas, mas vale o esforço, especialmente pra quem é muito sensível as energias do entorno, ou sente o mundo de forma não convencional. Quebrar esses ciclos pode fazer toda a diferença. Dói, as vezes, mas é tão necessário que dá um alívio indescritível depois que passa.

Eu só queria que a gente pudesse enxergar esse alívio quando estamos passando pelo ápice da dor.

Por mais elogios sem “mas”

Tenho reparado um costume das pessoas, que na realidade não é contemporâneo, mas tem me parecido mais latente: a mania de fazer elogios com um “mas” no final. O “mas” por vezes vem implícito, mas ainda assim está lá. E é chato, sabem? Tem vezes que esse complemento ao elogio soa como uma porrada na boca do estômago.

Evito a muito tempo fazer isso. Quando elogio, o faço de coração e sem aproveitar o momento pra apontar algum defeito da pessoa, especialmente porque defeitos são – na maioria das vezes – questão de ponto de vista. Quando foi a última vez que você elogiou alguém sinceramente? Você já se percebeu usando um elogio pra mascarar uma crítica?

Um dos comentários mais comuns nesse sentido se direciona a nós gordas. Passei por isso apenas uma vez na minha vida: a pessoa vira e fala algo como “você tem um rosto lindo, mas…”. Esse “mas” é seguido de “precisa emagrecer”, “só precisava fechar a boca”, “ia ficar mais linda ainda se perdesse uns quilinhos”. Isso não é um elogio. Isso é pegar um padrão e massacrar alguém usando ele. Passei por isso – como em todas as situações de gordofobia – com uma mulher. Me reconheço como uma gorda dentro do padrão e sei que por isso não sofro preconceito: tenho a cintura fina, os seios pequenos e sou bem alta. Imagina quantas vezes na vida uma menina gorda fora desse padrão ouve isso?

Para além das questões de corpo, existem um tipo de “mas” que sempre me incomoda: o “mas” utilizado para reforçar um comportamento que a pessoa algum dia teve. Pouco importa se a pessoa mudou ou se esforça para mudar ou reconhecer o padrão que a levava a fazer aquilo. Pouco importa, na realidade, se o padrão de fato existiu ou foi fruto de outras questões. Quando esse porém vem, é sempre devastador. Pode ser a mãe que insiste em reforçar padrões que o filho teve ao longo de algum período da vida. Pode ser a amiga reforçando algo que batalhamos pra deixar de lado. Pode ser um(a) namorado(a), marido ou esposa que bate constantemente na mesma tecla. Costumeiramente, os poréns vem das pessoas mais próximas e são, por isso, ainda mais devastadores. O pior de tudo? Essas maldades podem até ter no fundo o desejo de nos ajudar, mas o efeito é justamente o oposto. Quando ouvimos fazer algo que acreditamos ter deixado de lado na vida, nos vemos de volta no loop que causava aquilo. É uma espécie de trigger (um gatilho), especialmente pra quem sofre com problemas como depressão e ansiedade. Em resumo, além de não ajudar ainda atrapalha.

Por isso peço a quem ler esse texto: tenha um pouco mais de empatia, mesmo que seu objetivo seja ajudar. Você pode estar fazendo alguém dar passos pra trás, mesmo com o esforço para andar pra frente. De verdade (e de preferência), não faça isso com ninguém, mesmo que você ache que a pessoa está em um estado mental bom. Não sabemos o que se passa na cabeça dos outros e, caso seja um padrão realmente prejudicial, o melhor a fazer é insistir para que a pessoa procure ajuda médica. Quer ajudar? Ajude a buscar ajuda.

Hoje é o penúltimo dia de Setembro, mas acho o tema pertinente ao Setembro Amarelo. Nós nunca sabemos até onde vai nossa influência e impacto na vida das pessoas. Não seja uma das razões. Vira e mexe no comentário mais inocente mora a reação mais perigosa. Vai elogiar? Elogie sem “mas”. A vida já é difícil o suficiente sem alguém apontando constantemente nossos erros.

Minimalismo? Não, obrigada.

