A 1ª selfie do ano

Estando fora das redes sociais, não tirei nenhuma foto minha do início do ano até o dia de hoje. Quase metade do mês sem milhares de selfies que não seriam postadas. Quase metade do mês sem me sentir horrível nas fotos repetidas vezes e reparar em detalhes da minha imagem que ninguém mais veria. Isso tudo está nos deixando doentes. Abalando nossa autoestima, nossa autoconfiança. Esse desespero com a imagem, desespero de estar presente em tudo, de participar. Uma angústia que só nos torna mais distantes e ansiosos.

Mais do que tudo isso, quase metade do mês sem nenhuma mini crise de ansiedade. Sem o coração disparando e sem falta de ar e sem pressa. Eu fiz mais, li mais, escrevi mais, experimentei mais. Me sinto mais bonita e mais ativa. Saio de casa sem maquiagem, olho no espelho e me acho linda. Me acho eu. Me sinto uma pessoa completa e presente nos momentos, sem a distração de um feed infinito colocando gradativa e sutilmente coisas na minha cabeça. Quando estava lá, achava que era imune. Hoje vejo que mesmo não estando tão profundamente viciada quanto a maioria das pessoas que conheço, em algum grau me afetava sim negativamente. Me sinto muito melhor agora.

Por outro lado, essa experiência – como tudo na vida – também tem seu lado ruim. As pessoas passam mais de 4 horas do dia perdidas em redes sociais, mas me acusam de ser “extrema”. Extrema por não participar de algo que não quero? Extrema por fazer o que quero da minha vida e não tentar obrigar ninguém a fazer o mesmo? Não faz sentido pra mim. Outro ponto super ruim é o fato de que pessoas próximas passaram a agir como se eu não existisse. E eu fiquei triste por perceber que muitos dos assuntos que essas pessoas puxavam comigo tinham a ver com as redes sociais. “Viu o que tal pessoa fez?”, “viu o que eu postei?”, “viu o que eu te marquei?”. Muitos assuntos começavam assim. Não sei se por isso ou por qual outra coisa, é como se eu tivesse deixado de existir. Me sinto as vezes ligeiramente isolada, mas por outro lado parece haver um mundo inteiro de possibilidades e pessoas na mesma sintonia pra conhecer. As pessoas realmente próximas permanecem próximas, sem decepções, e isso é o que importa.

Fico bastante impressionada com a diferença que isso tem feito na minha vida, e talvez por isso esteja dedicando um segundo texto pra falar sobre. Recomendo a todos a experiência, do fundo do coração. Não se deixe ser engolido pelo mar de ansiedade que a internet está se tornando. Não deixe eles lucrarem as custas da sua sanidade e do seu bem estar. Existe um mundo enorme e maravilhoso fora disso tudo.

Pra finalizar – especialmente pra quem insiste em querer me convencer de que o Facebook ajuda a criar conexões reais – deixo aqui algumas provocações:

  • Faça uma lista com três pessoas com as quais você tenha se conectado profundamente – mente, corpo e alma – somente por causa do facebook. Não vale gente que você admira de longe, não vale quem você curte e comenta os textos sem conversar profundamente sobre o assunto. Não vale a sensação da conexão. Só valem as conexões reais. Gente que você conhece a vida, a família pelo nome, os sonhos, ambições, vontades. Gente que você encontra e abraça e ama.
  • Quantas vezes você já saiu de casa mesmo sem muita vontade, porque se sentiu ansioso pensando no que ia perder, ou em como ia ser ruim ver as pessoas se divertindo no instagram e não estar lá?
  • Quantas vezes você postou foto em festas, eventos e lugares – mesmo que não estivesse realmente se divertindo – com legendas que davam a entender que aquilo estava sendo ótimo, do tipo “melhor noite da vida”?
  • Quantas pessoas você já stalkeou virtualmente? Isso te fez mais feliz ou mais ansioso?
  • Quando foi a última vez que você não se importou com a cara que ia sair na foto?

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Eu hoje, por exemplo, não me importei nem um pouco.

Uma semana sem carne ♥

Para fins de experiência – eu vivo por elas ♥ – resolvi passar uma semana sem comer carne. Não que eu seja a maior carnívora do planeta. No geral não como carne, seja porque acho os preços extorsivos (especialmente da carne vermelha), ou somente porque não ligo muito. Com tanto legume, fruta e verdura lindos, a ideia de algo gorduroso e esquisito não me apetece muito.

Ainda assim, e levando em consideração que passei a maior parte do ano passado comendo na rua, estava me sentindo carregada. Comida de quentinha no geral é pesada, pois os pratos são pensados pra sustentar os trabalhadores braçais. Segundo o senso comum, a “sustança” é o que segura o trabalhador, então 90% da quentinha comumente é composta por arroz e feijão. Nos outros 10%, carne e um acompanhamento, que normalmente também não é nada tão saudável e feliz (macarrão, farofa, batata frita, maionese e por aí vai). Mais do que pensar nessas questões, tenho pensado muito sobre a indústria da carne e a forma como ela funciona. Além de achar absurdo e desumano, me incomoda um pouco não saber de onde vem o que eu estou comendo. Pode soar besteira pra alguns, mas acredito muito que a energia que é colocada no que comemos faz toda a diferença. Um animal que cresceu triste, confinado e teve uma morte sofrida não pode fazer bem.

Esses dias estava conversando em casa sobre como o mercado pega o que deveria ser normal – e até obrigação – e transforma em algo que justifique preços altos. Isso acontece na moda com empresas que dizem não utilizar trabalho escravo, por exemplo. Na alimentação, acontece com os orgânicos, com animais criados no pasto feito antigamente, com abate humanizado. Eu acho bastante absurdo se usar dessas premissas pra ganhar ainda mais dinheiro. Usar o “custo elevado na produção” como razão pra cobrar mais caro também não cola comigo: a diferença é que eles vão de lucro absurdo pra lucro razoável, nada mais. Não existe justificativa plausível. Acho muito triste que as modinhas da mídia tenham influência tão forte em uma coisa tão básica e necessária quanto alimentação, mas isso é assunto pra outro post! Voltando a semana sem carne:

