Deixa a grama

Tento trabalhar aqui, na minha quase-ex-sala, enquanto o barulho do cortador de grama leva embora o restinho da minha sanidade que nesses tempos não é muita mas vai saber. E então é só barulho. Essa coisa insuportável quando repetitiva e quando não a repetição do que queremos. Porque tem repetições e repetições e barulhos e barulhos. Este entra na categoria do que nem deveria existir porque, meu Deus, imagina só se a grama crescer. Imagina se a grama crescer e se tudo que chamam erva daninha crescer e, minha nossa senhora, as plantas tomarem conta. Imagina só que coisa horrível pra vida do cidadão de bem, olhar pela janela e ver que aquilo tudo que ele não quer floresceu. A florzinha amarela e pequena da erva daninha. Miúda, muito. Uma coisinha, uma florzinha de desenho animado. Tão pequena que você pensa pfffff que diferença faz? É quase nada. É tão pequeno e frágil. Mas o cidadão de bem da janela do oitavo andar vê lá embaixo quando olha. O pontinho amarelo na grama verde. O pontinho de cor e luz e força do que insiste em brotar pelas frestas. Do que insiste em viver e florescer e acontecer mesmo que tudo diga que não.

Vez ou outra parece um ritmo, o cortador de grama. Vez ou outra parece até que quem corta também não aguenta mais e então é um pouquinho de diversão no meio de uma das tarefas talvez mais insuportáveis de todas as tarefas inúteis e insuportáveis. Porque se eu aqui no segundo andar não aguento eu imagino ele ali. Com o cortador na mão. Se torturando. Tem um gatilho no cortador. Você aperta igualzinho um gatilho de arma (eu acho ao menos porque as únicas armas que peguei eram pistolas de água ou dardos e eu nunca fui nem num paintball). E então ele aperta bem fundo o gatilho bem bem fundo e sente a vibração e então ele corta e o cheiro de verde e vida começa a subir e tudo é cheio de grama. Tudo é cheiro de mato. E ele aperta o gatilho e corta corta corta corta. O serumano adora matar. Adora tirar a vida das coisas pequenas e indefesas. Mesmo as coisas pequenas e indefesas talvez adorem, segundo ele mesmo projetando sua existência em todas as coisas, porque ele resolveu também que a erva daninha é daninha porque um dia resolveu que tais plantas eram melhores e mais merecedoras de espaço e vida que tais outras plantas e por isso as daninhas são daninhas. Elas absorvem do solo o que segundo o serumano deveria ir pras plantas que ele quer ali naquela terra. Ele aperta o gatilho. A florzinha miúda e amarela respira seus últimos segundos de vida. Bzuuuuuuum zuuuuum zuuuuuum. Ela sente o cheiro da grama cortada. Ela fecha os olhos.

Se não arrancar da raiz eu volto, filho da puta.

Um pra trás, dois pra frente

No início desse ano eu tinha um milhão de planos e sonhos e coisas que queria fazer. É meu primeiro ano fora de casa. Meu primeiro ano inteiro com Matheus. Aí eu fumei maconha pra caralho e bebi um monte de bebida e estava o dia todo sem comer e caí convulsionando no chão do banheiro. Estava perto do carnaval e eu sou um ser de carnaval e eu queria tudo aquilo, pela primeira vez acompanhada por alguém que gosta da zueira e do caos tanto quanto eu. E eu convulsionei. E eu caí. Eu abri os olhos e eles dois olhavam pra mim como se eu tivesse morrido e voltado. Eu grunhi. Eu me debati de leve, caída no chão do banheiro. Eu machuquei o joelho tão feio que não conseguia levantar do chão. Sentar no vaso sanitário foi uma tarefa hercúlea e eu mal conseguia respirar de dor.

Não fui ao médico. Eu nunca vou ao médico. Quase nunca, agora que estou tentando ser um adulto responsável com a saúde. Percebo a cada dia que existem adultos responsáveis sobre tudo em suas vidas, menos a saúde. A carreira e a casa e as coisas todas vem na frente. Até a gente ter desses colapsos. Até o corpo não aguentar o baque. Sou responsável com a vida, irresponsável comigo. E então eu fiquei esperando o meu joelho melhorar. Sem andar por uns dias. Querendo ver a rua e as pessoas e as coisas todas e arrumar a casa e criar e correr. Eu mencionei que tinha começado a correr? Morreu. Morreu antes que eu conseguisse percorrer nossos 2k sem morrer. Ele ia melhorando e eu ia forçando mais um pouco. É só até o mercado. É só um dia de carnaval. É só mais outro. Eu mancava e eu sorria. Eu mancava e eu pensava que mesmo perdendo muito, eu continuava tentando não perder. Me agarrando as pontinhas soltas da minha boemia recém recuperada.

