Como não se sentir um loser com o final de Janeiro?

Janeiro é um mês esquisito. A gente começa cheio de ideias e planos, no gás, e logo se depara com uma triste realidade: o ano só começa depois do Carnaval. Mesmo que não espere o carnaval para engatar, Janeiro é um mês mais morto do que o meu manjericão (triste, eu sei, mas vou superar haha), e tudo fica lento até Fevereiro chegar. Daí é aquilo: existem as coisas que são possíveis começar, e existem aquelas que dependem de fatores externos a nós. O mês terminou e eu estava aqui com a sensação de não ter feito tanto quanto poderia ou gostaria. Fiquei ligeiramente decepcionada comigo, até parar e analisar o começo do ano mais a fundo. Na realidade, fiz uma porção de coisas boas em Janeiro, e o que não começou (ainda) foi pensado mesmo pra ser diluído ao longo do ano. Algumas das coisas que aconteceram no primeiro mês do ano:

  • Voltei a desenhar. Essa foi a coisa mais insana pra mim. Tinha deixado de desenhar a zilhões de anos atrás, e não me via voltando. Não que eu seja nenhuma gênia do desenho ou a minha abstenção tenha tido algum impacto, mas, sendo bons ou ruins (quem liga?), o importante é que eu fiz. Deixei fluir, mesmo sobrepensando e tentando encontrar sentido. Até agora tem sido excelente.
  • Comecei a correr. Essa semana completamos um mês correndo. Consigo ver o progresso acontecer, e sinto que muito em breve conseguirei correr o percurso todo (por hora vamos intercalando caminhada e corrida, pro corpo acostumar e meus joelhos não morrerem hahaha).
  • Aos poucos estamos conseguindo implementar nosso plano de fazer a comida da semana toda no domingo. Tô aqui feliz da vida que a janta já está pronta (e linda e maravilhosa).
  • Fizemos uma estante pras plantas, ganhamos algumas mudinhas, compramos outras e aos poucos a casa vai tendo o verde que eu gostaria que ela tivesse.
  • Participamos de um workshop de Python e estamos – mais lentamente do que eu gostaria haha – estudando a linguagem.
  • Começamos uma rotina matinal que tem sido fantástica: meditação, automassagem e banho antes de começar o dia. Me sinto mais tranquila e consciente, e a ansiedade passa cada vez mais longe.

Essas são só algumas das coisas. Com tudo isso em mente (e todas as outras vitórias diárias), fiquei pensando:

Porque tendemos a diminuir nossos feitos, enxergando sempre o lado ruim?

Vivemos em uma sociedade (infelizmente) movida a competição. Ninguém liga para o caminho, o importante é chegar. Tanto faz se o passeio é bom ou ruim, se a vida é boa ou ruim, porque nossa noção de bom e de ruim é contaminada pela competição. Ninguém quer ser melhor pra si, todo mundo quer ser melhor que os outros. Nisso, mesmo mudando o pensamento, mesmo abraçando a vida, mesmo feliz e apaixonado pelo que se tem, alguma parte de nós – essa partezinha que cresceu em sociedade, que sofreu a influência da mídia e da competição – tende a se sentir inferior, e a analisar o canteiro do vizinho pelo verde da grama, ignorando o tempo de cuidado e manutenção que aquilo demandou para crescer. A gente enxerga o resultado e compara nossa caminhada a ele, e não a caminhada alheia. Some a isso a ideia de talento, de dom, de sucesso, e nos pegamos achando que nada é bom o suficiente, que não temos o que é preciso, que somos incapazes frente a vida.

Diversas vezes ao longo do tempo larguei coisas que queria muito fazer, porque não tinha a paciência a resiliência necessárias para aprender. Eu começava as coisas achando que quem é bom acerta de primeira, sem compreender que esse “ser bom” toma prática, toma tempo, toma autoconfiança e perseverança.

E então terminou janeiro. E por um tempinho bem pequeno fiquei achando que eu era uma loser, que eu não tinha feito nada, que o mês tinha corrido e me deixado pra trás, até eu parar e olhar de fato o que eu fiz, enxergando as coisas como caminhos, como etapas, e não como atividades fechadas nelas mesmas. Para além disso, entender que as coisas podem ser feitas só por serem divertidas, sem uma utilidade ou propósito. O tempo “”útil””, aliás, se relaciona também com a competição e com o modo como a sociedade funciona, condenando o tempo livre, a atividade pelo prazer, a alegria de viver.

Tá, mas e a resposta pra pergunta no início do texto?

Como não se sentir um loser com o final de Janeiro? É muito simples: enxergue as coisas pelo que elas são, e não pelo que você gostaria que tivessem sido. Sem frustração e sem desânimo, entendendo seu próprio ritmo, seus processos e a velocidade como as coisas acontecem naturalmente. Colocar essa lente da expectativa faz tudo parecer menor e menos importante. Mas tudo é caminho. Cada passinho, mesmo que lento. Quando olho pra Janeiro como um todo, vejo uma porção de inícios, alguns hábitos que já não me imagino sem, e mais uma porção de possibilidades para o restante do ano. São os tais dos baby steps que vivo falando, passinhos pequenos mas constantes. De vez em quando, feito um bebê aprendendo a andar, tropeçamos ou não sabemos muito bem para onde ir, e é justamente nessa hora que mais precisamos nos reconectar com a pureza infantil: a cada tropeço levantar mais forte, mais confiante, com mais sabedoria e conhecimento. Se você anda se sentindo um loser, chuta esse sentimento pra longe. Perdedor mesmo é quem nem tenta. Quem tenta e erra já é um vencedor, só por ter levantado da cadeira e começado. 😀

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