Por todas essas questões que expus, e por não ter acesso (#proletária) a carnes de abate humanizado, resolvi fazer a experiência. No domingo fui ao hortifruti (acordei tarde e perdi a feira, uma tristeza) com minha listinha e na segunda-feira comecei. O café da manhã já postei aqui, foi uma variação daquilo todo dia (cada uma melhor que a outra). No almoço variei entre saladas e algumas preparações cozidas, e fechei os almoços da semana com um sanduíche mara: pão integral de passas, de uma padaria maravilhosa – e com preços justos – perto de casa, queijo cottage (queria ser vegana, mas o queijo não permite ahaha) e mais algumas coisinhas. Como diriam os jovens, #sextou. hahaha

Não tenho o costume de jantar, mas resolvi variar essa semana. Em alguns dias comi refeições leves e ontem comi cereal com leite de arroz (café da manhã na janta pode sim HAHA). No geral, comi mais frutas, legumes e verduras do que vinha comendo a meses. No geral, gastei bem menos dinheiro do que normalmente gasto comendo ao longo da semana. Resolvi fazer uma listinha de pontos positivos (não achei nada negativo ♥):

1 – Economia e alegria: com o dinheiro que usava somente pra almoçar, comprei comida que deu pras três refeições da semana inteira mais alguns snacks pra comer entre elas (barrinhas de nuts, cereal, leite de arroz, frutas)

2 – Me sinto mais leve e feliz: estava me sentindo morta e terminava todos os dias dolorida e inchada. Durante essa semana fui me sentindo progressivamente melhor. Nada agressivo porque a vida não muda em uma semana, mas me sinto muuuito melhor agora do que a duas semanas atrás (já estava me alimentando um pouco melhor semana passada, mesmo sem a experiência).

3 – Minha pele está lindíssima: minha pele andava horrível e mais oleosa que o normal, com os poros abertos e cheia de mini-espinhas-tenebrosas. Agora me sinto quase uma celebridade hollywoodiana. HAHA

4 – Minha alergia diminui consideravelmente: tive na semana um total de meia crise alérgica (graças a mudança brusca de temperatura). Nada de nariz escorrendo, nem de espirros, nem de coceira. Fiquei realmente impressionada!

Com tudo, pretendo continuar o experimento! Conforme for me organizando – é bem mais difícil fazer e organizar o cardápio do que comprar comida na rua, né rs – vou compartilhando aqui minha rotina, receitas e etc (incluindo tudo que der errado, porque como dizem, “é fazendo m* que se aduba a vida”! HAHA)

ps: pesquisando sobre semana sem carne no google achei esse texto do Hypeness. Bem interessante, um ponto de vista bem parecido com o meu.

Outro link ótimo é o da Segunda sem carne. Pra quem não quer começar com uma semana de estalo, que tal as segundas-feiras? ^^

Alguém aí é vegetariano ou vegano? Já fizeram alguma experiência parecida? 🙂

 

Deixa pra lá

Em alguns dias você vai acordar se sentindo a pessoa mais maravilhosa da face da terra. Em outros, um lixo completo. Haverão dias cheios de alegria e acontecimentos. Alguns deles vão ficar guardados com carinho na memória, mas quando você parar pra relembrar a vida, vai perceber que os pequenos momentos são os mais marcantes. Uma conversa no quarto no meio da semana. A forma como o sol ilumina um determinado ponto da cidade e te faz lembrar da infância. A árvore do lado de fora da janela. De vez em quando você vai se sentir no fundo do poço. Talvez nem esteja, mas é importante respeitar a sensação. Nem tudo são flores na vida. Tentar evitar a tristeza e o desconforto jogando pro fundo da mente só faz eles se tornarem mais fortes.

Você vai esquecer alguns anos inteiros. Outros vão parecer sempre frescos no tecido da memória. Certos anos são pinturas, certos anos são rabiscos. Por vezes os rabiscos valem mais do que as imagens mais realistas. Você vai perder pessoas, e vai conhecer outras tantas pelo caminho. Nenhuma delas nunca vai preencher o espaço das que se foram. Você vai conhecer a morte e a vida. O princípio e o fim de todas as coisas. O cheiro do hálito de um recém nascido e o cheiro dos corpos em decomposição num cemitério. Com sorte, vai ver mais nascimentos do que mortes. Eu espero que chegue o dia em que você vai compreender que os dois tem a sua devida importância. Sem o que é ruim, não alcançamos a dimensão grandiosa do que é bom.

Existem pessoas que vem pra ficar. Outras vem pra ir embora. Uma sala vazia. O vazio de quem parte e a gente fica ali no canto tentando entender o que deu errado. Amigos, amores. Então em algum momento compramos um sofá. Um quadro, um tapete, uma luminária, uma mesa de centro. Antes que a gente perceba o ambiente já está redecorado e pronto pra receber outra pessoa. Certas pessoas vão deixar a cadeira vazia e ninguém nunca mais vai sentar ali. A presença permanece, mesmo quando não física. O vento de uma determinada forma, uma expressão, um papel com a letra escrita. Recortes e lembranças na colcha de retalhos que é a vida. Mas sempre tem espaço, sempre. Sempre cabe mais um na casa e no coração. Não feche a porta, ainda. Você não sabe quem vem virando a esquina.

Certos momentos parecem tão errados que é difícil seguir em frente. Aí a gente um dia olha pra trás e vê que nada foi tão ruim assim. Algumas coisas são, mas não são a maioria. Cabe a cada um encaixar as peças e continuar vivendo. Hoje vim pra casa pensando em deixar de existir. Uma tristeza muito grande veio junto com o tempo nublado. Não sei bem porque. Não busquei explicação. Deixei ela vir e passar. Chorei e senti e então me peguei ouvindo um monte de músicas que me fazem feliz. Conversei com Diogo, conversei com João. Jantei na copa de casa com a família na mesa. E de repente eu estava feliz de novo. A melancolia inerente ao tempo chuvoso permanece, mas é branda, quase uma lembrança. Eu provavelmente não vou lembrar do dia de hoje daqui a um ano. Mas como é bom me sentir presente nele agora, cercada por todo o amor que tenho e mereço.

E toda vez que bater isso tudo, volto pra ouvir de novo essa canção, e pra reaprender quantas vezes for preciso que o segredo de tudo é deixar pra lá:

 

Contextualização: para ler e ouvir melhor

Ler, escrever e ouvir música são minhas coisas favoritas na vida. Mesmo antes de aprender a escrever já pegava a caneta e rabiscava “palavras” no papel, ou batia teclas aleatórias da máquina de escrever. Assim que aprendi a ler me tornei uma leitora ávida: livros, bulas de remédios, letreiros, queria saber o que significavam todas as palavras ao redor. A música também faz parte da minha vida desde a infância. Minha mãe fazia tudo ouvindo música, e na casa do meu pai o violão era presença garantida nas festas, reuniões e madrugadas insones. Sempre me atentei muito às letras, mais até do que às melodias. O que queriam dizer os artistas? Qual era o sentido de tudo? Com o advento da internet, ler e ouvir música se tornaram pra mim exercícios mais completos: eu podia agora pesquisar mais sobre a vida dos cantores, bandas e autores que gostava.