Estou aqui e é junho. Junho. É o meio do ano. Não fiz quase nada do que gostaria de ter feito ou fiz em velocidade reduzida ou continuo tentando fazer. Nada saiu como o planejado. E é precisamente por isso que tendo a não planejar muito o que vou fazer. Toda vez que planejo profundamente eu me fodo profundamente e tudo perde o sentido. Prefiro ir sentindo a vida. Ir sentindo e vendo até onde aguento. Gosto do plano e gosto do esquema, mas gosto também desse sabor de se ver perdido e continuar vivendo. De não fazer tanto quanto gostaria e de repente fazer tudo de uma vez. Eu não nasci pra calma do plano, eu nasci pro estalo da realização. Eu percebo e me percebo e sobrepenso e parece velocidade mas por dentro sou uma tartaruguinha. Eu sou uma velhinha da tijuca (ou de copacabana). Eu sou vento mas o vento cresce e cresce e catástrofes inteiras são feitas de vento.

E então eu paro e olho pro ano novamente. Seis meses. Eu saí no carnaval, afinal. A casa foi tomando forma e jeito e eu aceitei que nunca vou ser organizada e certa como gostaria. Eu nem gostaria, o mundo sim. Eu casei. Eu, que nunca achei que casaria, casei com a pessoa mais maravilhosa de todas as pessoas. Saí e bebi e vi e escrevi e construí, construo, construímos. Com afinco e flutuando. Perdidos e achados. Perdidos e reluzentes. Vagantes e errantes e de um brilho desmedido. Planejar é se colocar pra frustração. Viver assim, no ritmo que se tem, sendo o que se é, é muito mais difícil. O caminho é mais longo, talvez muito mais, mas a sorte anda do lado de quem tem coragem, e eu tenho. Muita. De sobra.

Eu paro e olho pro ano e eu desço desse pedestal de drama e dor. Eu saio do void. Eu mesma me coloco ali porque esqueço da minha capacidade infinita de me reinventar e refazer e recomeçar. Eu mesma me coloco ali quando esqueço de mim. Não quero me esquecer. Eu quero a vida e eu quero o caos e eu quero pegar tudo que foi até aqui e crescer mais do que já cresci, mais do que (me) acho capaz. Eu paro e olho e vou, agora. Merda acontece. Vida que segue.

Abundância

Estava no mercado ainda agora, e fiquei muito feliz quando vi que o fígado estava na promoção. Além de ser apaixonada pelo gosto – que, entendo, não é pra todos – acredito nos antigos, e antigamente o fígado era consumido como tratamento para anemia e outras “fraquezas” do sangue. De lá pra cá, muita coisa mudou, especialmente a forma como os animais são criados. É triste saber que, dependendo da procedência (e essas coisas de checar firme a procedência quando você tem orçamento são complicadas rs), o fígado pode ser contaminado pela forma como o boi viveu. A alimentação, antibióticos e outras toxinas do modo bizarro com que a agropecuária funciona nas últimas décadas afetam a saúde dos animais, e podem fazer com que consumir fígado não seja uma boa ideia. De qualquer forma, tendo a não acreditar em tudo que leio na internet, e sendo apaixonada por fígado e pelos costumes que aprendi ao longo da vida, fui direto para a geladeira de miúdos.

Estava escolhendo as bandejas, quando uma moça me perguntou “isso é o que?”. Eu respondi e ela começou a falar sobre como comprava aquilo pro cachorro. Senti uma pontada no coração. Pro cachorro? Nada contra os catioríneos, e inclusive adoro, mas é triste pensar na quantidade de gente no mundo que teria a dieta enriquecida por um pedaço de fígado. Daí é triste pensar como estes costumes – sobre ervas, temperos, legumes e carnes – vão sendo esquecidos através do tempo, com o crescimento da industria farmacêutica e dos alimentos processados. Pega uma carne, qualquer uma, dá uma roupagem bonita e pronto, é moda. E então aquele corte específico – antes relegados as camadas menos abastadas da sociedade – passa a custar caro e ser acessível somente por quem tem mais dinheiro. Com a rabada foi assim. Com a sardinha também. Uma começou a aparecer em pratos da cozinha contemporânea, reportagens no jornal e pronto, o preço subiu vertiginosamente. A outra virou comida saudável, rica em ômega 3, maravilhosa para uma porção de coisas. Ainda se acha sardinha a preços razoáveis, mas nunca mais ela foi tão acessível e comum quanto antigamente.

E então eu estava lá, com minha bandeja de fígado na mão, pensando em como um fígado fresco, de um bicho criado feliz, seria muito mais saboroso. Eu estava lá pensando no quanto aquela carne me lembra infância, e pras pessoas de maneira geral aquilo é a rapa do tacho. É coisa de pobre. É comida de cachorro. E é triste essa associação. É triste quando o valor da comida é atrelado a essa ideia de poder de compra, e é triste que a sociedade funcione assim. Pensando nessas coisas tristes, me veio uma coisa muito feliz: isso é abundância. Eu ficava pensando que abundância e prosperidade tinham a ver com alcançar mais, fosse mais dinheiro ou sucesso ou qualquer coisa do tipo. Não de uma forma capetalista, pensava eu, de uma forma boa e saudável. Aí eu estava lá, fígado na mão, e me bateu de uma vez que não é sobre ter mais, ganhar mais, alcançar mais. É sobre ser o mais feliz possível com o mínimo possível. Comer quando der fome. Beber quando der sede. Valorizar a água e a comida, valorizar a vida e os acontecimentos.

