Como sobreviver (e aproveitar) eventos sendo tímida

Alô alô galere! Tudo bem com vocês? 😀

Ontem fui a um evento super incrível aqui no Rio, o Mana Pirata. Revi algumas meninas maravilhosas que conheci no Django Girls – outro evento incrível – e conheci mais outras. Tudo muito lindo e enriquecedor, pelo conhecimento compartilhado e pelas histórias de vida, militância, carreira e afins de todo mundo que falou. Pra quem não sabe, sou uma porta de timidez. Eu tremo e suo frio quando estou indo a algo novo, especialmente se envolve conversar com outras pessoas. Se deixar, fico quieta no meu cantinho só ouvindo, sem interagir.

De um tempo pra cá – e esse foi um processo que tomou mesmo um bom tempo – resolvi que era hora de sair da concha e participar também. São anos lutando com a timidez, e só no ano passado percebi que lutar era na realidade ruim e até um pouco inútil: sendo ela parte da minha personalidade, o melhor caminho com certeza não era aquele. Deste momento em diante, passei a abraçar a timidez, feito fosse ela uma amiga, e entender os mecanismos da minha cabeça. Como sei que muitas meninas e mulheres se sentem assim – seja pelas pressões sociais, síndrome do impostor ou qualquer outra questão – resolvi compartilhar essa lista. São soluções e caminhos com o selo de qualidade Dandara. Ele provavelmente não vale muito, mas é de coração. HAHA Lá vamos nós:

1 – Ir já é uma vitória

Não crie expectativas. Se você é tímida, provavelmente repassa quinhentas vezes na cabeça tudo que pretende fazer. A expectativa gera a decepção! Você pensa “hoje vou falar com várias pessoas”, e quando chega sente o peso do concreto nos pés e a fala engasgada. Já cansou de me acontecer. Eu simplesmente não conseguia interagir, daí me sentia mal e a um passo de uma crise de ansiedade. Viu algo que quer participar? Vá! Ir já é uma grande vitória pra quem é tímido. Pense que mesmo com medo você se arrumou, saiu de casa e chegou até lá. Qualquer coisa que vier depois é lucro. Aos pouquinhos você vai se conhecendo e se sentindo mais confortável pra interagir.

2 – Respeite seu tempo

Por falar em ficar confortável e se conhecer, respeite seu tempo! Nem todo mundo funciona igual, e a timidez é motivada por diferentes razões. De repente uma tímida pode conseguir falar e fazer mil amigas de primeira, enquanto outra precisa de um tempo maior pra se soltar. Quando a gente presta atenção nos nossos porquês, começa a conseguir impedir pensamentos negativos sobre si e sobre os outros antes que eles aconteçam. É um processo que demanda diferentes quantidades de tempo. Numa das primeiras vezes que falei em público eu tremia tanto que achei que ia morrer. Foi um pitch de um projeto meu pra uma banca avaliadora. Saí achando que nunca seria selecionada, e fui! Normalmente tudo de ruim que pensamos sobre nós e sobre nossa fala é mentira, acredite. Lógico que sempre podemos melhorar, mas melhorar no nosso ritmo é engrandecedor e maravilhoso!

3 – Se mova!

Em todo evento sempre chega a hora mais difícil pras tímidas: os coffee breaks! haha Meu conselho é: não fique parada! A partir do momento em que paramos, vai ficando mais difícil se mexer e interagir. Falo por experiência própria. Viu a mesa? Vá até ela. Tome uma água, um suco, coma alguma coisa. Observe o ambiente. Viu uma roda de conversa? Vá até ela! Minha cabeça sempre pensa “as pessoas vão me achar maluca e intrometida se eu for até lá e ficar olhando”. Sabe qual é a realidade? O momento é feito mesmo pra interagir, e ninguém está pensando isso. Além disso, a timidez nos coloca sempre no centro da vida, na nossa cabeça, e a verdade é que não somos. Você vai chegar na conversa e ela vai continuar, acredite. Chegou na conversa e acha que tem algo a acrescentar? Fale! As pessoas são muito mais receptivas do que pensamos a princípio.

