Minimalismo? Não, obrigada.

Longe de mim querer dar pitaco na vida alheia. Detesto quando dão pitaco na minha vida. É apenas uma questão de opinião! Vou expor os meus porquês e se após o texto o que chamam minimalismo ainda te apetecer, vai fundo. Cada um sabe como funciona melhor e o que considera melhor pra si. Vamos lá (em lista, porque né, lista é vida):

1 – O “”minimalismo”” é super classe média…

…e eu detesto a classe média! Aqui o média vai bem no sentido de medíocre mesmo. Economicamente, seria a média-alta e a alta. O minimalismo é um movimento que vem dessas classes. O que chamam minimalismo agora diz mais respeito a gastar do que a de fato reduzir. Comprar uma camiseta de R$ 400,00 porque ela é orgânica e produzida de “””maneira sustentável””” não tem nada de minimalista. Nem um sofá de R$ 4.000,00. E por aí vai, você entendeu o ponto. A sustentabilidade – o ativismo em geral – vendem, e as marcas perceberam isso. No início desse mês a C&A lançou uma camiseta sustentável, com direito a todos os blablabla sobre a cadeia de produção e reciclagem, com campanha bonita e vários jovens esguios sorrindo e sendo felizes. A mesma rede que compra roupas da China e da Índia, onde a produção não respeita nada e nem ninguém. Pesado, né? Se a gente pegar em pequena escala, mesmo as marcas com carinha de minimal e artesanal fazem o mesmo. Pode não ser da China ou da Índia, mas exploram alguém da mesma forma. E vendem camisetas de algodão do Peru pras patricinhas entrarem na onda do minimalismo e se sentirem muito desapegadas. Não, obrigada.

2 – O Minimalismo não respeita o passado, e eu aaamooo história

Li uma matéria outro dia num site famoso sobre minimalismo, falando sobre como a geração de agora não sabe lidar com o “”lixo”” que está ganhando dos pais e avós. O que eles chamam lixo diz respeito a louças, coisas de família, móveis, livros e coisas do tipo. Porque eles são minimalistas, eles não acumulam, isso é lixo. Eu chamo isso de tesouro. Venho de uma família pobre, e dou valor a cada coisa que foi deixada pra mim: o abajur que era da minha avó e me traz lembranças da infância, os panos e toalhas que ela bordou, os discos e livros que estão na família a duas ou três gerações.

O argumento dele é que as coisas tem que ficar na memória e não precisam de representação física. Imagina como vai ser o mundo daqui a 100 anos se essa moda pega: completamente sem identidade. Se dependermos somente de meios virtuais para guardar imagens do que existiu e existe, corremos o risco de perder isso. Existe um limite pro compartilhamento do conhecimento oral. Eu posso te explicar o que é uma coisa, mas você nunca vai saber como essa coisa realmente é até ver na sua frente.

Pegando numa escala um pouco maior, se considerarmos tudo que é antigo como lixo, quem somos nós e pra onde vamos? Isso me leva ao próximo item.

3 – O minimalismo não consegue diferenciar acúmulo de preservação

Se eu guardo mil papéis de bala, uma montanha de caixas de leite vazias, pilhas e mais pilhas de jornais, estou acumulando. Sou, inclusive, forte candidata a programas do tipo Acumuladores. É triste, inclusive, que tanta gente passe por isso e desenvolva esses problemas. Mas não tem como relacionar isso com quem coleciona livros, discos, porcelanas. Ao menos não a princípio (porque qualquer coisa pode se tornar um vício – o minimalismo inclusive. risos kkk rs). Se eu coleciono coisas com o intuito de preservar para a próxima geração, ou porque me agrada a estética e tenho espaço, não consigo ver problema nisso.

Mas essa gente estimula todo mundo a jogar tudo que for “”inútil”” no lixo. Alguns sites não falam nem de doação, falam lixo mesmo. Se desfaça de tudo e tenha um grande (ou pequeno) espaço vazio na sua vida. Para contemplar como é maravilhoso não acumular. E? Isso torna o mundo melhor exatamente como, se são coisas que já estão no mundo? Eu acredito em valor sentimental. Eu acredito em preservação. Eu acredito que faço um puta trabalho pro futuro quando salvo uma vitrola ou um livro antigo da deterioração total. Não consigo achar bonito ou engraçado que alguém não saiba o que é alguma dessas coisas. Não acho que seja um sinal bom dos tempos ou da tecnologia. A ignorância, no final, só nos leva a cometer os mesmos erros.

4 – O minimalismo não respeita as diferenças

Cada grupo, etnia, população tem suas peculiaridades. Dos turbantes aos colares, dos vestidos às botinas. O que se conhece por minimalismo é norte americano e – como quase tudo que é norte americano esses dias – é imperialista e só contribui pro desmonte dessas peculiaridades. Se uma menina do Peru, uma de Angola e uma do Brasil, por exemplo, revolvem seguir essa tendência a risca, em pouco tempo elas vão abrir mão de uma porrada de coisas que dizem respeito a suas culturas, e em menos tempo ainda vão parecer todas uma versão da mesma pessoa. Sabem? O minimalismo contribui pra pasteurização do mundo, pra essa globalização burra que coloca algo como certo e o resto todo como errado. Eu não consigo enxergar isso como bom a longo prazo.