Com tudo isso, e por vezes sem perceber, desenvolvi um costume maravilhoso: o da contextualização. Colocar as coisas em seu devido contexto é importantíssimo para compreender seu significado. Como nem todo mundo desenvolve isso, resolvi fazer uma lista breve, quase um guia da contextualização. Além de ajudar a ouvir e ler melhor, ajuda também na vida escolar e acadêmica. Acredito que analisar qualquer coisa fora de contexto – por melhor que seja a intenção – é sempre muito raso. Infelizmente isso tem acontecido bastante, e é uma das coisas que mais me incomoda na produção acadêmica contemporânea. Se é pra ter opinião, que seja completa! “gostei” e “não gostei” não devem fazer parte da vida de quem se propõe a escrever e pesquisar. O melhor desse exercício é que quanto mais você faz, mais tem vontade de descobrir e aprender. Como o objetivo é instigar a curiosidade e a pesquisa, seguem algumas perguntas cruciais:

1 – Em que época vivia o autor?

Essa pergunta muito simples leva a outras tão importantes quanto: o que acontecia no mundo neste período? Qual era o panorama político e social? Quais eram as modas da época? Quais são os artistas contemporâneos a ele? Em que classe social ele estava inserido? Tendo a resposta para estas perguntas, fica mais fácil pensar nas próximas e ter noção de quais assuntos relacionados à música e literatura nos interessam.

2 – Em que lugar ele vivia?

Nossa forma de ver o mundo e os acontecimentos está intimamente ligada com o lugar em que vivemos. Onde o autor passou a infância? Em que cidades viveu? Ele passou a vida no mesmo lugar? Como era este lugar? O clima, a língua, a estrutura, tudo isso influencia nossa escrita. Sem precisar ir longe, a escrita de um autor nordestino é completamente diferente de um que cresceu no sudeste. Quer um exemplo? Compare o trabalho de Caetano com o de Chico (comparar o trabalho de pessoas de diferentes regiões de um mesmo país, aliás, é outro exercício excelente!)

3 – Quantos anos ele tinha quando escreveu o livro/música em questão?

Cada fase da vida nos inspira de forma diferente. O que na adolescência parece um problema muito grave, aos 30 já não faz nenhum sentido. Da mesma forma, o que aos 30 parece o fim do mundo, nada significa aos 50 e por aí vai. Saber a idade do autor e tentar compreender suas motivações e visões de mundo pode levar a várias reflexões interessantes.

4 – Qual era o estado mental do autor quando escreveu a obra?

Além da idade, é importante pensar e pesquisar o aconteceu na vida do autor antes, durante e depois da música/livro existirem. Ele vivia sozinho? Quem eram seus amigos? O que ele fazia no dia a dia? Trabalhava com alguma outra coisa, ou se dedicava somente a escrita? Entender o background da pessoa nos ajuda a compreender seu estado mental, e as motivações por trás das letras, personagens e histórias.

5 – Quais eram as influências do autor?

O que ele ouvia e lia? Quem eram seus ídolos? O que lemos e ouvimos constrói nossa base intelectual, e essa base é impressa no nosso trabalho. Saber quem eram as influências do autor em questão nos leva não somente a compreender melhor o trabalho, mas também a buscar estas referências e aumentar nossa própria base. O mais incrível – além de ir descobrindo mais e mais coisas – é ir percebendo as influências em comum entre diferentes artistas que nos inspiram. Tentar descobrir a essência de um gosto, de onde ele vem, quem fez primeiro, isso tudo só nos enriquece! Mais do que isso, torna tudo menos superficial: o conhecimento, no geral, nos torna cada vez mais imunes a superficialidade.

 

Uma semana sem redes sociais

No início da segunda-feira resolvi dar tchau ao Facebook e ao Instagram. Não era um adeus, porque não gosto de medidas extremas, mas a sensação era quase essa. Além da leveza sentida logo após postar meu texto de despedida, minha semana pareceu durar o dobro do tempo. Eu trabalhei, li, pesquisei, estudei, assisti vídeos (o TED do post anterior foi o ponto alto do meu dia ♥) e me senti até um pouco perdida. No dia seguinte mesmo já pude notar algumas diferenças. Achei que seria ruim, que teria os sintomas comuns da abstinência e que me daria uma vontade enorme de voltar. Não sinto nada disso. Na realidade, isso foi a melhor coisa que eu poderia ter feito pelo meu início de ano

Mais do que o tempo gasto em tarefas inúteis – postar fotos de atividades cotidianas e descer o feed indefinidamente, por exemplo – as redes sociais nos tornam mais burros e mais tristes. Não sou eu que digo, diversas pesquisas começam a comprovar os malefícios do vício em internet e relacionados (eu queria citar tudo que li, mas joguem no google. Pesquisar aguça nossos sensos e nos torna mais espertos), e mesmo que o impacto disso na sociedade só possa ser medido a longo prazo, já dá pra ter noção agora. Basta abrir os olhos e observar com calma. Tenho percebido nestes cinco dias (e em outras vezes em que dei um tempo das redes sociais) que somente percebemos isso tudo olhando de fora. Esse texto possivelmente ficará enorme, mas tenho algumas considerações e questionamentos que gostaria de compartilhar. Como tudo que é bom vem em listas (mais um derivado do vício em redes sociais e sites rasos como Buzzfeed, talvez rs), lá vai mais uma:

Porque as atitudes alheias incomodam tanto as pessoas?

Viciados em redes sociais – em resumo, a maior parte dos usuários delas – não são muito diferentes de viciados em drogas ou álcool. Basta você cogitar sair ou sair que eles tentam te puxar de volta. Isso na realidade diz respeito a basicamente qualquer mudança de vida que se pretenda fazer. Já vi mais de uma vez pessoas resolverem começar uma dieta diferente, por exemplo, e os “amigos” terem reações por vezes até violentas. Seja buscando emagrecimento, saúde ou por questões éticas (evitar o consumo de carne, vegetais que não sejam orgânicos, etc), a reação das pessoas ao redor é sempre explosiva. Ninguém tem a mesma reação quando um amigo ou conhecido se alimenta prioritariamente de fast food.

