Estou aqui estudando e pensando em questões da vida. Toda vez que começo a aprender algo novo e esbarro em alguma dificuldade – por menor que seja – não penso em quem me encoraja a aprender. Eu penso em todo mundo que age como se eu nem devesse tentar, especialmente quem me diz. Acho uma tristeza sem tamanho quando alguém fala “nem tenta” e derivados. Pensar nessas pessoas e situações me dá muito mais gás do que em quem apoia, honestamente.
Há alguns meses, conversando com meu tio, comentei que estava gradualmente deixando o design e o marketing de lado pra aprender programação. Na época eu já sabia algumas coisas, e tinha acabado de participar do Django Girls. Foi um dia incrível, e eu saí maravilhada e louca pra aprender. A resposta dele foi “não faça isso, não vale a pena”. Nem exatamente com essas palavras, mas com um grande discurso muito pior. Meu tio tem uma influência forte na minha vida, especialmente a profissional e acadêmica.
Nesse dia eu fiquei me sentindo péssima. A vontade de aprender foi ruindo e ruindo, até que eu me dei conta do seguinte: além de não viver a minha vida, meu tio é fruto de outro tempo. Um tempo talvez bem menos cheio de possibilidades do que o meu. Um tempo em que você escolhia – ou era empurrado – cedo pra uma carreira, e nela permanecia até o final. Eu não conheço quase ninguém da minha faixa etária que não tenha trocado de curso na faculdade. Quase ninguém que tenha certeza de alguma coisa. Eu não conheço, infelizmente, quase ninguém que não tenha tido uma experiência muito ruim em relação a saúde mental por causa dessas questões todas da vida. Eu, inclusive.
Aquele “não faça isso, não vale a pena” ecoa na minha mente todos os dias. Depois dessa frase eu consegui um emprego desenvolvendo sites. Depois dessa frase eu tomei coragem no trabalho pra dizer que escrevo (e amo escrever), e agora também produzo conteúdo (um dos meus sonhos na vida era ser paga pra escrever, entendam..rs). Depois dessa frase eu fui treinadora no Django Girls, mesmo achando que eu não sabia nada e não conseguiria ajudar ninguém. Depois dessa frase eu completei mais alguns cursos e aprendi mais algumas coisas. Depois dessa frase eu tomei coragem e me inscrevi pro meu primeiro vestibular num curso de exatas. A frase ecoa e abala a minha auto confiança até hoje, mas se paro e penso em tudo que conquistei depois, talvez ela seja também responsável por me tornar mais forte e confiante. Parece contraditório, mas o “não faça” me faz acordar todos os dias querendo fazer mais, alcançar mais, mostrar que eu posso sim fazer isso.
Com toda essa história, o que quero dizer é: estamos em 2017, amigas. Ainda é o início de um novo milênio. Como todo início, traz consigo infinitas possibilidades. É preciso honrar todas as mulheres fortes e inteligentes que foram aos pouquinhos pavimentando o caminho pra nós. Ainda existe muito a ser feito, mas nós podemos tudo, absolutamente tudo, e nunca é tarde pra começar. Me tornei designer por oportunidade, não por escolha, e me sinto hoje finalmente escolhendo a minha vida. Pela primeira vez sinto que cada passo é uma escolha consciente e pensada. Cada passo é mais um pouco do caminho em direção ao que eu quero. Dizem que conselho não se dá, mas vou dar sim: esmorecer, talvez, mas desistir jamais. Se a poucos meses atrás eu tivesse ouvido aquele “não faça isso, não vale a pena”, eu não teria agora a noção do quanto – e quão rápido – a vida muda. Eu não teria conhecido as pessoas maravilhosas que conheci, e não teria aprendido tudo que aprendi, e não estaria agora feliz e contente estudando uma linguagem de programação desde as 8h de um domingo. Por mais que a vida pareça meio sem sentido agora, acredite, a hora em que você encontrar o que realmente ama e quer fazer, tudo flui.
O importante é não desistir de procurar.