4 – “Mas eu não consigo falar!”

Consegue sim! Pode ter certeza. E se não se sentir confortável ainda pra falar, observar é válido também. Lembre-se: não existem regras. Normalmente eventos geram grupos virtuais, e se você não se sente a vontade pra falar ao vivo, vale postar lá depois. Minha timidez virtual é sempre menor do que a “ao vivo”, e me expresso melhor escrevendo. Comente nos grupos, fale com as pessoas virtualmente, e no próximo você já chega conhecendo pessoas. Isso torna tudo muito mais confortável e as interações ficam muito mais fáceis.

5 – Todo mundo sente medo

Sabe aquela menina que fala super bem? E aquela outra que pegou o microfone e deu um show no discurso? Elas também sentem medo. Elas também com certeza ficaram nervosas antes de falar. Não sentir medo não existe! Todas nós fomos expostas a diferentes graus de machismo ao longo da vida, e tenho pra mim que ele é a essência de todos os medos e angústias femininos. O medo de se expor, de falar, de se colocar. A síndrome do impostor. A partir do momento que aceitamos que mesmo quem se coloca e fala bem sente medo, vamos ficamos mais tranquilas pra falar também. Como eu disse antes, são processos que demandam tempo e esforço. O medo vai sempre existir, o importante é não deixar ele vencer. 😉

6 – Ser tímida é ter mais empatia

Quando somos a pessoa do canto por muito tempo, nos tornamos mais empáticas. Se estou em algum evento e vejo uma menina sozinha no canto, vou direto falar com ela. Porque? Muito simples: eu me vejo nela. Eu consigo ter empatia e pensar que ela pode passar pelo mesmo que eu passo e passei. Ser tímida me tornou observadora a beça, e consciente de que sempre podemos ajudar alguém que também está aprendendo a vencer seus medos. De quebra ainda fazemos amigas pelo caminho! Observe também, sinta o ambiente. Quando você estiver num círculo e ver uma menina sozinha, chame ela pra participar. Antes que você perceba, nem lembra mais porque tinha medo. <3

Bom, é isso! A lista já virou textão e vou parando por aqui. Em resumo: se conheça, se aceite! Ao invés de focar na mudança, foque no processo. Os ambientes e eventos voltados pra mulheres são super acolhedores, acreditem! Participar fez uma diferença enorme na minha vida, e tem me ajudado muito a lidar com as minhas questões. Ser tímida faz parte da sua personalidade, mas não precisa definir a sua vida! No final das contas, devagar se vai ao longe, e cada uma sabe do seu tempo e da sua evolução. Se permita, se descubra e – acima de tudo – se ame pelo que você é, e não se martirize pelo que gostaria de ser!

Beijos e um excelente domingo a todos! :3

+Amor: diga algo bonito a quem você admira ♥

Falo muito sobre consumo por aqui (não tanto quanto gostaria rs), mas quase não tenho falado sobre amor. Hoje acordei me sentindo um potinho de apatia. Minha vontade honesta era não levantar da cama, colocar música pra tocar e esquecer da vida. Felizmente as responsabilidades chamam, então levantei e vim trabalhar. Digo “felizmente” porque acordar sabendo que independente do seu humor você tem coisas a fazer é uma benção. Todos temos, sempre, mas vira e mexe nos desconectamos e esquecemos disso. Vira e mexe tudo parece pesado demais pra lidar, e vai ficando difícil juntar forças.

Por essas e outras, esses dias decidi tentar algo novo. Ao invés de ir falar com alguém esperando que falar fosse me deixar melhor, eu escolhi tentar deixar o dia das outras pessoas melhor. Acredito muito que recebemos de volta aquilo que emanamos, então por melhor que seja desabafar de vez em quando, não podemos transformar a vida nesse exercício da reclamação. Quando estiver se sentindo mal, escolha uma pessoa – nem precisa ser amigo, pode ser um conhecido mesmo – que você admira, e escreva pra ela. Diga porque admira, do que gosta, no que o que ela diz contribui pra sua vida. Escreva sem esperar resposta, só pra colocar algo bom pra fora. É engraçado ir percebendo que por pior que a gente se sinta, parar e pensar em coisas boas é engrandecedor e traz uma paz enorme ao coração.

