Referências: o ponto essencial para se ter mais criatividade

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Muito vejo falarem sobre criatividade, seja ligada a escrita, arte e design ou mesmo no mundo dos negócios. Ela é extremamente valorizada e ligada à inovação e capacidade de raciocinar rápido e resolver problemas. Entre uma porção de materiais sobre o assunto, encontramos muitos exercícios e soluções milagrosas para se desenvolver a tão falada criatividade. Na maioria dos casos, acho tudo uma baboseira sem tamanho, por um motivo muito simples: ser criativo não diz respeito a uma capacidade mágica sem ligação ao resto da vida, seja inata ou aprendida. Durante muito tempo acreditei que era um dom, mas quando comecei a enxergar por outra perspectiva, percebi que ela pode sim ser desenvolvida. Esse desenvolvimento, no entanto, nada tem a ver com exercícios e fórmulas. Ser criativo depende, prioritariamente, de uma única coisa: referências.

Quanto mais aprendemos sobre assuntos diversos, mais somos capazes de fazer ligações entre eles e desenvolver opiniões, pensamento crítico e criatividade. Ter um repertório vasto de referências é primordial pra ser criativo. Mais do que isso, é essencial! Acredito que exista sim o talento, a capacidade de se tornar um “buscador de referências” sem ser ensinado a tal, mas acredito também que é possível ensinar a ser curioso. Quando colocamos essa intenção nas nossas ações, o universo com certeza responde! (para os céticos de plantão, isso nada tem a ver com religião ou misticismo: quanto mais pesquisamos, mais nos sentimos motivados a continuar aprendendo. Energia positiva sempre! :D)

Sem mais delongas, segue aqui uma listinha que pode te ajudar a se tornar mais criativo, com um repertório vasto de referências e muita vontade de continuar aprendendo:

1 – Invista no que você gosta

Vamos partir do princípio de que “investir” não precisa envolver dinheiro, então nada de dar desculpas. O investimento mais importante que podemos fazer é o de tempo! Invista tempo no que você gosta. Ama ouvir música? Que tal pesquisar sobre suas bandas e artistas favoritos? Leia entrevistas, descubra artistas similares, entenda a motivação por trás de cada música, filme, série e livro que te interessa. Mesmo que você reserve só meia hora por dia pra fazer alguma atividade com atenção total, no final da semana você terá passado 3h30 aprendendo algo novo. Já parou pra pensar que existem palestras e workshops que duram menos? 🙂

2 – Valorize as pequenas vitórias

E por falar em dedicar só meia hora por dia (pra quem insiste em dizer que não tem tempo. Falaremos disso em outro post! haha), você anda valorizando suas vitórias diárias? Costumamos acreditar que ser criativo acontece de estalo, ou é algo que outras pessoas tem naturalmente, e por isso diminuímos o que alcançamos! Quando você coloca sua mente e seu corpo 100% na tarefa, por menor que ela seja, isso é uma vitória. Em alguns dias da vida, levantar da cama já é uma vitória, e devemos valorizar cada uma das nossas ações. Olhar o lado positivo e pensar na solução ao invés de focar no problema também é criatividade!

3 – Leia mais

Essa é uma dica simples, né? Mas na prática vai ficando complicada, especialmente pra quem não tem o hábito. Valem artigos na internet, livros, revistas, vale tudo! Deixe o celular de lado por algum tempo e foque na leitura. Faça anotações, guarde palavras e nomes pra pesquisar depois, anote as frases que você mais gostar. Além de nos tornar mais criativos, a leitura constante também nos ajuda a escrever melhor, aumentando nosso leque de palavras e expressões.