Longe de mim querer dar pitaco na vida alheia. Detesto quando dão pitaco na minha vida. É apenas uma questão de opinião! Vou expor os meus porquês e se após o texto o que chamam minimalismo ainda te apetecer, vai fundo. Cada um sabe como funciona melhor e o que considera melhor pra si. Vamos lá (em lista, porque né, lista é vida):

1 – O “”minimalismo”” é super classe média…

…e eu detesto a classe média! Aqui o média vai bem no sentido de medíocre mesmo. Economicamente, seria a média-alta e a alta. O minimalismo é um movimento que vem dessas classes. O que chamam minimalismo agora diz mais respeito a gastar do que a de fato reduzir. Comprar uma camiseta de R$ 400,00 porque ela é orgânica e produzida de “””maneira sustentável””” não tem nada de minimalista. Nem um sofá de R$ 4.000,00. E por aí vai, você entendeu o ponto. A sustentabilidade – o ativismo em geral – vendem, e as marcas perceberam isso. No início desse mês a C&A lançou uma camiseta sustentável, com direito a todos os blablabla sobre a cadeia de produção e reciclagem, com campanha bonita e vários jovens esguios sorrindo e sendo felizes. A mesma rede que compra roupas da China e da Índia, onde a produção não respeita nada e nem ninguém. Pesado, né? Se a gente pegar em pequena escala, mesmo as marcas com carinha de minimal e artesanal fazem o mesmo. Pode não ser da China ou da Índia, mas exploram alguém da mesma forma. E vendem camisetas de algodão do Peru pras patricinhas entrarem na onda do minimalismo e se sentirem muito desapegadas. Não, obrigada.

2 – O Minimalismo não respeita o passado, e eu aaamooo história

Li uma matéria outro dia num site famoso sobre minimalismo, falando sobre como a geração de agora não sabe lidar com o “”lixo”” que está ganhando dos pais e avós. O que eles chamam lixo diz respeito a louças, coisas de família, móveis, livros e coisas do tipo. Porque eles são minimalistas, eles não acumulam, isso é lixo. Eu chamo isso de tesouro. Venho de uma família pobre, e dou valor a cada coisa que foi deixada pra mim: o abajur que era da minha avó e me traz lembranças da infância, os panos e toalhas que ela bordou, os discos e livros que estão na família a duas ou três gerações.

O argumento dele é que as coisas tem que ficar na memória e não precisam de representação física. Imagina como vai ser o mundo daqui a 100 anos se essa moda pega: completamente sem identidade. Se dependermos somente de meios virtuais para guardar imagens do que existiu e existe, corremos o risco de perder isso. Existe um limite pro compartilhamento do conhecimento oral. Eu posso te explicar o que é uma coisa, mas você nunca vai saber como essa coisa realmente é até ver na sua frente.

Pegando numa escala um pouco maior, se considerarmos tudo que é antigo como lixo, quem somos nós e pra onde vamos? Isso me leva ao próximo item.

3 – O minimalismo não consegue diferenciar acúmulo de preservação

Se eu guardo mil papéis de bala, uma montanha de caixas de leite vazias, pilhas e mais pilhas de jornais, estou acumulando. Sou, inclusive, forte candidata a programas do tipo Acumuladores. É triste, inclusive, que tanta gente passe por isso e desenvolva esses problemas. Mas não tem como relacionar isso com quem coleciona livros, discos, porcelanas. Ao menos não a princípio (porque qualquer coisa pode se tornar um vício – o minimalismo inclusive. risos kkk rs). Se eu coleciono coisas com o intuito de preservar para a próxima geração, ou porque me agrada a estética e tenho espaço, não consigo ver problema nisso.

Mas essa gente estimula todo mundo a jogar tudo que for “”inútil”” no lixo. Alguns sites não falam nem de doação, falam lixo mesmo. Se desfaça de tudo e tenha um grande (ou pequeno) espaço vazio na sua vida. Para contemplar como é maravilhoso não acumular. E? Isso torna o mundo melhor exatamente como, se são coisas que já estão no mundo? Eu acredito em valor sentimental. Eu acredito em preservação. Eu acredito que faço um puta trabalho pro futuro quando salvo uma vitrola ou um livro antigo da deterioração total. Não consigo achar bonito ou engraçado que alguém não saiba o que é alguma dessas coisas. Não acho que seja um sinal bom dos tempos ou da tecnologia. A ignorância, no final, só nos leva a cometer os mesmos erros.

4 – O minimalismo não respeita as diferenças

Cada grupo, etnia, população tem suas peculiaridades. Dos turbantes aos colares, dos vestidos às botinas. O que se conhece por minimalismo é norte americano e – como quase tudo que é norte americano esses dias – é imperialista e só contribui pro desmonte dessas peculiaridades. Se uma menina do Peru, uma de Angola e uma do Brasil, por exemplo, revolvem seguir essa tendência a risca, em pouco tempo elas vão abrir mão de uma porrada de coisas que dizem respeito a suas culturas, e em menos tempo ainda vão parecer todas uma versão da mesma pessoa. Sabem? O minimalismo contribui pra pasteurização do mundo, pra essa globalização burra que coloca algo como certo e o resto todo como errado. Eu não consigo enxergar isso como bom a longo prazo.