Esse mesmo princípio – de que mudanças incomodam os outros – vale tanto pras redes sociais, como para atitudes como parar de beber ou fumar. Me dei conta recentemente de que as pessoas não processam essas reações. Elas não tem argumentos, no geral, e a reação é instantânea, violenta e infundada (especialmente se pensarmos que elas não tem nada a ver com isso). Uma explicação possível é a de que a massa se comporta de uma determinada forma, e qualquer coisa que quebre esses ciclos precisa ser expurgada (existem diversas pesquisas nesse sentido, ta aí mais uma oportunidade de pesquisa rs). É muito difícil hoje em dia encontrar círculos que apoiem as decisões, e essas pessoas costumeiramente são encontradas fora do círculo social de quem decide (como em grupos de apoio, igrejas, fóruns de alimentação e estilo de vida e por aí vai). Muitos destes itens nos levam, infelizmente, ao segundo item da lista.

A dependência na internet leva ao extremismo

É muito comum ver determinados grupos criticando igrejas e relacionados por pregarem visões extremas e “mente fechada” sobre determinados assuntos. Apesar de concordar com isso em muitos casos, a maioria das pessoas não se dá conta de que elas mesmas são extremistas. A internet facilitou – e muito – a vida dessas pessoas. Por exemplo: se alguém tinha visões preconceituosas específicas antes dela, provavelmente ia passar a vida sem conversar sobre com alguém ou, na melhor (ou pior) das hipóteses, encontrar um grupo local, costumeiramente pequeno. Com a internet, esses grupos são enormes, pois não dependem de localidade. Foi assim que nos últimos anos coisas aparentemente extintas como o fascismo, nazismo e similares voltaram a vida. Ela facilita mesmo pra encontrar pessoas com visões similares que morem próximas e que de outra forma não se conheceriam (não é como se – espera-se – alguém fosse colocar um cartaz de reunião nazista nos muros do bairro).

Com tudo, juntando religião, conservadorismo e movimentos sociais, o potencial da internet foi usado pra transformar o mundo num lugar ainda mais caótico e cheio de preconceito. Todo mundo pensa da mesma forma, não importa qual for o assunto. Sendo assim, todo mundo está certo. Se todo mundo está certo, alguma coisa está errada. Um subproduto desse sistema é a lógica burra que permeia diversos meios. Um exemplo que vi recentemente foi uma faixa escrito “miscigenação também é genocídio”. Grupo nazista? Nem de longe: manifestação do movimento negro. A primeira vista a lógica parece correta e – pra mentes acostumadas com o flood de coisas da internet e desacostumada a raciocinar por mais de cinco minutos sobre alguma coisa – a mão de compartilhar é mais rápida do que a capacidade de processamento do cérebro. Nisso, assuntos realmente importantes a diversas causas vão passando batidos, enquanto a disseminação do ódio é feita por todos os lados.

Isso me faz pensar em uma história que me aconteceu recentemente:

Nas redes sociais, você precisa fazer parte de algum grupo

Na vida real, nem tanto. Antes das redes sociais, a sexualidade de cada um dizia respeito somente a cada um, quando muito as pessoas com as quais cada um se relacionava. Com o advento das redes sociais com seus grupos, fóruns e páginas, a coisa toda tomou um outro espectro: você precisa fazer parte de alguma coisa e se reafirmar como tal. Sou uma pessoa muito suscetível a essas questões. Se alguém me repetir três vezes alguma coisa já me sinto convencida, e com isso vou me afundando em questionamentos, até me perder nos pensamentos. Demoro mais do que o tempo considerado normal hoje em dia para processar informações e opiniões. Longe de mim ser maria vai com as outras ou não ter opinião: eu só não fui construída pra processar as coisas de maneira leviana.

Sempre me considerei bissexual, desde a adolescência. No meu tempo não existiam as infinitas denominações que existem hoje em dia. Ninguém se dizia “cis não-binário” ou qualquer coisa com tantas sílabas e significados (ainda me esforço pra entender o que significa tudo). De uns tempos pra cá, comecei a conviver mais com mulheres lésbicas, participar de grupos, fóruns, festas, rodas de conversa. Não sei se vocês já passaram por isso, mas eu comecei a me sentir sobrecarregada de informações e pressionada a ter uma posição. Eu nunca expus minha sexualidade pra ninguém, sempre fui muito na minha. Nunca senti a necessidade de me reafirmar como alguma coisa, ou de participar de alguma coisa, porque acho que grupos cuja única motivação seja algo que não é uma real motivação nem deveriam existir (música é uma motivação. Cinema é uma motivação. Se reunir com pessoas que não tem nada a ver com você pura e simplesmente porque compartilham cor, gênero ou sexualidade? Nunca achei uma motivação válida).

Com tudo – textos, pessoas, opiniões, questionamentos – lá estava eu me sentindo mal, e culpando diversas coisas da minha vida em questões relacionadas a isso. Eu fiquei completamente cega. Meu relacionamento ia bem, minha vida ia bem, mas eu queria fazer parte. Eu queria fazer parte dos grupos e das páginas e dos círculos. Soa estranho, mas pare pra pensar: quantas coisas você fez ou deixou de fazer nos últimos anos pensando nos reflexos nas suas redes sociais? Soa superficial, também, mas pare pra pensar de novo: quantas coisas superficiais você posta por dia na internet? Exatamente. Todos estamos suscetíveis. Sair de tudo e me afastar das pessoas me fez questionar novamente coisas das quais eu achava ter certeza a duas semanas atrás. Porque sem a presença constante das redes sociais e da sensação de julgamento e observação alheios, eu fui me desintoxicando e perdendo essa necessidade.

Me sinto agora como me senti o resto da vida, antes das incursões no meio lésbico no ano passado e em um curto período do retrasado (em que cheguei a mesma conclusão, mas fui novamente engolida pela superficialidade das interações na internet): fluida, livre e não presa a convenções. Não sou hétero e não sou lésbica e não sou bissexual, sou a Dandara, uma pessoa que ama e se apaixona por pessoas. Que se sente atraída pelas pessoas pelo que elas tem a oferecer como seres humanos, e não por órgãos sexuais. Acho que isso vale inclusive um texto a parte.