Isso não é sobre se conformar. Não é sobre aceitar calado o que não concorda ou quer para a vida. Se a gente consegue se sentir pleno, próspero e cheio de abundância com o que temos agora, a vida se encaminha. Se você é feliz com o que tem em todos os momentos, nada te abala. Me senti feliz e plena com a realização de que minha alimentação e a forma como me relaciono com o mundo tem a ver com esses costumes e conhecimentos que me vieram, do que com qualquer noção de alimentação saudável do mundo contemporâneo. Por me sentir assim, senti a abundância que existe na minha vida e no meu lar: sempre temos o que comer e beber. Começamos a plantar nossos alimentos. Vibramos positivo no mar de caos da sociedade. E isso é suficiente pra encostar a cabeça no travesseiro e dormir tranquila, sabendo que corro atrás dos meus sonhos na minha própria velocidade. Essa é a verdadeira abundância!

Mais do que qualquer mudança de vida, é tudo sempre muito mais interno: a realidade é o reflexo de como nos relacionamos com ela.

Vá, mesmo com medo! (ou “como lidar com o frio na barriga”)

Acredito muito no frio na barriga como um medidor pra vida. Quando algo me empolga verdadeiramente, lá está ele me fazendo pensar em uma porção de questões: será que sou realmente capaz? Estou preparada para este desafio? Tenho as habilidades necessárias para realizar essa tarefa? Essas perguntas são, em essência, fruto do medo. Com o passar do tempo fui aprendendo a diferenciar o medo-trava, aquele que vem de alguma espécie de sexto sentido me dizendo pra não fazer, do medo-excitação, aquele frio na barriga que no final torna o resultado ainda melhor.

A verdade verdadeira é: se buscamos o desafio, se ele chegou até nós de alguma forma, estamos prontos. Se não estivermos, paciência! Pode soar estranho, mas a realidade é que mesmo quando não estamos preparados, o aprendizado da experiência nos deixa ainda mais próximos de estar. É aquela velha máxima de só se aprender fazendo. Quando começamos a entender que tudo é aprendizado, vai ficando cada vez mais fácil entender todas as motivações, medos e questões por trás de cada desafio que a vida traz. Como diz a frase, somente a prática é capaz de sanar os medos, reforçar nossa confiança e nos preparar pro que vem a seguir.

Não cheguei a essas conclusões da noite pro dia. Passei dias pensando, noites em claro aflita, o frio na barriga beirando o insuportável. Eu já deixei de fazer coisas para as quais estava preparadíssima por pura insegurança. Eu já dei pra traz e desisti de projetos que poderiam ter sido excelentes pra mim a longo prazo. Com tudo, como disse acima, ganhei experiência. Hoje sei onde piso e onde não piso, e consigo aproveitar o frio na barriga como motivador, e não como um impedimento para seguir em frente.

Com esse textão de abertura, seguem abaixo alguns pensamentos que acumulei nos últimos anos, sobre como lidar com o frio na barriga e abraçar os desafios de peito aberto:

Mantenha-se curioso

A curiosidade move o mundo, e repito isso sempre (pra mim, especialmente. Quase um mantra! haha). Se manter curioso é estar aberto ao novo, é enxergar a possibilidade de aprendizado em cada oportunidade, é continuar pesquisando e aprendendo e acumulando conhecimento. Mantenha sempre viva a curiosidade pelo mundo e, especialmente, pelos assuntos que te interessam!

Liste os prós e contras

Quem me conhece sabe que sou uma amante incondicional de listas! haha Elas me ajudam a organizar os pensamentos e pesar todos os lados das situações. Se você está em dúvida sobre um projeto ou ideia, liste cuidadosamente os prós e contras a curto e a longo prazo. Releia a lista quantas vezes for preciso, destrinche cada tópico e veja qual lado pesa mais no final. Quando queremos verdadeiramente alguma coisa, a lista de prós acaba ficando maior. Muitas vezes eu nem me dou conta do quanto quero participar de algo até olhar minha listinha. A resposta já existe aí dentro, basta dar vazão e ela aparece! ♥

Mantenha pessoas positivas por perto

Todo mundo tem (ou, com sorte, já teve e se livrou hehe) por perto uma pessoa meio negativa, meio baixo astral, que só sabe diminuir os esforços e projetos alheios. Às vezes nem é nada grave, mas vem uma frase ou comentário que reforça nossas inseguranças e acaba nos fazendo desistir. Não acredito que as pessoas façam por mal, mas nem todo mundo está preparado para lidar com alguns tipos de questão. Se eu desse ouvidos a essas pessoas, não teria feito metade do que fiz. Por sorte, tenho gente muito positiva por perto! Gente que me motiva, que não me deixa desistir e que abraça comigo meus projetos, por mais insanos que possam parecer a princípio.