A internet já faz um desserviço enorme no que diz respeito a indumentária. Se antes dela o que se entendia como tendência era adaptado a cultura de cada lugar, depois dela tudo vai ficando igual. Os mesmos ícones inspiram pessoas de diferentes partes do mundo, e a cada dia as lojas todas vendem as mesmas roupas, nas mesmas numerações, com a mesma modelagem, independentemente do tipo de corpo predominante em cada local. Em larga escala, essa é só mais uma tendência que contribui para que pessoas como eu – plus size, alta, quadril largo, cintura fina – não consigam encontrar roupas que lhes agradem (ou sequer funcionem, haja visto que toda calça fica quase no meio da minha batata da perna haha). O minimalismo é excludente. Tem quem argumente o contrário, dizendo que não diz respeito a moda, mas sempre diz. Ingênuo quem pensa que não.

5 – Em resumo, eu acho bem ridículo rs

Eu acho. Mesmo. Essa ideia do não acúmulo a qualquer custo, essa ideia atrelada ao “largar tudo pra viajar o mundo”, ao “””empreendedorismo”””, ao ativismo vazio. Eu acho bem ridículo. Acho que não contribui para um mundo melhor, e é apenas parte de uma grande cadeia de coisas que não contribuem. Mas eu entendo. É mais fácil comprar a camiseta sustentável ou o móvel de madeira do site hipster e achar que é muito minimalista e descolado. É mais fácil se achar a ativista porque é contra testes em animais, mas continuar comprando cosméticos produzidos por pessoas mal remuneradas. É mais fácil se preocupar com tudo que é superficial disfarçado de profundo, do que de fato abrir mão disso tudo.

Eu poderia aderir ao minimalismo, se ele fosse um pouco mais focado nas pessoas e no que acontece com elas. Se ele fosse mais sobre preservar e menos sobre não acumular cegamente. Se ele fosse feito e difundido por e entre quem tem menos, e não nas camadas mais altas. Se ser minimalista for viver com menos aproveitando ao máximo, eu até sou. Mas prefiro achar um outro nome pra isso. Eu sou devagarista. Eu sou suburbanista. Sou bonitezarista. Mas minimalista? Não, obrigada.

Pela lógica do Facebook, quem é protegido do discurso de ódio?

Recebi este texto da Wired no Telegram, e como achei bem mais completo e explicado do que vejo sendo dito sobre o assunto por aqui, resolvi traduzir. Pra quem quiser ver o original, clica aqui. O texto é de janeiro, e desde então eles em teoria estão tentando mudar, como podemos ver nessa matéria do TecMundo. Se é verdade? Não sei, mas é interessante saber como funciona, e ficar de olho nas evoluções – ou supostas evoluções – dessa questão. Sem mais delongas, lá vai:

Por meses as empresas de social media tem batido cabeça, pensando sobre como minimizar ou erradicar o discurso de ódio em suas plataformas. O YouTube tem trabalhado para garantir que anúncios não apareçam em vídeos de ódio. O Instagram tem usado sua AI para deletar comentários desagradáveis. No início dessa semana, a ProPublica divulgou os materiais internos de treinamento que o Facebook dá para os gerentes de conteúdo que moderam comentários e postagens na plataforma, sobre como calcular o que é e o que não é discurso de ódio.

De acordo com a reportagem, as regras usam uma lógica deliberada, se não estranha, para determinar como proteger certas classes de pessoas do discurso de ódio, enquanto não proteger outras. A ProPublica mostra um exemplo específico retirado deste material: as regras do Facebook determinam que “homem branco” é uma classe protegida, enquanto “criança negra” não é.

Como as regras funcionam

De acordo com as regras do Facebook, existem categorias protegidas – como sexo, identidade de gênero e religião – e categorias não protegidas – como classe social, ocupação, aparência e idade. Se o discurso se refere ao primeiro grupo, é discurso de ódio; se se refere ao segundo, não é. Então, “nós devemos matar todos os muçulmanos” é discurso de ódio. “Nós devemos matar todas as pessoas pobres” não é.

Essa separação binária pode deixar certas pessoas desconfortáveis, mas é quando classes protegidas e não protegidas são unidas em uma frase – uma categoria composta – que as políticas do Facebook se tornam mais estranhas. A lógica do Facebook diz o seguinte:

Categoria protegida + Categoria protegida = Categoria protegida.

Categoria protegida + Categoria não protegida = Não protegida.

Para ilustrar isso, o material de treinamento dá três exemplos – “homem branco”, “mulheres motoristas” e “criança negra” – e afirma que somente a primeira das três é protegida do discurso de ódio. Sim, a resposta é “homem branco”. Porque? Porque “homem” + “branco” = classe protegida + classe protegida, e assim, a classe resultante é de pessoas protegidas. Contraintuitivamente, como “negra” (uma classe protegida) modifica “criança” (uma classe não protegida”, este grupo resulta em uma classe não protegida.