O tempo é infinito sem as redes sociais

Eu vejo uma quantidade enorme de pessoas falando sobre o quanto não tem tempo, e acho que elas não se dão conta de quanto tempo é gasto diariamente postando, checando notificações e descendo o feed infinitamente. É realmente um vício, e como qualquer outro, é difícil admitir. Desde que me desloguei de tudo, meus dias parecem durar muito mais. Tenho visto um filme por dia. No trabalho, faço bem mais, com muito mais facilidade. Meus níveis de concentração vão gradativamente voltando ao que eram antes. Teve um dia essa semana em que eu nem sabia o que fazer com tanto tempo livre. Li metade de um livro nesse dia.

Dificilmente alguém é tão ocupado quanto diz ser. Somos levados a nos sentir ocupados, tudo nas redes sociais é arquitetado pra que a gente permaneça por lá descendo os feed infinitamente. Eles precisam da nossa permanência, porque geramos dinheiro. Nada ali é feito para de fato conectar as pessoas, porque eles não poderiam se importar menos. A falsa sensação de conexão, e a sensação de que perderemos contato caso não estejamos lá nos faz continuar. É libertador se livrar disso, garanto. Temos tempo pra todas as coisas. O tempo, aliás, não passa mais rápido do que passava antigamente, é tudo questão de percepção. Não estamos mais ocupados, estamos somente viciados e presos a isso.

Aquele tempo no ônibus descendo o feed? Dá pra ler, dormir, ouvir música, fechar os olhos e não fazer nada. O tempo gasto tirando mil selfies pra postar uma no instagram? Dá pra de fato aprender a fotografar. São tantas as possibilidades que nem caberia aqui escrever.

Conclusão

Sair das redes sociais foi a melhor coisa que fiz no meu ano – mesmo que ele esteja ainda no quinto dia de sua existência rs. Me sinto mais feliz, mais disposta, mais conectada comigo mesma. Desconfio, inclusive, que grande parte do período que passei em depressão tenha a ver com o vício em internet. A ansiedade também diminuiu, e me sinto agora muito menos aflita, com uma visão muito mais clara sobre a vida e o que preciso fazer. Recomendo fortemente que todos façam a mesma experiência. Pra quem ainda não se convenceu de que o vício em internet é tão forte quanto o vício em qualquer outra droga, dê uma pesquisada. Use a internet para algo realmente útil! Pare pra pensar de coração aberto e se dê conta de que ela pode estar consumindo os melhores anos da sua vida.

No mais – e pelo que me lembro com carinho – o mundo era muito melhor antes do facebook e do instagram. Espero que um dia todo mundo se dê conta. Espero também que não seja tarde demais.

Ser radical me deixou doente

Sabe quando o tempo passa e conseguimos enxergar os padrões de fora? Me sinto exatamente assim agora. Pode ser a proximidade com o meu aniversário (faltam dois dias só rs) ou com o final do ano, mas parei recentemente pra analisar minha vida e minhas escolhas em 2016/2017, e cheguei a uma conclusão: ser radical me deixou doente.

Pra quem não sabe – já falei diversas vezes, mas vai que – entrei num processo depressivo pesado do meio pro final do ano passado. No início desse ano a vontade de desistir de tudo era grande, mas graças a Deus encontrei pessoas e oportunidades incríveis que me ajudaram a dar a volta por cima. Como tudo na vida é processo não vou dizer que estou 100% todos os dias, mas hoje entendo que às vezes o 50% é uma grande vitória. Deixando essas questões de lado, vamos ao assunto do post.

O que é ser radical, afinal?

É possível ser radical de diversas formas, em diversas questões diferentes. Meu radicalismo, por exemplo, dizia respeito as questões que trato aqui: consumo, capitalismo, cadeia produtiva e relacionados. Primeiro foram diversos experimentos com alternativas pros cosméticos. Aliado a isso, um desespero muito grande de saber a origem de tudo que eu consumia. Pra muita gente, isso leva a uma vida com mais propósito e significado. Pra mim, em algum ponto, se tornou uma obsessão. Essa obsessão dava as caras das mais diversas maneiras: culpa por consumir alguma coisa que eu não soubesse a origem precisa, culpa por comprar qualquer coisa, mesmo que necessária, culpa por usar maquiagem. Era um esforço honesto que se transformou num caos. Eu fui afundando e afundando e afundando. Me vicio fácil em absolutamente qualquer coisa. Tenho uma facilidade enorme e triste para os vícios. Quando adolescente isso me levou a bulimia. Já fui viciada em jogos, em atitudes, tudo se torna obsessivo e eu perco a hora de parar. Com essas coisas não foi diferente.

Conto isso pra alertar você. Você mesmo, que acabou de assistir um documentário que mostra como as roupas das grandes redes são produzidas, ou sobre os animais, ou sobre o capitalismo. Você que ficou chocado e enojado e desesperado. Porque eu fiquei. Eu permaneço.

E como ser consciente sem cair na obsessão?

Como em tudo na vida, é preciso equilíbrio. Na forma de pensar, na forma de consumir. Eu fui ao extremo e me fez tão mal quanto estar na outra ponta – da pessoa que comprava sem pensar, usava sem pensar, descartava sem pensar. Se você não consegue lidar com o cabelo cheirando a cabelo e ama um shampoo cheirosinho, encontre algo que seja eco friendly e caiba no seu orçamento, por exemplo. Não se martirize tentando viver a base de vinagre e bicarbonato. Isso vale pra todos os cosméticos, na verdade.

Se você gosta de se vestir bem, além dos brechós existem lojas que produzem de maneira consciente sem custar um absurdo. Vale a pena pesquisar! Eu não deixei de me importar com nada que aprendi, eu só deixei o radicalismo de lado. No final do dia, não importa quanta coisa você deixou de fazer, se isso está te deixando miserável. Não vale muito mais a pena encontrar o meio termo? Pode parecer difícil, mas ele existe.

No mais, eu não quero ser uma dessas pessoas que produzem um quilo de lixo por ano. Não quero ser a pessoa que só usa cosmético natural feito em casa, nem a pessoa que não consome alimentos industrializados. Em algum ponto eu gostaria de ser essa pessoa. Eu admiro quem tem a fibra pra fazer isso, mas a minha saúde mental apenas não me permite.