Esse é um texto breve (se comparado ao que eu normalmente escrevo hehe), e o conselho é esse: diga algo bonito a alguém hoje. Pode ser ao vivo ou via internet. Pode ser um bilhete escrito também. Pode ser sua mãe, sua vizinha ou aquela conhecida que você adicionou no facebook e adora acompanhar. Pode ser até a desconhecida que você vê todo dia no ponto de ônibus e é louca de vontade de conversar, mas normalmente não tem coragem. Diga algo bonito sem esperar nada em troca, todo dia, pra uma porção de pessoas. Antes que você perceba, seu coração se encheu novamente de luz. Por mais cinza que esteja o dia, existe sempre espaço pra colorir.

Que a semana de vocês seja linda e multicolorida! <3

Começando

Fiquei bastante hesitante antes de começar este blog. Amo escrever e amo contar meus experimentos, mas sou uma pessoa essencialmente preguiçosa, e não sei se consigo levar por muito tempo. Em meio a uma quantidade talvez já grande demais de projetos, terminei resolvendo começar mais este. Espero que dê certo e que eu tenha a paciência necessária para manter um blog. Se não, ao menos documento algumas receitas pra Dandara do futuro encontrar e tentar de novo. hehe

Pra começar, vou contar o que me motiva a acordar todos os dias pensando “do que posso me livrar hoje?”:

Há algum tempo atrás, vi uma imagem que dizia que quando jogamos uma coisa fora, na realidade não estamos, pois não existe fora. Tudo continua circulando aqui dentro do nosso planetinha azul. Eu vou morrer e meus futuros filhos vão morrer e meus netos, até, e algumas destas coisas continuarão por aqui. Pensar nisso tudo em algum ponto pode não ter sido muito saudável (em resumo, fiquei meio paranoica HAHA). A gente começa a ficar maluco e pensando duas vezes antes de consumir qualquer coisa. Copo descartável, lata de refrigerante, guardanapo, só pra citar o básico. Passada a insanidade inicial e pensando com a cabeça fresca, bom, continuei insana, mas de maneira mais prática. Não tem como não ficar insano. Segundo dados de 2015, o Rio produz mais de um milhão de toneladas de lixo por ano. Só 3% do lixo produzido no Brasil é reciclado.

Pensando nisso tudo, comecei a me questionar sobre qual era a minha parte. O que eu posso fazer pra reduzir o mar de embalagens, papel, plástico e relacionados que é descartado todos os anos? Indo um pouco além, surgiram novos questionamentos. O que posso fazer para não compactuar com a sociedade de consumo? O que eu realmente gosto/quero/preciso, e o que é reflexo da mídia e do entorno exercendo seu poder sobre os meus desejos e pensamentos? Com tudo, resolvi começar um experimento. Aqui em casa já participamos do Desafio Lixo Zero, que visa diminuir a quantidade de resíduos e dar a destinação correta a eles, mas eu queria mais. Resolvi fazer uma lista de coisas que quero viver sem (e outras que já abandonei), e os motivos pelos quais. Eis o resultado:

  • Celular novo: além da questão ambiental, existe a questão social. Nossos celulares, computadores e eletrônicos em geral são produzidos por jovens chineses em condições grotescas de trabalho. Não é preciso pesquisar muito pra ler sobre isso, e você pode dar uma olhada na situação aqui. Não quero ficar sem telefone, mas me questionei o que eu poderia fazer para ao menos dar uma quebrada nesse ciclo. Resultado: só uso telefone de segunda mão. Não explodo o sistema, mas durmo mais tranquila por usar uma coisa que já estava no mundo.
  • Roupas novas: todos os anos temos contato com uma quantidade enorme de escândalos envolvendo trabalho escravo, condições precárias, pagamentos irrisórios, como não se importar com coisas como isso? Já não comprava roupa em lojas com frequência há anos e detesto shoppings, mas resolvi ir além e cortar completamente. Frequento brechós, bazares, faço algumas coisas e assim vou levando. Faço o mesmo com sapatos, e se não for de segunda mão, compro de produção artesanal. É maravilhoso ter contato com quem faz! <3
  • Cosméticos: sou apaixonada por cosméticos desde nova. Sempre gostei, na verdade, de observar os processos por trás de cada item, de pensar como funcionam cremes, shampoos e maquiagens. Depois de trabalhar alguns anos na indústria cosmética, cheguei a conclusão de que quero distância de todas essas coisas, mesmo dos produtos de marcas em que confio nas composições. O problema todo vai além: o que chega aos rios/lagos/relacionados, o que meu corpo absorve, o quanto as embalagens causam impacto no meio ambiente. Aqui em casa gastava uma garrafa de shampoo e uma de condicionador por mês. Isso significa que nos últimos 5 anos (sem contar outros produtos), descartei 120 embalagens vazias. Se eu continuasse, descartaria mais de mil embalagens até o final da minha vida. Adicione a isso embalagens de sabonete, creme hidratante, pasta de dente, creme de pentear e de hidratação, e o resultado é ainda mais alarmante. Aos poucos, estou cortando tudo, mas isso é assunto pra outro post.
  • Papel higiênico: quão bizarro é o costume de usar papel higiênico, certo? Certo? É sim, bastante bizarro. A gente desperdiça uma quantidade gigantesca de papel pra coisas que poderiam ser resolvidas com água, ou água e sabão. Além de ser bem mais higiênico, é também muito mais sustentável. Alguém pode vir com o argumento de “mas você deixa de usar papel pra gastar água, outro recurso”. Vá pesquisar sobre a quantidade de árvores, água e energia usados na produção de papel higiênico e depois a gente conversa. 😉
  • Supermercado: já dizia Zeca Baleiro que “lugar de ser feliz não é supermercado” e eu não poderia concordar mais. Eu abomino as grandes redes, e abomino mais ainda o que elas fazem com os preços. Diferente do que se possa acreditar (ou fomos levados a acreditar?), já faz tempo que os preços nos supermercados não saem mais em conta do que em mercadinhos e feiras de bairro. Houve um tempo em que a compra de produtos em larga escala fazia com que os preços fossem competitivos, mas hoje em dia isso não existe mais. Para além dos preços, não concordo com a forma com que eles descartam alimentos que poderiam ser consumidos, com os salários que pagam aos funcionários e com as jornadas absurdas de trabalho. É possível (bastante possível) encontrar formas de se alimentar que não envolvem compactuar com as grandes redes.
  • Descartáveis: andar com um copo na bolsa é muito fácil. É possível encontrar copinhos retráteis que mal ocupam espaço, então porque utilizar copos descartáveis? Além disso, aboli também os guardanapos. Comer com a mão é uma experiência incrível! Adicionamos mais um sentido ao momento da alimentação, e evitamos o desperdício de papel. Só vantagem!
  • Produtos de limpeza: água, limão, óleos essenciais e extratos glicólicos dão conta de praticamente qualquer coisa envolvendo limpeza. Produtos de limpeza envolvem químicos pesados que fazem mal a nossa pele, as superfícies (se pensarmos a longo prazo) e ao meio ambiente. Quando você lava um paninho de limpeza, todo aquele desinfetante cheiroso vai pra água. Se resseca a sua mão e é capaz de tirar gordura sem esforço, imagina o que faz com os animais?

Bom, pra começo de conversa, é isso! Ficou enorme, eu sei, mas quis definir alguns parâmetros da experiência. O intuito do blog é documentar os caminhos, receitas e substituições que fiz e pretendo fazer. Nenhum perrengue foi passado até agora, mas tenho certeza que aparecerão! hahaha. Espero que vocês leiam, comentem, se solidarizem com a minha loucura e experimentem também. Abrir mão do que crescemos acreditando ser certo e bom pro nosso corpo e pro planeta não é fácil, eu sei, mas a sensação no final do dia compensa. 😀