Matemática + linguagem = sombrio

Em matemática, esse tipo de lógica de regras é chamado de lógica simbólica, e tem regras compreensíveis. A disciplina de lógica baseada em palavras foi criada no século XIX pelo matemático George Boole, e desde então se tornou essencial para o desenvolvimento de tudo, desde processadores de computador a linguística. Mas você não precisa ter um PhD em lógica ou filosofia da linguagem para reconhecer quando regras básicas estão sendo violadas. “Onde os engenheiros do Facebook tiveram aula de matemática? Membros do subconjunto C do conjunto A ainda são membros de A”, tweetou Chanda Prescod-Weinstein, uma astrofísica da Universidade de Washington.

Filósofos da linguagem pensam muito sobre como modificar uma categoria muda a lógica de uma frase. As vezes quando você tem uma palavra de uma categoria – como pessoas brancas – e você substitui ela por um subconjunto da mesma categoria – como assassinos brancos – a lógica não segue. As vezes segue. Por exemplo, pegue a frase “Todos os pássaros tem penas” e substitua por “Todos os pássaros brancos tem penas”. A segunda frase ainda faz sentido lógico e é uma boa dedução. Mas pegue “Alguns pássaros gostam de néctar” e substitua por “Alguns pássaros brancos gostam de néctar”, e isso pode não ser mais verdade – talvez somente pássaros verdes gostem de néctar. É uma dedução ruim.

As regras do Facebook parecem assumir que sempre que uma categoria protegida é modificada por uma categoria não protegida, a conclusão é ruim. Então só porque “pessoa negra” é uma classe protegida, ele não compreende explicitamente que “criança negra” seja uma classe protegida, mesmo que qualquer pessoa olhando o exemplo seja capaz de dizer que “criança negra” é um subconjunto de “pessoa negra”.

O fato é, não existe modo de saber sistematicamente se repor uma categoria com uma subcategoria vai levar a uma inferência/conclusão boa ou ruim. “Você precisa conectar os diferentes exemplos”, diz Matt Teichman, um filósofo da linguagem da Universidade de Chicago. “Você precisa observar a complexidade do que está acontecendo para saber com certeza.”

Teichman fala sobre um exemplo que pode dar suporte ao algoritmo do Facebook: todos os assassinos brancos devem morrer. “Toda vez que eu me deparo com políticas malucas como estas eu tento pensar, existe alguma maneira concebível de justificar isso?”, ele diz. O subconjunto “assassinos” é, na maioria dos casos, ruim. Então talvez faça sentido ser possível direcionar discurso de ódio a eles. Mas a raça de um assassino é – ou ao menos deveria ser – completamente irrelevante para a ruindade, e incluir raça nessa opinião parece, na melhor das hipóteses, problemático.

Saber as regras muda o jogo

Agora que as pessoas sabem quais são as regras do Facebook, existem várias maneiras de quebrá-las. Por exemplo, se alguém usa o termo “Muçulmanos radicais” no facebook, isso não é discurso de ódio (o modificador “radical” torna a categoria não protegida). Apenas adicionando um modificador a uma classe protegida, uma pessoa pode perpetuar um estereótipo e diminuir uma subcategoria enquanto persegue um grupo inteiro de pessoas, tudo isso sem quebrar as regras do Facebook.

“Existe uma diferença legal interessante entre significado literal e significado implícito. Você pode ser responsabilizado pelo que diz literalmente, mas muitas vezes você pode meio que se esquivar de ser realmente responsável pelo que apenas deixou implícito”, diz Teichman.

Seguir as regras pode rapidamente se tornar um exercício do absurdo. Alguém pode modificar uma categoria protegida de modo que inclua mais e mais pessoas daquele grupo. Por exemplo, dizer “crianças negras não devem ser permitidas na nossa cidade” versus “Adultos negros não devem ser permitidos na nossa cidade”. Escrevendo o último, é possível perpetuar o discurso de ódio que inclui a comunidade negra inteira – sem quebrar as regras do Facebook. E o jogo das regras não termina aí. Apenas modificando o nome de um grupo protegido com uma descrição de aparência – “feio”, “gordo” – é possível adicionar insultos as ofensas já degradantes.

Olhando as regras como um todo, o ProPublica diz que o Facebook desenvolveu as regras em reação a reclamações específicas, como de governos e usuários. Em um ponto, as regras eram abertas, incluindo uma regra geral que dizia “Remova qualquer coisa que faça você se sentir desconfortável”, diz Dave Willner, um ex-empregado do Facebook, na reportagem do ProPublica. Wilner revisou as regras atuais para as tornar mais rigorosas. O resultado, Teichman diz, parece ser uma colcha de retalhos construída não a partir de uma determinação ética forte, mas ao invés disso, um remendo feito a esmo com o passar do tempo. “As categorias viram essa confusão quando são o resultado da mistura das reclamações que as pessoas fazem”, diz Teichman.