Se cerque de gente positiva, alto astral, tão ou mais motivada que você. Dizem que somos o resultado das cinco pessoas com as quais mais convivemos. Se certifique de que os mais chegados te coloquem pra cima, mas não deixem de criticar o que realmente merece crítica. Assim como apoio incondicional é essencial, crítica construtiva também é. Resta saber diferenciar as coisas e não deixar a peteca cair.

Vá, mesmo com medo!

Esse é o melhor conselho que posso passar adiante. Minha mãe me ensinou isso desde criança, e ainda assim demorei muito pra alcançar e compreender. Ir, mesmo com medo. Fazer, mesmo com as mãos tremendo de nervoso. Falar, mesmo quando a garganta fecha e parece que vou morrer sufocada. Me arrependo somente do que não fiz: o que fiz tenho um orgulho danado!

Se o que você está fazendo importa, o medo vai estar sempre presente, e esse é o ponto do início do texto: só se aprende na prática, fazendo, indo adiante. Seguir em frente com o frio na barriga é o melhor que podemos fazer. E no final, se tivermos sorte, conseguimos olhar pra trás e perceber que tudo valeu a pena.

Então respire fundo, dê o primeiro passo e esqueça a ideia de erro e acerto! Se tem amor na mistura, se tem paixão, se tem os olhos brilhando e o coração a mil, já está certo! Errado é deixar o medo dominar e se arrepender daquilo que não fizemos.

Uma semana iluminada e com muito frio-na-barriga-do-tipo-bom pra todos nós! ♥

O trabalho pode esperar

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Trabalhar de casa pode ser a melhor ou a pior experiência. Na minha primeira vez, foi a pior. Não conseguia me organizar e sentia que estava trabalhando todo o tempo. O computador fica no meu quarto, e isso só piorava tudo: ou eu estava assistindo série na metade do dia e trabalhando até as 2h da matina pra compensar, ou começava a trabalhar cedinho, produzia muito e ainda assim ia dormir as 2h da matina sem entender o que tinha acontecido com meu dia. O que fiz de errado? Muito simples: faltou organização. Eu cumpria todos os prazos, entregava além do esperado, meu trabalho não foi prejudicado. Minha vida e minha saúde, em compensação, sofreram bastante. Eu passava dias sem comer, vivendo a base de café. Não conseguia ir a rua comprar comida porque sempre faltava tempo, e então quando comia eram miojos, macarrão, pão e essas coisas que – quando compõe a base da pirâmide – não ajudam em nada.

Agora, alguns anos depois, aqui estou eu de novo no famigerado home office. Um pouco mais velha, um pouco mais experiente, pronta pra tirar de letra, certo? Errado. Cair nos mesmos erros é muito fácil quando nos sentimos confiantes. Confiança sem atenção é ainda mais perigosa do que a falta de confiança, porque quando nos vemos caindo em erros conhecidos, nos sentimos ainda piores. Com tudo, tenho tentado estar atenta. Ontem a noite percebi que não tinha feito nenhuma refeição no dia, e me senti muito mal. Parei pra me perguntar porque não estava vivendo a vida que acredito e que conseguia levar, em relação a alimentação. A resposta veio como um gatilho: não tenho tempo. Tenho trabalhado muito, e é muito difícil manter a atenção e parar de vez em quando. Me peguei dando as mesmas respostas que repetia à exaustão na vez anterior, e isso foi suficiente pro meu pavor ser despertado e eu acordar hoje atenta, muito muito atenta.

Saí de manhã cedo e fui caminhando até a feira. Um percurso de uns 3km por trechos tranquilos e arborizados. Vi minha antiga escola, o botequim onde comprava sorvete de blue ice (alguém descobriu que sabor é esse afinal? haha), a loja de artigos religiosos que eu adorava zanzar quando era criança (sempre fui apaixonada pelo cheiro de defumadores, incensos e ervas ♥). Foi uma caminhada muito gostosa, que terminou com um caldo de cana bem gelado e uma porção de frutas e verduras na bolsa. Respirei fundo, o ar da manhã fresca de Jacarepaguá enchendo meus pulmões e me dizendo que tudo tem solução se mantivermos a calma. Eu não sou a mesma pessoa de alguns anos atrás. Eu não preciso cair nos mesmos erros, se consigo perceber os gatilhos e motivações.

Com tudo, fica o conselho, especialmente pra quem trabalha em casa (e pra quem usa essas mesmas desculpas pra si quando pede mais uma quentinha ou enche o prato no self service. Já fiz essas também rs): o trabalho pode esperar. A falta de tempo de que tanto falamos é na realidade falta de organização. Conheço pessoas ocupadíssimas e que ainda assim param todo domingo e cozinham pra semana inteira. O tempo que passamos distraídos no celular, vendo série no Netflix ou postando mais uma foto no insta pode ser utilizado de maneira muito melhor, seja acordando cedinho pra ir a feira ou passando no hortifruti depois do trabalho. Nosso corpo é uma máquina, e como tal precisa de manutenção. Se alimentar bem vai muito além de dietas ou questões estéticas! É uma forma de garantir uma vida mais feliz e equilibrada. Com organização e atenção o tempo rende mais, o trabalho flui melhor e nossa saúde agradece! ♥

A vida escreve certo por linhas tortas

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Estou aqui numa semana super corrida, mas várias coisas me bateram agora de manhã e precisei parar tudo e escrever este texto. A vida (ou Deus ou como quer que você queira chamar) escreve certo por linhas tortas. Ouço isso desde criança, mas nunca tinha encontrado aplicação prática na vida. Que as coisas dão errado sem mais nem menos, e que essas coisas erradas muitas vezes nos levam por caminhos maravilhosos eu já tinha entendido. Hoje pela primeira vez coloquei toda a minha trajetória em perspectiva e pude entender um pouco melhor as “linhas tortas” que me trouxeram até aqui.