A internet já faz um desserviço enorme no que diz respeito a indumentária. Se antes dela o que se entendia como tendência era adaptado a cultura de cada lugar, depois dela tudo vai ficando igual. Os mesmos ícones inspiram pessoas de diferentes partes do mundo, e a cada dia as lojas todas vendem as mesmas roupas, nas mesmas numerações, com a mesma modelagem, independentemente do tipo de corpo predominante em cada local. Em larga escala, essa é só mais uma tendência que contribui para que pessoas como eu – plus size, alta, quadril largo, cintura fina – não consigam encontrar roupas que lhes agradem (ou sequer funcionem, haja visto que toda calça fica quase no meio da minha batata da perna haha). O minimalismo é excludente. Tem quem argumente o contrário, dizendo que não diz respeito a moda, mas sempre diz. Ingênuo quem pensa que não.

5 – Em resumo, eu acho bem ridículo rs

Eu acho. Mesmo. Essa ideia do não acúmulo a qualquer custo, essa ideia atrelada ao “largar tudo pra viajar o mundo”, ao “””empreendedorismo”””, ao ativismo vazio. Eu acho bem ridículo. Acho que não contribui para um mundo melhor, e é apenas parte de uma grande cadeia de coisas que não contribuem. Mas eu entendo. É mais fácil comprar a camiseta sustentável ou o móvel de madeira do site hipster e achar que é muito minimalista e descolado. É mais fácil se achar a ativista porque é contra testes em animais, mas continuar comprando cosméticos produzidos por pessoas mal remuneradas. É mais fácil se preocupar com tudo que é superficial disfarçado de profundo, do que de fato abrir mão disso tudo.

Eu poderia aderir ao minimalismo, se ele fosse um pouco mais focado nas pessoas e no que acontece com elas. Se ele fosse mais sobre preservar e menos sobre não acumular cegamente. Se ele fosse feito e difundido por e entre quem tem menos, e não nas camadas mais altas. Se ser minimalista for viver com menos aproveitando ao máximo, eu até sou. Mas prefiro achar um outro nome pra isso. Eu sou devagarista. Eu sou suburbanista. Sou bonitezarista. Mas minimalista? Não, obrigada.

Pense fora da casinha

Todo mundo está acostumado a conselhos sobre pensar fora da caixa, eu sei, mas esse é diferente. Fora da caixa costumeiramente significa inovação. Fora da casinha é sinônimo de loucura, insanidade, ser lelé da cuca, e esse é exatamente o caminho do meu conselho.

Há cinco anos atrás, quase seis, comecei a trabalhar como assistente de marketing em uma empresa de cosméticos. Na época ela já era legal, mas bastante desconhecida nas quebradas. Peguei a página do face com menos de mil pessoas. Lá comecei a implementar um monte de planos loucos da minha cabecinha oca. Na época a equipe de marketing era formada por duas pessoas, contando comigo, e mais uma designer “flutuante”, que depois passou a estar lá todos os dias. A gente se virava com uma verba ínfima ou inexistente. Não existia anúncio de facebook, nem ações caras, nem agência, apenas um plano e muita insanidade nas ideias.

Ao longo dos últimos anos, trabalhei ou prestei serviço pra eles mais algumas vezes, e foi incrível ver que a junção da essência que eles já tinham + as minhas loucuras em conteúdo e ideias + as outras profissionais fora da casinha que passaram por lá fizeram com que não somente a marca crescesse, mas que uma verdadeira revolução acontecesse no mundo dos cosméticos.

Se vocês não pescaram ainda, estou falando da Lola. Há cinco anos atrás ninguém falava com essa linguagem, e não existiam produtos no Brasil com essa pegada jovem e insana (honestamente, até no mundo era difícil, no máximo ti.gi e lush, né?). Com o passar do tempo, a empresa adquiriu uma identidade forte e disruptiva. Se existem agora tantas linhas multicoloridas e com linguagem ultra informal, é graças a Lola. Todo mundo começou a querer copiar. As empresas grandes começaram a ficar de olho, e vocês não tem ideia do prazer que é ter feito parte disso tudo nos meus 20 e poucos anos.

Dito isso, vamos a parte que interessa: imagina se a cinco anos atrás alguém tivesse entrado na Lola e estruturado tudo de maneira “correta” segundo as “teorias” da publicidade e do marketing? Imagina se alguém tivesse convencido os sócios a seguir um caminho “””seguro”””. Ninguém teria ouvido falar na marca, certo? Graças aos céus isso não aconteceria porque a responsável por dar corda a toda essa loucura é uma pessoa tão descolada e fora da casinha quanto todas as profissionais de marketing que passaram por lá. Uma pessoa que sempre acreditou no potencial transformador das coisas, dos cosméticos, da verdadeira beleza.

Pensem fora da casinha, criativos. Pensem fora das teorias e fora dos muros da universidade. Não deixem a faculdade limitar o potencial de vocês. Porque o que acontece é esse mar de métricas e teorias que podem até gerar crescimento, mas não geram valor. Pensem fora da casinha porque a inovação mora na loucura, não no “mas é assim que funciona”. Imaginem se todos os responsáveis por aplicativos, gadgets, sites e produtos disruptivos tivessem acordado um dia e pensado “é, não, não vale a pena”. Que mundo chato e sem graça seria o nosso, certo?

Acima de tudo, parem de tornar a internet esse lugar insosso, em que todos os sites parecem os mesmos, em que todas as chamadas parecem as mesmas. Existe lugar pra fazer a diferença em qualquer cliente. O mundo pode até parecer dos iguais, mas a glória é definitivamente dos diferentes.

Beijos de luz,

Dandara – A designer/web designer/redatora/artesã/programadora em potencial/dona de ideias insana que você respeita. HAHAHAHA