Quando perguntado sobre sua posição em relação a essas questões, o Facebook direcionou a WIRED a uma declaração sobre discurso de ódio lançada no dia anterior a reportagem do ProPublica. As intenções do Facebook são ser “uma plataforma aberta a todas as ideias”, de acordo com a declaração.

Algumas pessoas veem essas regras sob uma luz mais obscura – de que esta política pretende proteger as pessoas o mínimo possível. “Talvez o que eles estejam tentando fazer com essa regra seja permitir um pouco de discurso problemático, para que os usuários que querem se engajar com isso usem seu site”, Teichman diz.

Em última análise, as regras do Facebook não representam a sutileza da linguagem ou as nuances dos problemas históricos e sociais que motivaram a criação das categorias. “De um lado você tem que amar a elegância de uma política que explicitamente protege homens brancos e não crianças negras, porque isso é exatamente o que estudiosos de raça e desigualdade argumentam que políticas que não levam raça em consideração fazem”, tweetou Tressie McMillan Cottom, uma socióloga da Virginia Commonwealth University. “Mas do outro lado isso é deprimente, porque significa que dezenas, senão centenas de pessoas viram este enquadramento e acharam que era perfeitamente bom. Eles pensaram que isso era legal E inteligente.”

Alguns pensam que discurso de ódio, como pornografia, não pode ser sistematicamente definido. Ao invés disso, como o juiz da suprema corte Potter Stewrt escreveu sobre pornografia em Jacobelliz v. Ohio, “Eu sei o que é quando vejo”. E é aí que o viés mostra sua cara feia, especialmente neste momento em que a inteligência artifical é treinada pelos mesmos moderadores de conteúdo humanos que ela é destinada a substituir. Não é que os moderadores fossem perfeitos, mas uma AI, como o DeepText lançado recentemente pelo Instagram para eliminar comentários maldosos, provavelmente contém os mesmos princípios lógicos e estruturas de poder incorporadas, sem ver, nas decisões que faz.

 

 

Como sobreviver (e aproveitar) eventos sendo tímida

Alô alô galere! Tudo bem com vocês? 😀

Ontem fui a um evento super incrível aqui no Rio, o Mana Pirata. Revi algumas meninas maravilhosas que conheci no Django Girls – outro evento incrível – e conheci mais outras. Tudo muito lindo e enriquecedor, pelo conhecimento compartilhado e pelas histórias de vida, militância, carreira e afins de todo mundo que falou. Pra quem não sabe, sou uma porta de timidez. Eu tremo e suo frio quando estou indo a algo novo, especialmente se envolve conversar com outras pessoas. Se deixar, fico quieta no meu cantinho só ouvindo, sem interagir.

De um tempo pra cá – e esse foi um processo que tomou mesmo um bom tempo – resolvi que era hora de sair da concha e participar também. São anos lutando com a timidez, e só no ano passado percebi que lutar era na realidade ruim e até um pouco inútil: sendo ela parte da minha personalidade, o melhor caminho com certeza não era aquele. Deste momento em diante, passei a abraçar a timidez, feito fosse ela uma amiga, e entender os mecanismos da minha cabeça. Como sei que muitas meninas e mulheres se sentem assim – seja pelas pressões sociais, síndrome do impostor ou qualquer outra questão – resolvi compartilhar essa lista. São soluções e caminhos com o selo de qualidade Dandara. Ele provavelmente não vale muito, mas é de coração. HAHA Lá vamos nós:

1 – Ir já é uma vitória

Não crie expectativas. Se você é tímida, provavelmente repassa quinhentas vezes na cabeça tudo que pretende fazer. A expectativa gera a decepção! Você pensa “hoje vou falar com várias pessoas”, e quando chega sente o peso do concreto nos pés e a fala engasgada. Já cansou de me acontecer. Eu simplesmente não conseguia interagir, daí me sentia mal e a um passo de uma crise de ansiedade. Viu algo que quer participar? Vá! Ir já é uma grande vitória pra quem é tímido. Pense que mesmo com medo você se arrumou, saiu de casa e chegou até lá. Qualquer coisa que vier depois é lucro. Aos pouquinhos você vai se conhecendo e se sentindo mais confortável pra interagir.