E como foi bom me perdoar. Como está sendo bom tentar encontrar esse equilíbrio. Como é maravilhoso conseguir separar o que eu fazia pela influência da mídia e do meio das coisas que eu realmente gosto! No mais, espero encontrar cada vez mais o balanço perfeito pra minha vida. Porque ela é minha, no final, e só eu sei o que é melhor pra mim.

Espero honestamente que você tenha esbarrado com esse texto no início da jornada rumo a uma vida mais saudável e consciente! Espero que ele ajude a manter o pé no chão e traçar metas concretas e organizadas. Espero que você encontre o equilíbrio mais cedo, e viva uma vida repleta de realizações e amor ao próximo! Os tombos fazem parte, mas saber que existe ajuda torna tudo um pouco mais fácil. Acredite: existe ajuda! Qualquer coisa que precisar, estou aqui pra ajudar. <3

Por mais elogios sem “mas”

Tenho reparado um costume das pessoas, que na realidade não é contemporâneo, mas tem me parecido mais latente: a mania de fazer elogios com um “mas” no final. O “mas” por vezes vem implícito, mas ainda assim está lá. E é chato, sabem? Tem vezes que esse complemento ao elogio soa como uma porrada na boca do estômago.

Evito a muito tempo fazer isso. Quando elogio, o faço de coração e sem aproveitar o momento pra apontar algum defeito da pessoa, especialmente porque defeitos são – na maioria das vezes – questão de ponto de vista. Quando foi a última vez que você elogiou alguém sinceramente? Você já se percebeu usando um elogio pra mascarar uma crítica?

Um dos comentários mais comuns nesse sentido se direciona a nós gordas. Passei por isso apenas uma vez na minha vida: a pessoa vira e fala algo como “você tem um rosto lindo, mas…”. Esse “mas” é seguido de “precisa emagrecer”, “só precisava fechar a boca”, “ia ficar mais linda ainda se perdesse uns quilinhos”. Isso não é um elogio. Isso é pegar um padrão e massacrar alguém usando ele. Passei por isso – como em todas as situações de gordofobia – com uma mulher. Me reconheço como uma gorda dentro do padrão e sei que por isso não sofro preconceito: tenho a cintura fina, os seios pequenos e sou bem alta. Imagina quantas vezes na vida uma menina gorda fora desse padrão ouve isso?

Para além das questões de corpo, existem um tipo de “mas” que sempre me incomoda: o “mas” utilizado para reforçar um comportamento que a pessoa algum dia teve. Pouco importa se a pessoa mudou ou se esforça para mudar ou reconhecer o padrão que a levava a fazer aquilo. Pouco importa, na realidade, se o padrão de fato existiu ou foi fruto de outras questões. Quando esse porém vem, é sempre devastador. Pode ser a mãe que insiste em reforçar padrões que o filho teve ao longo de algum período da vida. Pode ser a amiga reforçando algo que batalhamos pra deixar de lado. Pode ser um(a) namorado(a), marido ou esposa que bate constantemente na mesma tecla. Costumeiramente, os poréns vem das pessoas mais próximas e são, por isso, ainda mais devastadores. O pior de tudo? Essas maldades podem até ter no fundo o desejo de nos ajudar, mas o efeito é justamente o oposto. Quando ouvimos fazer algo que acreditamos ter deixado de lado na vida, nos vemos de volta no loop que causava aquilo. É uma espécie de trigger (um gatilho), especialmente pra quem sofre com problemas como depressão e ansiedade. Em resumo, além de não ajudar ainda atrapalha.

Por isso peço a quem ler esse texto: tenha um pouco mais de empatia, mesmo que seu objetivo seja ajudar. Você pode estar fazendo alguém dar passos pra trás, mesmo com o esforço para andar pra frente. De verdade (e de preferência), não faça isso com ninguém, mesmo que você ache que a pessoa está em um estado mental bom. Não sabemos o que se passa na cabeça dos outros e, caso seja um padrão realmente prejudicial, o melhor a fazer é insistir para que a pessoa procure ajuda médica. Quer ajudar? Ajude a buscar ajuda.

Hoje é o penúltimo dia de Setembro, mas acho o tema pertinente ao Setembro Amarelo. Nós nunca sabemos até onde vai nossa influência e impacto na vida das pessoas. Não seja uma das razões. Vira e mexe no comentário mais inocente mora a reação mais perigosa. Vai elogiar? Elogie sem “mas”. A vida já é difícil o suficiente sem alguém apontando constantemente nossos erros.

Minimalismo? Não, obrigada.

Longe de mim querer dar pitaco na vida alheia. Detesto quando dão pitaco na minha vida. É apenas uma questão de opinião! Vou expor os meus porquês e se após o texto o que chamam minimalismo ainda te apetecer, vai fundo. Cada um sabe como funciona melhor e o que considera melhor pra si. Vamos lá (em lista, porque né, lista é vida):

1 – O “”minimalismo”” é super classe média…

…e eu detesto a classe média! Aqui o média vai bem no sentido de medíocre mesmo. Economicamente, seria a média-alta e a alta. O minimalismo é um movimento que vem dessas classes. O que chamam minimalismo agora diz mais respeito a gastar do que a de fato reduzir. Comprar uma camiseta de R$ 400,00 porque ela é orgânica e produzida de “””maneira sustentável””” não tem nada de minimalista. Nem um sofá de R$ 4.000,00. E por aí vai, você entendeu o ponto. A sustentabilidade – o ativismo em geral – vendem, e as marcas perceberam isso. No início desse mês a C&A lançou uma camiseta sustentável, com direito a todos os blablabla sobre a cadeia de produção e reciclagem, com campanha bonita e vários jovens esguios sorrindo e sendo felizes. A mesma rede que compra roupas da China e da Índia, onde a produção não respeita nada e nem ninguém. Pesado, né? Se a gente pegar em pequena escala, mesmo as marcas com carinha de minimal e artesanal fazem o mesmo. Pode não ser da China ou da Índia, mas exploram alguém da mesma forma. E vendem camisetas de algodão do Peru pras patricinhas entrarem na onda do minimalismo e se sentirem muito desapegadas. Não, obrigada.

2 – O Minimalismo não respeita o passado, e eu aaamooo história

Li uma matéria outro dia num site famoso sobre minimalismo, falando sobre como a geração de agora não sabe lidar com o “”lixo”” que está ganhando dos pais e avós. O que eles chamam lixo diz respeito a louças, coisas de família, móveis, livros e coisas do tipo. Porque eles são minimalistas, eles não acumulam, isso é lixo. Eu chamo isso de tesouro. Venho de uma família pobre, e dou valor a cada coisa que foi deixada pra mim: o abajur que era da minha avó e me traz lembranças da infância, os panos e toalhas que ela bordou, os discos e livros que estão na família a duas ou três gerações.