Nunca entendi porque a vida e o trabalho funcionam como funcionam. Entendo teoricamente, aliás. Li, estudei e consigo compreender os mecanismos. Ainda assim, nunca entrou na minha cabeça que alguém pudesse simplesmente aceitar a forma como as coisas funcionam. Sendo assim – e tendo uma criação fora dos padrões, o que ajuda bastante rs – sempre corri atrás de fazer diferente. Não me formei quando deveria, não entrei no mercado de trabalho como quase todo mundo da minha classe social (nunca fui estagiária de coisa alguma haha), nunca quis trabalhar (e nunca trabalhei) em empresa grande. Minha carreira foi até aqui uma sequência de escolhas acertadas e um pouco de sorte. Mesmo feliz, vira e mexe bate um incômodo por dentro, como se eu devesse ter feito como todo mundo. Quando isso acontece, procuro buscar as razões, destrinchar, pensar e repensar até chegar a uma conclusão.

A conclusão do dia foi que eu tenho exatamente a vida que queria ter quando era adolescente. Em essência, alcancei tudo que buscava. Sempre achei bonito, por exemplo, que as profissões antigamente eram passadas de mestre pra aprendiz. No auge dos meus 20 e poucos anos conheci a Dilma, uma arte-finalista das antigas que não só me ensinou como mexer nos programas de edição de imagem, mas me contava também uma porção de histórias sobre as gráficas onde trabalhou, e sobre como a profissão dela funcionava antes dos computadores. Tenho pensado muito nela, e mando sempre vibrações positivas e ondas de gratidão na sua direção! ♥

Eu queria, quando jovem, ter uma porção de profissões e ofícios diferentes. Agora, com quase 30, encho a boca pra falar que sou designer, web designer, redatora, artesã, escritora, artista visual e o que mais eu aprender pelo caminho. Ao longo dos anos fui construindo essa pessoa que sou, e tenho muito orgulho dela. Trabalho de casa, outra coisa que sempre quis, e recebo constantemente elogios sobre as coisas que faço.

O que quero dizer com isso tudo? Muito mais do que puxar a sardinha pro meu lado, o ponto todo é: enquanto essas coisas aconteciam, enquanto eu construía essa pessoa e agarrava com unhas e dentes todas as oportunidades, eu não percebi estar fazendo isso. Sofri, penei, me ferrei. Passei por uma porção de perrengues, mas alguma coisinha lá no fundo me fez nunca desistir. A vida escreve certo por linhas tortas. Mesmo quando tiramos os olhos do objetivo final, ele permanece por dentro, e sem perceber vamos caminhando pra esse objetivo. É importante, de tempos em tempos, parar e analisar a vida inteira. Não com os olhos julgadores que costumeiramente reservamos a nós mesmos, mas olhar de fora. Pensar como se sentiria nosso eu adolescente, nosso eu criança, em relação a vida que levamos agora. De todas as pessoas que fazem parte do meu cotidiano, a mini-Dandara interior é quem mais me motiva a seguir em frente.

Busque por dentro: quem era você quando criança? E quando adolescente? Quais eram as suas coisas favoritas na vida? O que você queria ser quando crescer? Isso ainda mora aí, de alguma forma. E é essa pessoa que você não pode decepcionar. Tenho certeza que, da forma que for, ela se orgulha de você, independentemente de qualquer caminho torto ou escolha aparentemente errada. Não sabemos o dia de amanhã, e é aí que mora toda a beleza. Uma curva errada pode parecer só uma curva errada, mas pode ser exatamente essa a virada em direção a um caminho melhor. Então respire fundo, coloque as coisas em perspectiva e siga caminhando. Dar passinhos pequenos vai ser sempre infinitamente melhor do que ficar parado. 🙂

Adeus ano velho, feliz ano novo

Todo final de ano fico meio sentimental. Junta a saudade dos que partiram com a ansiedade pelo ano que se inicia, um turbilhão de coisas e eu fico me sentindo muito sem energia. Na última semana do ano passado eu só fiz dormir. Acordava, bebia água, dormia de novo. Era um sono sem precedentes, uma coisa incontrolável. Fiquei chateada com o tempo nublado, pois planejava dar muitos passeios durante o recesso, mas que se há de fazer? Vai ver era tudo um grande esquema pra me convencer de que eu precisava mesmo era dormir. rs