2 – Respeite seu tempo

Por falar em ficar confortável e se conhecer, respeite seu tempo! Nem todo mundo funciona igual, e a timidez é motivada por diferentes razões. De repente uma tímida pode conseguir falar e fazer mil amigas de primeira, enquanto outra precisa de um tempo maior pra se soltar. Quando a gente presta atenção nos nossos porquês, começa a conseguir impedir pensamentos negativos sobre si e sobre os outros antes que eles aconteçam. É um processo que demanda diferentes quantidades de tempo. Numa das primeiras vezes que falei em público eu tremia tanto que achei que ia morrer. Foi um pitch de um projeto meu pra uma banca avaliadora. Saí achando que nunca seria selecionada, e fui! Normalmente tudo de ruim que pensamos sobre nós e sobre nossa fala é mentira, acredite. Lógico que sempre podemos melhorar, mas melhorar no nosso ritmo é engrandecedor e maravilhoso!

3 – Se mova!

Em todo evento sempre chega a hora mais difícil pras tímidas: os coffee breaks! haha Meu conselho é: não fique parada! A partir do momento em que paramos, vai ficando mais difícil se mexer e interagir. Falo por experiência própria. Viu a mesa? Vá até ela. Tome uma água, um suco, coma alguma coisa. Observe o ambiente. Viu uma roda de conversa? Vá até ela! Minha cabeça sempre pensa “as pessoas vão me achar maluca e intrometida se eu for até lá e ficar olhando”. Sabe qual é a realidade? O momento é feito mesmo pra interagir, e ninguém está pensando isso. Além disso, a timidez nos coloca sempre no centro da vida, na nossa cabeça, e a verdade é que não somos. Você vai chegar na conversa e ela vai continuar, acredite. Chegou na conversa e acha que tem algo a acrescentar? Fale! As pessoas são muito mais receptivas do que pensamos a princípio.

4 – “Mas eu não consigo falar!”

Consegue sim! Pode ter certeza. E se não se sentir confortável ainda pra falar, observar é válido também. Lembre-se: não existem regras. Normalmente eventos geram grupos virtuais, e se você não se sente a vontade pra falar ao vivo, vale postar lá depois. Minha timidez virtual é sempre menor do que a “ao vivo”, e me expresso melhor escrevendo. Comente nos grupos, fale com as pessoas virtualmente, e no próximo você já chega conhecendo pessoas. Isso torna tudo muito mais confortável e as interações ficam muito mais fáceis.

5 – Todo mundo sente medo

Sabe aquela menina que fala super bem? E aquela outra que pegou o microfone e deu um show no discurso? Elas também sentem medo. Elas também com certeza ficaram nervosas antes de falar. Não sentir medo não existe! Todas nós fomos expostas a diferentes graus de machismo ao longo da vida, e tenho pra mim que ele é a essência de todos os medos e angústias femininos. O medo de se expor, de falar, de se colocar. A síndrome do impostor. A partir do momento que aceitamos que mesmo quem se coloca e fala bem sente medo, vamos ficamos mais tranquilas pra falar também. Como eu disse antes, são processos que demandam tempo e esforço. O medo vai sempre existir, o importante é não deixar ele vencer. 😉

6 – Ser tímida é ter mais empatia

Quando somos a pessoa do canto por muito tempo, nos tornamos mais empáticas. Se estou em algum evento e vejo uma menina sozinha no canto, vou direto falar com ela. Porque? Muito simples: eu me vejo nela. Eu consigo ter empatia e pensar que ela pode passar pelo mesmo que eu passo e passei. Ser tímida me tornou observadora a beça, e consciente de que sempre podemos ajudar alguém que também está aprendendo a vencer seus medos. De quebra ainda fazemos amigas pelo caminho! Observe também, sinta o ambiente. Quando você estiver num círculo e ver uma menina sozinha, chame ela pra participar. Antes que você perceba, nem lembra mais porque tinha medo. <3

Bom, é isso! A lista já virou textão e vou parando por aqui. Em resumo: se conheça, se aceite! Ao invés de focar na mudança, foque no processo. Os ambientes e eventos voltados pra mulheres são super acolhedores, acreditem! Participar fez uma diferença enorme na minha vida, e tem me ajudado muito a lidar com as minhas questões. Ser tímida faz parte da sua personalidade, mas não precisa definir a sua vida! No final das contas, devagar se vai ao longe, e cada uma sabe do seu tempo e da sua evolução. Se permita, se descubra e – acima de tudo – se ame pelo que você é, e não se martirize pelo que gostaria de ser!

Beijos e um excelente domingo a todos! :3

+Amor: diga algo bonito a quem você admira ♥

Falo muito sobre consumo por aqui (não tanto quanto gostaria rs), mas quase não tenho falado sobre amor. Hoje acordei me sentindo um potinho de apatia. Minha vontade honesta era não levantar da cama, colocar música pra tocar e esquecer da vida. Felizmente as responsabilidades chamam, então levantei e vim trabalhar. Digo “felizmente” porque acordar sabendo que independente do seu humor você tem coisas a fazer é uma benção. Todos temos, sempre, mas vira e mexe nos desconectamos e esquecemos disso. Vira e mexe tudo parece pesado demais pra lidar, e vai ficando difícil juntar forças.

