Ficamos um bom tempo pensando em qual seria o nome da casa. Em quais eram nossas referências e as expectativas em relação a vida a partir da mudança. Primeiro decidimos por “O apê da Tijuca”, mas antes que pudéssemos perceber, A Casa das Trevas estava nomeada. O nome se escolheu. Uma referência clara ao mundo das trevas de YuYu Hakushô, mas muito, muito mais do que isso. O quadro negro no cavalete teve letreiro desde o início, e minha mãe – como, acredito, qualquer mãe faria – veio com o “apaga isso, essas coisas atraem”. Ela foi embora e comecei lentamente a apagar os desenhos e letrinhas. E então o nome me bateu. Todo o significado por trás, tudo que essas “trevas” significam. Reescrevemos assim que apagamos. Cada semana um de nós é responsável por refazer o quadro e dar o start na semana.
Mas porque trevas?
Muito mais do que seres desprovidos de luz, se analisarmos um pouco mais a fundo quem supostamente vive nas trevas, a coisa fica muito clara: os excluídos, os errantes, os boêmios. As pessoas a margem. Tudo aquilo que a sociedade não aceita e não quer ver circulando por aí. Quem vive nas trevas – mesmo e especialmente se analisarmos pelo viés religioso – é o conjunto de pessoas que não aceitaram não ser elas mesmas. Que não aceitaram engolir o que a sociedade impõe, mesmo quando isso representou dor ou sofrimento. Existe muito mais luz nas trevas. A luz de quem mesmo sofrendo para existir pavimenta o caminho para quem vem depois. A luz de todas as mulheres que vieram antes de mim e essa energia que eu sinto, que me faz ser uma mulher bissexual de 1,80m, cabeça raspada e roupas insanas. Que me faz morar com meu noivo e meu ex noivo e cagar pro que as outras pessoas pensam. A energia que me move diariamente rumo aos meus objetivos.
E então essa é a Terrível Casa das Trevas. Um lugar que recebe de braços abertos (e com comida haha) quem quer que chegue. Um lugar em que se propaga o respeito, o amor, a empatia. Em que se conversa sem filtros e se ama sem ressalvas, pelo que o outro é em sua totalidade. Onde os amigos são bem vindos e se sentem confortáveis para serem eles mesmos. Vivemos nas trevas cheios de luz. Vivemos a margem, fazemos diferente, ousamos ser nós mesmos num mundo que tenta tornar tudo cada vez mais homogêneo. Sem poréns. Sem explicações. Pelo prazer puro e maravilhoso de se ser quem se é.