Ano novo – a virada, em si – é uma coisa que normalmente dá errado pra mim. De 2016 pra 2017 tive uma infecção intestinal bizarra que começou as 22h do dia 31 de Dezembro. Parece história, mas é real. Passei a primeira semana do ano de cama, com febre, botando pra fora tudo que comia e bebia. Nem deu pra ter aquela sensação de mudança de ano e energias renovadas. Do ano passado pra agora, uma amiga de uma amiga que foi passar lá em casa passou mal, caiu no meu banheiro, machucou o joelho. Caos total, preocupação, correria. Íamos tocar e acabamos não conseguindo fazer nada. Fiquei com a sensação de que o segredo é ficar na minha e não convidar ninguém. Nos anos anteriores eu sempre ficava meio melancólica, mas nada de exatamente ruim acontecia. Fica aqui a nota mental pro final desse ano: família e só. Se possível, sozinha comendo um monte de coisa boa e vendo filme. Eu na realidade não ligo pro que faço na data, percebo agora. A única coisa que eu nunca quero mesmo é passar perrengue (por isso mesmo não saio de casa nem no dia 31, nem no dia 1º rs).

Com tudo, estou animada com esse ano. Não mais que o nível de animação normal das pessoas meio apáticas feito eu, mas mais do que ano passado. Procuro ser uma otimista consciente e continuar levando e correndo atrás. Não acredito muito em destino ou coisa do tipo, acredito em trabalho, em foco, em concentração. Se eu fosse acreditar em sorte, já teria desistido da vida faz tempo, porque isso é uma coisa que eu definitivamente não tenho. Sendo assim, talvez o maior aprendizado do ano passado tenha sido não correr. Não correr com o tempo, com as decisões, com nada. Manter as coisas no meu ritmo e ignorar o ritmo do mundo. Tudo tem funcionado muito melhor pra mim desde que comecei a agir assim.

Pra finalizar, deixo aqui uma das minhas músicas favoritas de ano novo:
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=PiZ1sMkspJQ?rel=0&controls=0&showinfo=0&w=800&h=400]

4 tipos de pessoa para evitar na vida

Sem introdução, uma lista que vai direto ao ponto (pra variar):

1 – A pessoa que só te quer da forma que ela quer

Todo mundo já teve experiência com gente assim. Pode ser amigo, namorado, parente. A pessoa forma uma imagem mental sua e não aceita mudanças ou, pior, ela espera que você seja de uma determinada forma e não te enxerga pelo que você realmente é. É como se no filme da vida, esse tipo de gente te quisesse sempre como melhor amiga, nunca como protagonista. Sabe? Aquele tipo clássico de filme em que a mocinha tem uma melhor amiga meio esquisita, sem história de fundo e sem grandes reviravoltas? Fuja dessas pessoas. Você é dona da sua história, a personagem principal. Não mantenha por perto quem te faz sentir saco de pancadas, desimportante ou não liga pro que você diz.

2 – O amigo de ocasião

Existe uma ideia que rola pela internet de que amigo de verdade é aquele que está por perto quando você está no auge, porque só quem te ama de verdade suporta te ver bem. Não sei quem inventou essa história, mas é a maior furada, especialmente no estado em que as coisas estão agora. A realidade é o que se dizia antes: amigo é quem está com você nos piores momentos. Quem já passou por depressão ou qualquer coisa relacionada talvez entenda isso melhor. A partir do momento em que você está tão mal que não consegue lidar, as pessoas somem. Você passa a ser o amigo bad vibe, o estranho do rolê, a energia negativa. Quando estamos bem, todo mundo se mantém próximo. Não caia nessa ideia de que amigo é quem está com você no auge. Nem que seja por algum sentimento errado, no auge todo mundo está lá.

3 – O pseudo sábio sem empatia

Esse é um dos tipos de pessoa que mais me incomoda. A pessoa que por alguma razão acha que é muito experiente e sábia, e não consegue ter empatia pelo que você diz ou passa. Você conta as coisas e a reação é vir com aqueles conselhos enlatados, como se todas as pessoas passassem pelas coisas da mesma maneira. O pior? Quando você não ouve o conselho a pessoa se afasta, afinal, ela sabe muito mais da vida do que você. Amigo é quem respeita as suas escolhas mesmo que não concorde com elas. Um “”amigo”” que some quando você não faz o que ele quer e parece reaparecer só pra dizer “eu avisei” não é amigo, é só mais um encosto.

4 – O egocêntrico

Tudo, absolutamente tudo é sempre sobre ele. Você está mal? Ele está pior. Você está bem? Ele está melhor? Você teve uma ideia? Ele teve uma ideia muito mais genial e precisa te cortar na metade pra dizer. Gente egocêntrica vive tão ocupada em ser o centro de tudo que costumeiramente não percebe ser assim. Aí a gente se sente mal quando tenta se afastar e acaba voltando, só pra passar por tudo de novo. Fuja desse ciclo a toda velocidade. Quem vive numa egotrip vai continuar viajando no egocentrismo – percebendo ou não – e nunca vai ter espaço pra empatia, pra ouvir, pra incluir. No final, o maluco ainda é você.