Por essas e outras, esses dias decidi tentar algo novo. Ao invés de ir falar com alguém esperando que falar fosse me deixar melhor, eu escolhi tentar deixar o dia das outras pessoas melhor. Acredito muito que recebemos de volta aquilo que emanamos, então por melhor que seja desabafar de vez em quando, não podemos transformar a vida nesse exercício da reclamação. Quando estiver se sentindo mal, escolha uma pessoa – nem precisa ser amigo, pode ser um conhecido mesmo – que você admira, e escreva pra ela. Diga porque admira, do que gosta, no que o que ela diz contribui pra sua vida. Escreva sem esperar resposta, só pra colocar algo bom pra fora. É engraçado ir percebendo que por pior que a gente se sinta, parar e pensar em coisas boas é engrandecedor e traz uma paz enorme ao coração.

Esse é um texto breve (se comparado ao que eu normalmente escrevo hehe), e o conselho é esse: diga algo bonito a alguém hoje. Pode ser ao vivo ou via internet. Pode ser um bilhete escrito também. Pode ser sua mãe, sua vizinha ou aquela conhecida que você adicionou no facebook e adora acompanhar. Pode ser até a desconhecida que você vê todo dia no ponto de ônibus e é louca de vontade de conversar, mas normalmente não tem coragem. Diga algo bonito sem esperar nada em troca, todo dia, pra uma porção de pessoas. Antes que você perceba, seu coração se encheu novamente de luz. Por mais cinza que esteja o dia, existe sempre espaço pra colorir.

Que a semana de vocês seja linda e multicolorida! <3

“Não faça isso”

Estou aqui estudando e pensando em questões da vida. Toda vez que começo a aprender algo novo e esbarro em alguma dificuldade – por menor que seja – não penso em quem me encoraja a aprender. Eu penso em todo mundo que age como se eu nem devesse tentar, especialmente quem me diz. Acho uma tristeza sem tamanho quando alguém fala “nem tenta” e derivados. Pensar nessas pessoas e situações me dá muito mais gás do que em quem apoia, honestamente.
 
Há alguns meses, conversando com meu tio, comentei que estava gradualmente deixando o design e o marketing de lado pra aprender programação. Na época eu já sabia algumas coisas, e tinha acabado de participar do Django Girls. Foi um dia incrível, e eu saí maravilhada e louca pra aprender. A resposta dele foi “não faça isso, não vale a pena”. Nem exatamente com essas palavras, mas com um grande discurso muito pior. Meu tio tem uma influência forte na minha vida, especialmente a profissional e acadêmica.
Nesse dia eu fiquei me sentindo péssima. A vontade de aprender foi ruindo e ruindo, até que eu me dei conta do seguinte: além de não viver a minha vida, meu tio é fruto de outro tempo. Um tempo talvez bem menos cheio de possibilidades do que o meu. Um tempo em que você escolhia – ou era empurrado – cedo pra uma carreira, e nela permanecia até o final. Eu não conheço quase ninguém da minha faixa etária que não tenha trocado de curso na faculdade. Quase ninguém que tenha certeza de alguma coisa. Eu não conheço, infelizmente, quase ninguém que não tenha tido uma experiência muito ruim em relação a saúde mental por causa dessas questões todas da vida. Eu, inclusive.
 
Aquele “não faça isso, não vale a pena” ecoa na minha mente todos os dias. Depois dessa frase eu consegui um emprego desenvolvendo sites. Depois dessa frase eu tomei coragem no trabalho pra dizer que escrevo (e amo escrever), e agora também produzo conteúdo (um dos meus sonhos na vida era ser paga pra escrever, entendam..rs). Depois dessa frase eu fui treinadora no Django Girls, mesmo achando que eu não sabia nada e não conseguiria ajudar ninguém. Depois dessa frase eu completei mais alguns cursos e aprendi mais algumas coisas. Depois dessa frase eu tomei coragem e me inscrevi pro meu primeiro vestibular num curso de exatas. A frase ecoa e abala a minha auto confiança até hoje, mas se paro e penso em tudo que conquistei depois, talvez ela seja também responsável por me tornar mais forte e confiante. Parece contraditório, mas o “não faça” me faz acordar todos os dias querendo fazer mais, alcançar mais, mostrar que eu posso sim fazer isso.
 