O argumento dele é que as coisas tem que ficar na memória e não precisam de representação física. Imagina como vai ser o mundo daqui a 100 anos se essa moda pega: completamente sem identidade. Se dependermos somente de meios virtuais para guardar imagens do que existiu e existe, corremos o risco de perder isso. Existe um limite pro compartilhamento do conhecimento oral. Eu posso te explicar o que é uma coisa, mas você nunca vai saber como essa coisa realmente é até ver na sua frente.

Pegando numa escala um pouco maior, se considerarmos tudo que é antigo como lixo, quem somos nós e pra onde vamos? Isso me leva ao próximo item.

3 – O minimalismo não consegue diferenciar acúmulo de preservação

Se eu guardo mil papéis de bala, uma montanha de caixas de leite vazias, pilhas e mais pilhas de jornais, estou acumulando. Sou, inclusive, forte candidata a programas do tipo Acumuladores. É triste, inclusive, que tanta gente passe por isso e desenvolva esses problemas. Mas não tem como relacionar isso com quem coleciona livros, discos, porcelanas. Ao menos não a princípio (porque qualquer coisa pode se tornar um vício – o minimalismo inclusive. risos kkk rs). Se eu coleciono coisas com o intuito de preservar para a próxima geração, ou porque me agrada a estética e tenho espaço, não consigo ver problema nisso.

Mas essa gente estimula todo mundo a jogar tudo que for “”inútil”” no lixo. Alguns sites não falam nem de doação, falam lixo mesmo. Se desfaça de tudo e tenha um grande (ou pequeno) espaço vazio na sua vida. Para contemplar como é maravilhoso não acumular. E? Isso torna o mundo melhor exatamente como, se são coisas que já estão no mundo? Eu acredito em valor sentimental. Eu acredito em preservação. Eu acredito que faço um puta trabalho pro futuro quando salvo uma vitrola ou um livro antigo da deterioração total. Não consigo achar bonito ou engraçado que alguém não saiba o que é alguma dessas coisas. Não acho que seja um sinal bom dos tempos ou da tecnologia. A ignorância, no final, só nos leva a cometer os mesmos erros.

4 – O minimalismo não respeita as diferenças

Cada grupo, etnia, população tem suas peculiaridades. Dos turbantes aos colares, dos vestidos às botinas. O que se conhece por minimalismo é norte americano e – como quase tudo que é norte americano esses dias – é imperialista e só contribui pro desmonte dessas peculiaridades. Se uma menina do Peru, uma de Angola e uma do Brasil, por exemplo, revolvem seguir essa tendência a risca, em pouco tempo elas vão abrir mão de uma porrada de coisas que dizem respeito a suas culturas, e em menos tempo ainda vão parecer todas uma versão da mesma pessoa. Sabem? O minimalismo contribui pra pasteurização do mundo, pra essa globalização burra que coloca algo como certo e o resto todo como errado. Eu não consigo enxergar isso como bom a longo prazo.

A internet já faz um desserviço enorme no que diz respeito a indumentária. Se antes dela o que se entendia como tendência era adaptado a cultura de cada lugar, depois dela tudo vai ficando igual. Os mesmos ícones inspiram pessoas de diferentes partes do mundo, e a cada dia as lojas todas vendem as mesmas roupas, nas mesmas numerações, com a mesma modelagem, independentemente do tipo de corpo predominante em cada local. Em larga escala, essa é só mais uma tendência que contribui para que pessoas como eu – plus size, alta, quadril largo, cintura fina – não consigam encontrar roupas que lhes agradem (ou sequer funcionem, haja visto que toda calça fica quase no meio da minha batata da perna haha). O minimalismo é excludente. Tem quem argumente o contrário, dizendo que não diz respeito a moda, mas sempre diz. Ingênuo quem pensa que não.

5 – Em resumo, eu acho bem ridículo rs

Eu acho. Mesmo. Essa ideia do não acúmulo a qualquer custo, essa ideia atrelada ao “largar tudo pra viajar o mundo”, ao “””empreendedorismo”””, ao ativismo vazio. Eu acho bem ridículo. Acho que não contribui para um mundo melhor, e é apenas parte de uma grande cadeia de coisas que não contribuem. Mas eu entendo. É mais fácil comprar a camiseta sustentável ou o móvel de madeira do site hipster e achar que é muito minimalista e descolado. É mais fácil se achar a ativista porque é contra testes em animais, mas continuar comprando cosméticos produzidos por pessoas mal remuneradas. É mais fácil se preocupar com tudo que é superficial disfarçado de profundo, do que de fato abrir mão disso tudo.

Eu poderia aderir ao minimalismo, se ele fosse um pouco mais focado nas pessoas e no que acontece com elas. Se ele fosse mais sobre preservar e menos sobre não acumular cegamente. Se ele fosse feito e difundido por e entre quem tem menos, e não nas camadas mais altas. Se ser minimalista for viver com menos aproveitando ao máximo, eu até sou. Mas prefiro achar um outro nome pra isso. Eu sou devagarista. Eu sou suburbanista. Sou bonitezarista. Mas minimalista? Não, obrigada.

“Não faça isso”

Estou aqui estudando e pensando em questões da vida. Toda vez que começo a aprender algo novo e esbarro em alguma dificuldade – por menor que seja – não penso em quem me encoraja a aprender. Eu penso em todo mundo que age como se eu nem devesse tentar, especialmente quem me diz. Acho uma tristeza sem tamanho quando alguém fala “nem tenta” e derivados. Pensar nessas pessoas e situações me dá muito mais gás do que em quem apoia, honestamente.
 
Há alguns meses, conversando com meu tio, comentei que estava gradualmente deixando o design e o marketing de lado pra aprender programação. Na época eu já sabia algumas coisas, e tinha acabado de participar do Django Girls. Foi um dia incrível, e eu saí maravilhada e louca pra aprender. A resposta dele foi “não faça isso, não vale a pena”. Nem exatamente com essas palavras, mas com um grande discurso muito pior. Meu tio tem uma influência forte na minha vida, especialmente a profissional e acadêmica.
Nesse dia eu fiquei me sentindo péssima. A vontade de aprender foi ruindo e ruindo, até que eu me dei conta do seguinte: além de não viver a minha vida, meu tio é fruto de outro tempo. Um tempo talvez bem menos cheio de possibilidades do que o meu. Um tempo em que você escolhia – ou era empurrado – cedo pra uma carreira, e nela permanecia até o final. Eu não conheço quase ninguém da minha faixa etária que não tenha trocado de curso na faculdade. Quase ninguém que tenha certeza de alguma coisa. Eu não conheço, infelizmente, quase ninguém que não tenha tido uma experiência muito ruim em relação a saúde mental por causa dessas questões todas da vida. Eu, inclusive.
 