 

Sou muito grata por algumas pessoas da minha vida, muito. Em outros momentos, sobre algumas outras pessoas, eu só consigo me perguntar: porque não afastei elas antes? É difícil enxergar nossos próprios padrões de comportamento, e o que nos atrai pras pessoas, mas vale o esforço, especialmente pra quem é muito sensível as energias do entorno, ou sente o mundo de forma não convencional. Quebrar esses ciclos pode fazer toda a diferença. Dói, as vezes, mas é tão necessário que dá um alívio indescritível depois que passa.

Eu só queria que a gente pudesse enxergar esse alívio quando estamos passando pelo ápice da dor.

Pela lógica do Facebook, quem é protegido do discurso de ódio?

Recebi este texto da Wired no Telegram, e como achei bem mais completo e explicado do que vejo sendo dito sobre o assunto por aqui, resolvi traduzir. Pra quem quiser ver o original, clica aqui. O texto é de janeiro, e desde então eles em teoria estão tentando mudar, como podemos ver nessa matéria do TecMundo. Se é verdade? Não sei, mas é interessante saber como funciona, e ficar de olho nas evoluções – ou supostas evoluções – dessa questão. Sem mais delongas, lá vai:

Por meses as empresas de social media tem batido cabeça, pensando sobre como minimizar ou erradicar o discurso de ódio em suas plataformas. O YouTube tem trabalhado para garantir que anúncios não apareçam em vídeos de ódio. O Instagram tem usado sua AI para deletar comentários desagradáveis. No início dessa semana, a ProPublica divulgou os materiais internos de treinamento que o Facebook dá para os gerentes de conteúdo que moderam comentários e postagens na plataforma, sobre como calcular o que é e o que não é discurso de ódio.

De acordo com a reportagem, as regras usam uma lógica deliberada, se não estranha, para determinar como proteger certas classes de pessoas do discurso de ódio, enquanto não proteger outras. A ProPublica mostra um exemplo específico retirado deste material: as regras do Facebook determinam que “homem branco” é uma classe protegida, enquanto “criança negra” não é.

Como as regras funcionam

De acordo com as regras do Facebook, existem categorias protegidas – como sexo, identidade de gênero e religião – e categorias não protegidas – como classe social, ocupação, aparência e idade. Se o discurso se refere ao primeiro grupo, é discurso de ódio; se se refere ao segundo, não é. Então, “nós devemos matar todos os muçulmanos” é discurso de ódio. “Nós devemos matar todas as pessoas pobres” não é.

Essa separação binária pode deixar certas pessoas desconfortáveis, mas é quando classes protegidas e não protegidas são unidas em uma frase – uma categoria composta – que as políticas do Facebook se tornam mais estranhas. A lógica do Facebook diz o seguinte:

Categoria protegida + Categoria protegida = Categoria protegida.

Categoria protegida + Categoria não protegida = Não protegida.

Para ilustrar isso, o material de treinamento dá três exemplos – “homem branco”, “mulheres motoristas” e “criança negra” – e afirma que somente a primeira das três é protegida do discurso de ódio. Sim, a resposta é “homem branco”. Porque? Porque “homem” + “branco” = classe protegida + classe protegida, e assim, a classe resultante é de pessoas protegidas. Contraintuitivamente, como “negra” (uma classe protegida) modifica “criança” (uma classe não protegida”, este grupo resulta em uma classe não protegida.

Matemática + linguagem = sombrio

Em matemática, esse tipo de lógica de regras é chamado de lógica simbólica, e tem regras compreensíveis. A disciplina de lógica baseada em palavras foi criada no século XIX pelo matemático George Boole, e desde então se tornou essencial para o desenvolvimento de tudo, desde processadores de computador a linguística. Mas você não precisa ter um PhD em lógica ou filosofia da linguagem para reconhecer quando regras básicas estão sendo violadas. “Onde os engenheiros do Facebook tiveram aula de matemática? Membros do subconjunto C do conjunto A ainda são membros de A”, tweetou Chanda Prescod-Weinstein, uma astrofísica da Universidade de Washington.

Filósofos da linguagem pensam muito sobre como modificar uma categoria muda a lógica de uma frase. As vezes quando você tem uma palavra de uma categoria – como pessoas brancas – e você substitui ela por um subconjunto da mesma categoria – como assassinos brancos – a lógica não segue. As vezes segue. Por exemplo, pegue a frase “Todos os pássaros tem penas” e substitua por “Todos os pássaros brancos tem penas”. A segunda frase ainda faz sentido lógico e é uma boa dedução. Mas pegue “Alguns pássaros gostam de néctar” e substitua por “Alguns pássaros brancos gostam de néctar”, e isso pode não ser mais verdade – talvez somente pássaros verdes gostem de néctar. É uma dedução ruim.

As regras do Facebook parecem assumir que sempre que uma categoria protegida é modificada por uma categoria não protegida, a conclusão é ruim. Então só porque “pessoa negra” é uma classe protegida, ele não compreende explicitamente que “criança negra” seja uma classe protegida, mesmo que qualquer pessoa olhando o exemplo seja capaz de dizer que “criança negra” é um subconjunto de “pessoa negra”.