Com toda essa história, o que quero dizer é: estamos em 2017, amigas. Ainda é o início de um novo milênio. Como todo início, traz consigo infinitas possibilidades. É preciso honrar todas as mulheres fortes e inteligentes que foram aos pouquinhos pavimentando o caminho pra nós. Ainda existe muito a ser feito, mas nós podemos tudo, absolutamente tudo, e nunca é tarde pra começar. Me tornei designer por oportunidade, não por escolha, e me sinto hoje finalmente escolhendo a minha vida. Pela primeira vez sinto que cada passo é uma escolha consciente e pensada. Cada passo é mais um pouco do caminho em direção ao que eu quero. Dizem que conselho não se dá, mas vou dar sim: esmorecer, talvez, mas desistir jamais. Se a poucos meses atrás eu tivesse ouvido aquele “não faça isso, não vale a pena”, eu não teria agora a noção do quanto – e quão rápido – a vida muda. Eu não teria conhecido as pessoas maravilhosas que conheci, e não teria aprendido tudo que aprendi, e não estaria agora feliz e contente estudando uma linguagem de programação desde as 8h de um domingo. Por mais que a vida pareça meio sem sentido agora, acredite, a hora em que você encontrar o que realmente ama e quer fazer, tudo flui.
O importante é não desistir de procurar.

Pense fora da casinha

Todo mundo está acostumado a conselhos sobre pensar fora da caixa, eu sei, mas esse é diferente. Fora da caixa costumeiramente significa inovação. Fora da casinha é sinônimo de loucura, insanidade, ser lelé da cuca, e esse é exatamente o caminho do meu conselho.

Há cinco anos atrás, quase seis, comecei a trabalhar como assistente de marketing em uma empresa de cosméticos. Na época ela já era legal, mas bastante desconhecida nas quebradas. Peguei a página do face com menos de mil pessoas. Lá comecei a implementar um monte de planos loucos da minha cabecinha oca. Na época a equipe de marketing era formada por duas pessoas, contando comigo, e mais uma designer “flutuante”, que depois passou a estar lá todos os dias. A gente se virava com uma verba ínfima ou inexistente. Não existia anúncio de facebook, nem ações caras, nem agência, apenas um plano e muita insanidade nas ideias.

Ao longo dos últimos anos, trabalhei ou prestei serviço pra eles mais algumas vezes, e foi incrível ver que a junção da essência que eles já tinham + as minhas loucuras em conteúdo e ideias + as outras profissionais fora da casinha que passaram por lá fizeram com que não somente a marca crescesse, mas que uma verdadeira revolução acontecesse no mundo dos cosméticos.

Se vocês não pescaram ainda, estou falando da Lola. Há cinco anos atrás ninguém falava com essa linguagem, e não existiam produtos no Brasil com essa pegada jovem e insana (honestamente, até no mundo era difícil, no máximo ti.gi e lush, né?). Com o passar do tempo, a empresa adquiriu uma identidade forte e disruptiva. Se existem agora tantas linhas multicoloridas e com linguagem ultra informal, é graças a Lola. Todo mundo começou a querer copiar. As empresas grandes começaram a ficar de olho, e vocês não tem ideia do prazer que é ter feito parte disso tudo nos meus 20 e poucos anos.

Dito isso, vamos a parte que interessa: imagina se a cinco anos atrás alguém tivesse entrado na Lola e estruturado tudo de maneira “correta” segundo as “teorias” da publicidade e do marketing? Imagina se alguém tivesse convencido os sócios a seguir um caminho “””seguro”””. Ninguém teria ouvido falar na marca, certo? Graças aos céus isso não aconteceria porque a responsável por dar corda a toda essa loucura é uma pessoa tão descolada e fora da casinha quanto todas as profissionais de marketing que passaram por lá. Uma pessoa que sempre acreditou no potencial transformador das coisas, dos cosméticos, da verdadeira beleza.

Pensem fora da casinha, criativos. Pensem fora das teorias e fora dos muros da universidade. Não deixem a faculdade limitar o potencial de vocês. Porque o que acontece é esse mar de métricas e teorias que podem até gerar crescimento, mas não geram valor. Pensem fora da casinha porque a inovação mora na loucura, não no “mas é assim que funciona”. Imaginem se todos os responsáveis por aplicativos, gadgets, sites e produtos disruptivos tivessem acordado um dia e pensado “é, não, não vale a pena”. Que mundo chato e sem graça seria o nosso, certo?

Acima de tudo, parem de tornar a internet esse lugar insosso, em que todos os sites parecem os mesmos, em que todas as chamadas parecem as mesmas. Existe lugar pra fazer a diferença em qualquer cliente. O mundo pode até parecer dos iguais, mas a glória é definitivamente dos diferentes.

Beijos de luz,

Dandara – A designer/web designer/redatora/artesã/programadora em potencial/dona de ideias insana que você respeita. HAHAHAHA