Pesquisas recentes apontam que as pessoas falham em mudar sua alimentação por um motivo muito simples: o foco é somente na mudança, na comida, e a saúde mental é deixada completamente de lado. Mais do que levar em consideração os processos que se desenvolvem na mente de quem está acima do peso (depressão, ansiedade, etc), a relação com a comida é também deixada completamente de lado. Em prol de um padrão que só serve para frustrar e abalar a autoestima, a cada ano mais pessoas são levadas a dietas mirabolantes, regimes impossíveis de exercícios e metas inalcançáveis a curto prazo. Mais do que isso, as pesquisas apontam também que a chance de abandonar uma mudança brusca rapidamente e voltar aos hábitos anteriores é muito grande, especialmente sem essa camada da saúde mental, imprescindível para uma mudança duradoura. Muitas pessoas chegam, inclusive, a adotar hábitos ainda piores, se sentindo frustradas e incapazes de viver uma vida mais saudável.
Pensando nisso, e na minha própria relação com a comida, resolvi listar alguns tópicos que me ajudaram muito ao longo dos anos. Para quem aí não sabe, sofri com distúrbios alimentares na adolescência, problemas que até hoje me atrapalham em questões relacionadas a autoimagem. O trabalho até aqui não foi fácil, mas a partir do momento que enxerguei as coisas como processos gradativos, tudo ficou um pouco mais fácil. Como gosto de repetir sempre, o importante é dar um passinho de cada vez, com consciência e foco. Tendo a motivação correta e tirando o peso da frustração, somos capazes de promover grandes revoluções na nossa vida. Vamos lá!
1 – O que você come?
Como é a sua alimentação hoje? Quantos destes alimentos você escolhe ativamente comer, e quantos são fruto de hábitos ou costumes antigos? Você dá prioridade para coisas mais naturais, ou se alimenta prioritariamente de alimentos processados e industrializados? Observar o que comemos é muito importante para estabelecer o gostaríamos de comer. Um exercício que eu adoro é dividir as comidas em felizes e tristes. Para definir a qual grupo cada coisa pertence, uso perguntas como as seguintes:
- Esta comida é feita por máquinas ou por humanos?
- Ao entrar no meu corpo, isso vai fazer bem ou mal ao seu funcionamento?
- Esta comida me deixa plenamente feliz, ou me sinto mal (fisica ou psicologicamente) ao consumir?
Uma comida feliz é aquela que alimenta o corpo e a mente. Um prato bonito e colorido, o pão quentinho da padaria, uma fruta ou uma salada com meus vegetais favoritos. Uma comida triste é aquela que não alimenta, dando somente o prazer momentâneo. Entram aqui os refrigerantes, biscoitos recheados, frituras e comidas industrializadas de maneira geral. É gostoso? Definitivamente, mas para por aí. Se a comida não causa nada além do prazer que experimentamos quando comemos, então é triste. Pode parecer feliz, no momento, mas o peso que ela traz (e digo peso psicológico, não físico) não compensa.
Fazendo essa divisão, conseguimos entender em que pé está a nossa alimentação no momento, e se andamos consumindo mais alimentos tristes ou felizes. Com essa base, conseguimos estabelecer metas possíveis e, mais do que isso, tornar nossa alimentação o que deve ser: uma coisa boa, positiva, feliz, que nos dá energia para desempenhar as tarefas do dia-a-dia e nos torna mais alegres e dispostos. Com isso em mente, seguimos para a próxima pergunta. 🙂
2 – Porque você come?
Qual é a principal função da alimentação no presente momento? Você come pelo prazer momentâneo, ou mantém o foco no panorama completo? Você faz as refeições com horários estabelecidos, ou faz uma porção de lanchinhos ao longo do dia? Você come por compulsão? Para afogar as mágoas? Para entender nossa relação com a comida e como podemos melhorar, é importante entender porque comemos o que comemos, e partir disso para construir hábitos que se encaixem na nossa rotina e façam sentido para a vida que levamos (e que queremos levar).
Ao longo do ano retrasado, estava me recuperando de uma depressão. Passei os primeiros meses do ano sem apetite, sem sentir o gosto de nada, e quando o apetite voltou, comi tudo que tive vontade. Não me culpo por isso, pois minha mente estava se recuperando. Engordei uns 30kg ao longo dos meses, e fui aos pouquinhos parando de fazer exercícios. No final do ano, me sentia inchada, triste, sedentária e sem energia. A dificuldade para percorrer a pé percursos que antes eram fáceis me fez despertar: o problema não era comer. O problema era o que, como e porque eu estava comendo, e o quanto isso estava influenciando o restante da minha vida. Para sair desse ciclo – que sei ser muito comum para a maioria das pessoas – investi numa mudança de perspectiva. Foi aí que comecei a dar preferência aos alimentos felizes, comecei a aumentar um pouquinho o percurso a pé todos os dias e me desafiar constantemente. Algumas perguntas:
- Porque você consumiu sua última refeição? Pense seriamente sobre o que estava no prato e porque este alimento chegou lá.
- O que a comida representa na sua vida? Você come para ter energia, ou desconta tristezas e frustrações na comida?
- Como é a relação da sua família com a alimentação? Como eram seus hábitos na infância, e o que disso você traz para a vida adulta?
3 – Como você come?
A hora da refeição é sagrada para você? Você come em um ambiente tranquilo, com foco na mastigação e intenções positivas sobre a comida? Ou anda almoçando com o celular na mão, ou enquanto faz outras atividades? Pode parecer papo de gente new-age-good-vibes, mas faz toda a diferença quando queremos mudar nossos hábitos. Existem incontáveis histórias de gente que entra em dietas muito restritivas ou mirabolantes, e assalta a geladeira compulsivamente no meio da noite. A maioria das pessoas come muito mais do que precisa, por comer rápido demais e não dar tempo ao organismo de se sentir saciado e processar o que foi consumido.