O fato é, não existe modo de saber sistematicamente se repor uma categoria com uma subcategoria vai levar a uma inferência/conclusão boa ou ruim. “Você precisa conectar os diferentes exemplos”, diz Matt Teichman, um filósofo da linguagem da Universidade de Chicago. “Você precisa observar a complexidade do que está acontecendo para saber com certeza.”

Teichman fala sobre um exemplo que pode dar suporte ao algoritmo do Facebook: todos os assassinos brancos devem morrer. “Toda vez que eu me deparo com políticas malucas como estas eu tento pensar, existe alguma maneira concebível de justificar isso?”, ele diz. O subconjunto “assassinos” é, na maioria dos casos, ruim. Então talvez faça sentido ser possível direcionar discurso de ódio a eles. Mas a raça de um assassino é – ou ao menos deveria ser – completamente irrelevante para a ruindade, e incluir raça nessa opinião parece, na melhor das hipóteses, problemático.

Saber as regras muda o jogo

Agora que as pessoas sabem quais são as regras do Facebook, existem várias maneiras de quebrá-las. Por exemplo, se alguém usa o termo “Muçulmanos radicais” no facebook, isso não é discurso de ódio (o modificador “radical” torna a categoria não protegida). Apenas adicionando um modificador a uma classe protegida, uma pessoa pode perpetuar um estereótipo e diminuir uma subcategoria enquanto persegue um grupo inteiro de pessoas, tudo isso sem quebrar as regras do Facebook.

“Existe uma diferença legal interessante entre significado literal e significado implícito. Você pode ser responsabilizado pelo que diz literalmente, mas muitas vezes você pode meio que se esquivar de ser realmente responsável pelo que apenas deixou implícito”, diz Teichman.

Seguir as regras pode rapidamente se tornar um exercício do absurdo. Alguém pode modificar uma categoria protegida de modo que inclua mais e mais pessoas daquele grupo. Por exemplo, dizer “crianças negras não devem ser permitidas na nossa cidade” versus “Adultos negros não devem ser permitidos na nossa cidade”. Escrevendo o último, é possível perpetuar o discurso de ódio que inclui a comunidade negra inteira – sem quebrar as regras do Facebook. E o jogo das regras não termina aí. Apenas modificando o nome de um grupo protegido com uma descrição de aparência – “feio”, “gordo” – é possível adicionar insultos as ofensas já degradantes.

Olhando as regras como um todo, o ProPublica diz que o Facebook desenvolveu as regras em reação a reclamações específicas, como de governos e usuários. Em um ponto, as regras eram abertas, incluindo uma regra geral que dizia “Remova qualquer coisa que faça você se sentir desconfortável”, diz Dave Willner, um ex-empregado do Facebook, na reportagem do ProPublica. Wilner revisou as regras atuais para as tornar mais rigorosas. O resultado, Teichman diz, parece ser uma colcha de retalhos construída não a partir de uma determinação ética forte, mas ao invés disso, um remendo feito a esmo com o passar do tempo. “As categorias viram essa confusão quando são o resultado da mistura das reclamações que as pessoas fazem”, diz Teichman.

Quando perguntado sobre sua posição em relação a essas questões, o Facebook direcionou a WIRED a uma declaração sobre discurso de ódio lançada no dia anterior a reportagem do ProPublica. As intenções do Facebook são ser “uma plataforma aberta a todas as ideias”, de acordo com a declaração.

Algumas pessoas veem essas regras sob uma luz mais obscura – de que esta política pretende proteger as pessoas o mínimo possível. “Talvez o que eles estejam tentando fazer com essa regra seja permitir um pouco de discurso problemático, para que os usuários que querem se engajar com isso usem seu site”, Teichman diz.

Em última análise, as regras do Facebook não representam a sutileza da linguagem ou as nuances dos problemas históricos e sociais que motivaram a criação das categorias. “De um lado você tem que amar a elegância de uma política que explicitamente protege homens brancos e não crianças negras, porque isso é exatamente o que estudiosos de raça e desigualdade argumentam que políticas que não levam raça em consideração fazem”, tweetou Tressie McMillan Cottom, uma socióloga da Virginia Commonwealth University. “Mas do outro lado isso é deprimente, porque significa que dezenas, senão centenas de pessoas viram este enquadramento e acharam que era perfeitamente bom. Eles pensaram que isso era legal E inteligente.”

Alguns pensam que discurso de ódio, como pornografia, não pode ser sistematicamente definido. Ao invés disso, como o juiz da suprema corte Potter Stewrt escreveu sobre pornografia em Jacobelliz v. Ohio, “Eu sei o que é quando vejo”. E é aí que o viés mostra sua cara feia, especialmente neste momento em que a inteligência artifical é treinada pelos mesmos moderadores de conteúdo humanos que ela é destinada a substituir. Não é que os moderadores fossem perfeitos, mas uma AI, como o DeepText lançado recentemente pelo Instagram para eliminar comentários maldosos, provavelmente contém os mesmos princípios lógicos e estruturas de poder incorporadas, sem ver, nas decisões que faz.