Aquele “não faça isso, não vale a pena” ecoa na minha mente todos os dias. Depois dessa frase eu consegui um emprego desenvolvendo sites. Depois dessa frase eu tomei coragem no trabalho pra dizer que escrevo (e amo escrever), e agora também produzo conteúdo (um dos meus sonhos na vida era ser paga pra escrever, entendam..rs). Depois dessa frase eu fui treinadora no Django Girls, mesmo achando que eu não sabia nada e não conseguiria ajudar ninguém. Depois dessa frase eu completei mais alguns cursos e aprendi mais algumas coisas. Depois dessa frase eu tomei coragem e me inscrevi pro meu primeiro vestibular num curso de exatas. A frase ecoa e abala a minha auto confiança até hoje, mas se paro e penso em tudo que conquistei depois, talvez ela seja também responsável por me tornar mais forte e confiante. Parece contraditório, mas o “não faça” me faz acordar todos os dias querendo fazer mais, alcançar mais, mostrar que eu posso sim fazer isso.
 
Com toda essa história, o que quero dizer é: estamos em 2017, amigas. Ainda é o início de um novo milênio. Como todo início, traz consigo infinitas possibilidades. É preciso honrar todas as mulheres fortes e inteligentes que foram aos pouquinhos pavimentando o caminho pra nós. Ainda existe muito a ser feito, mas nós podemos tudo, absolutamente tudo, e nunca é tarde pra começar. Me tornei designer por oportunidade, não por escolha, e me sinto hoje finalmente escolhendo a minha vida. Pela primeira vez sinto que cada passo é uma escolha consciente e pensada. Cada passo é mais um pouco do caminho em direção ao que eu quero. Dizem que conselho não se dá, mas vou dar sim: esmorecer, talvez, mas desistir jamais. Se a poucos meses atrás eu tivesse ouvido aquele “não faça isso, não vale a pena”, eu não teria agora a noção do quanto – e quão rápido – a vida muda. Eu não teria conhecido as pessoas maravilhosas que conheci, e não teria aprendido tudo que aprendi, e não estaria agora feliz e contente estudando uma linguagem de programação desde as 8h de um domingo. Por mais que a vida pareça meio sem sentido agora, acredite, a hora em que você encontrar o que realmente ama e quer fazer, tudo flui.
O importante é não desistir de procurar.

Pense fora da casinha

Todo mundo está acostumado a conselhos sobre pensar fora da caixa, eu sei, mas esse é diferente. Fora da caixa costumeiramente significa inovação. Fora da casinha é sinônimo de loucura, insanidade, ser lelé da cuca, e esse é exatamente o caminho do meu conselho.

Há cinco anos atrás, quase seis, comecei a trabalhar como assistente de marketing em uma empresa de cosméticos. Na época ela já era legal, mas bastante desconhecida nas quebradas. Peguei a página do face com menos de mil pessoas. Lá comecei a implementar um monte de planos loucos da minha cabecinha oca. Na época a equipe de marketing era formada por duas pessoas, contando comigo, e mais uma designer “flutuante”, que depois passou a estar lá todos os dias. A gente se virava com uma verba ínfima ou inexistente. Não existia anúncio de facebook, nem ações caras, nem agência, apenas um plano e muita insanidade nas ideias.

Ao longo dos últimos anos, trabalhei ou prestei serviço pra eles mais algumas vezes, e foi incrível ver que a junção da essência que eles já tinham + as minhas loucuras em conteúdo e ideias + as outras profissionais fora da casinha que passaram por lá fizeram com que não somente a marca crescesse, mas que uma verdadeira revolução acontecesse no mundo dos cosméticos.

Se vocês não pescaram ainda, estou falando da Lola. Há cinco anos atrás ninguém falava com essa linguagem, e não existiam produtos no Brasil com essa pegada jovem e insana (honestamente, até no mundo era difícil, no máximo ti.gi e lush, né?). Com o passar do tempo, a empresa adquiriu uma identidade forte e disruptiva. Se existem agora tantas linhas multicoloridas e com linguagem ultra informal, é graças a Lola. Todo mundo começou a querer copiar. As empresas grandes começaram a ficar de olho, e vocês não tem ideia do prazer que é ter feito parte disso tudo nos meus 20 e poucos anos.

Dito isso, vamos a parte que interessa: imagina se a cinco anos atrás alguém tivesse entrado na Lola e estruturado tudo de maneira “correta” segundo as “teorias” da publicidade e do marketing? Imagina se alguém tivesse convencido os sócios a seguir um caminho “””seguro”””. Ninguém teria ouvido falar na marca, certo? Graças aos céus isso não aconteceria porque a responsável por dar corda a toda essa loucura é uma pessoa tão descolada e fora da casinha quanto todas as profissionais de marketing que passaram por lá. Uma pessoa que sempre acreditou no potencial transformador das coisas, dos cosméticos, da verdadeira beleza.

Pensem fora da casinha, criativos. Pensem fora das teorias e fora dos muros da universidade. Não deixem a faculdade limitar o potencial de vocês. Porque o que acontece é esse mar de métricas e teorias que podem até gerar crescimento, mas não geram valor. Pensem fora da casinha porque a inovação mora na loucura, não no “mas é assim que funciona”. Imaginem se todos os responsáveis por aplicativos, gadgets, sites e produtos disruptivos tivessem acordado um dia e pensado “é, não, não vale a pena”. Que mundo chato e sem graça seria o nosso, certo?

Acima de tudo, parem de tornar a internet esse lugar insosso, em que todos os sites parecem os mesmos, em que todas as chamadas parecem as mesmas. Existe lugar pra fazer a diferença em qualquer cliente. O mundo pode até parecer dos iguais, mas a glória é definitivamente dos diferentes.

Beijos de luz,

Dandara – A designer/web designer/redatora/artesã/programadora em potencial/dona de ideias insana que você respeita. HAHAHAHA