Como comemos diz muito sobre nosso momento atual. Comer é prazeroso mesmo, e o importante é não tirar o prazer, mas mudar o foco. Se normalmente o prazer mora em comer muitos doces ou salgadinhos, ou sentar e bater um pratão cheio de batata frita, não pense que não é possível sentir o mesmo com um monte de legumes ou frutas. Comer bem é um ato de amor próprio, nos dá força e confiança para continuar. Sem restrições extremas, sem dietas absurdas, mas com consciência real do que vai no prato e de como nos alimentamos. As perguntas deste item são:
- Quanto tempo você dispõe para cada refeição?
- Você come quando sente fome, ou se guia somente pelos horários?
- Você costuma mastigar muito rápido? Se sente pesado e desmotivado ao final das refeições, ou cheio de energia?
Algumas dicas para ajudar
Agora que expliquei as três perguntas (o que, como e porque), é hora de analisar os resultados. Se as respostas foram prioritariamente negativas e se você de alguma forma chegou a este texto, é porque sabe que a hora de promover mudanças é agora! Independente de qual for o seu foco (emagrecer, ser mais saudável, se alimentar melhor) ou em que parte do caminho você esteja, tenha em mente que a revolução não está somente no que é consumido, mas numa abordagem mais holística, que envolve o como e o porque. Estas perguntas são preciosas para analisarmos nosso estado mental e conseguir estipular rituais que possam realmente ser seguidos, sem ansiedade e sem peso, tendo em mente que uma mudança lenta é muito melhor do que mudança nenhuma. Com isso tudo na caixola, vamos ao que interessa!
Cozinhe com atenção e amor
Sempre que possível, cozinhe alguma coisa com atenção plena! Para quem já tem o costume de cozinhar, a ideia é tirar a vibe automática da ação, cozinhando com consciência e atenção. Coloque amor na comida, intenções positivas, pense porque aquilo te alimenta e no que te ajuda no dia. Para quem não tem o costume, a internet está recheada de receitas e vídeos para todos os níveis de conhecimento. Que tal transformar isso em um ritual? Pode ser um super almoço todo final de semana, ou o preparo das marmitas da semana no domingo. Coloque intenção, vontade, foco e amor em tudo que fizer (mesmo que seja só descascar uma maçã haha).
Diminua o tamanho do prato
Acha que come demais? Diminua o prato! Parece bobo, né, mas faz toda a diferença. Ao colocar a comida em pratos gradativamente menores (“gradativo” é a palavra, nada de sair de um prato fundo para um de sobremesa no dia seguinte :P), vamos tomando consciência do que nos deixa saciados, sem exageros desnecessários.
Pesquise sobre o que você come
A internet é uma ferramenta maravilhosa, que pode ajudar muito a mudar a alimentação. Comprou um legume ou tempero? Pesquise seus benefícios, quais vitaminas ele possui e no que ele ajuda seu corpo. Comprou um biscoito? Faça o mesmo! Pesquise os ingredientes e para o que cada um deles serve. Tornando esta busca um hábito, você aprende muito sobre a função de cada alimento, e sobre o que pode te ajudar em problemas específicos (um chazinho calmante antes de dormir, uma vitamina que dá muita energia de manhã e por aí vai).
Medite antes das refeições
Esta é especial para quem sofre com a compulsão, come rápido demais ou não consegue manter a atenção na comida. Feche os olhos por alguns minutos e foque na sua respiração. Almoça com a galera do trabalho? Não tem problema, o banheiro está aí para nos dar privacidade! hahahaha
Faça substituições inteligentes
É apaixonado por chocolate? Não precisa abrir mão! Quando retiramos bruscamente da rotina algo que gostamos muito – seja pela razão que for – a chance de voltar é muito maior. Então procure chocolates com mais cacau, barrinhas menores e por aí vai. É possível encontrar versões mais saudáveis – e tão saborosas quanto – de todos os alimentos. Pesquise, se divirta, experimente e encontre o que mais combina com você.
Foque nos alimentos naturais
Se alimentar de frutas, legumes, verduras e grãos é muito mais barato do que acreditamos. Tire da cabeça essa ideia de que se alimentar de maneira saudável é caro! A natureza nos dá tudo que precisamos, por um valor muito menor do que a indústria. Encontre uma feira perto de casa, ou um hortifruti com bons preços, e vá ser feliz. Foi a feira e comprou uma porção de coisas felizes? Então vai comer um pastel com caldo de cana pra fechar! “Mas como assim, pastel? Pastel é fritura!”. Sim, é! E não tem problema nenhum consumir de vez em quando. Não é sobre cortar tudo, é sobre ter mais consciência. Isso inclui vez ou outra comer um pastel de feira ou aquela pizza que você ama. Com o tempo vamos nos adaptando e entendendo a função e o momento para cada coisa! No mais, o pastel foi feito por humanos (mais um pontinho! haha) e o caldo de cana tem uma porção de benefícios para a saúde (olha aí uma ótima oportunidade de pesquisar!).
Com paciência e amor conseguimos construir uma relação muito melhor com a comida. Se perdoe, tire o peso, crie boas motivações e perceba sua evolução com o passar do tempo. Não vale se frustrar! Se alguma coisa não deu certo, tente encontrar outro esquema que funcione. É pra ser divertido e prazeroso, não derrubacional! haha E aí, qual vai ser o primeiro passinho? 🙂