4 – Faça algo pela primeira vez

Essa frase não é cliché a toa! Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez? Quando pensamos isso, nos vem a mente coisas grandiosas como saltar de paraquedas, fazer grandes travessias ou viagens. Nessa hora bate o desânimo – nem sempre temos condições físicas e financeiras pra essas coisas grandiosas. Agora imagina o seguinte: você nunca cozinhou. Você ama estrogonofe. Se você pegar a receita e for aprender, isso é uma primeira vez! Existem primeiras-vezes de todos os graus e tipos. Muitas delas custam muito pouco ou são gratuitas, então dá pra conciliar e fazer diferente. Cada vez que você faz algo novo, sua mente se abre mais um pouco, e é como disse Einstein:

A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original

5 – Não se leve tão a sério

Aprender algo novo – seja um idioma, habilidade, esporte, etc – demanda tempo e paciência. Um pouco de disciplina, sim, mas você não precisa desenvolver isso tudo da noite pro dia. Quando levamos tudo a sério demais, a tendência é desanimar rápido e perder a motivação. O que é melhor: andar três horas no primeiro dia e não aguentar andar direito por uma semana, ou andar 20 minutos no primeiro dia e se sentir bem pra andar mais 20 no dia seguinte e assim por diante? Todas essas coisas são construções, e construções demandam tempo. Não existe um marco do tipo “a partir desse dia sou uma pessoa criativa”, e por isso não existe forma de mensurar. Só quem sabe do seu progresso e da sua criatividade é você. Então ria, se divirta, leve as coisas de forma leve! Comece pequeno, foque nos primeiros passos e antes que você perceba um mundo novo e incrível se abriu a sua frente. <3

Espero que vocês tenham gostado da listinha e levem essas ideias pra vida! As pessoas sempre comentam que sou criativa e me perguntam o que eu fiz pra me tornar assim. Outras comentam coisas do tipo “ah, mas você é criativa”, como se eu tivesse nascido dessa forma. Nasci curiosa, sim, e assim me mantive, mas acredito de coração que somos todos capazes de aprender, de nos tornar curiosos e motivados! Se você acha que não, faça a experiência e venha me contar depois como foi. Se você não se sentir um tiquinho que seja mais motivado e criativo, te pago um sorvete com direito a chantilly! haha 😀

Deixa pra lá

Em alguns dias você vai acordar se sentindo a pessoa mais maravilhosa da face da terra. Em outros, um lixo completo. Haverão dias cheios de alegria e acontecimentos. Alguns deles vão ficar guardados com carinho na memória, mas quando você parar pra relembrar a vida, vai perceber que os pequenos momentos são os mais marcantes. Uma conversa no quarto no meio da semana. A forma como o sol ilumina um determinado ponto da cidade e te faz lembrar da infância. A árvore do lado de fora da janela. De vez em quando você vai se sentir no fundo do poço. Talvez nem esteja, mas é importante respeitar a sensação. Nem tudo são flores na vida. Tentar evitar a tristeza e o desconforto jogando pro fundo da mente só faz eles se tornarem mais fortes.

Você vai esquecer alguns anos inteiros. Outros vão parecer sempre frescos no tecido da memória. Certos anos são pinturas, certos anos são rabiscos. Por vezes os rabiscos valem mais do que as imagens mais realistas. Você vai perder pessoas, e vai conhecer outras tantas pelo caminho. Nenhuma delas nunca vai preencher o espaço das que se foram. Você vai conhecer a morte e a vida. O princípio e o fim de todas as coisas. O cheiro do hálito de um recém nascido e o cheiro dos corpos em decomposição num cemitério. Com sorte, vai ver mais nascimentos do que mortes. Eu espero que chegue o dia em que você vai compreender que os dois tem a sua devida importância. Sem o que é ruim, não alcançamos a dimensão grandiosa do que é bom.

Existem pessoas que vem pra ficar. Outras vem pra ir embora. Uma sala vazia. O vazio de quem parte e a gente fica ali no canto tentando entender o que deu errado. Amigos, amores. Então em algum momento compramos um sofá. Um quadro, um tapete, uma luminária, uma mesa de centro. Antes que a gente perceba o ambiente já está redecorado e pronto pra receber outra pessoa. Certas pessoas vão deixar a cadeira vazia e ninguém nunca mais vai sentar ali. A presença permanece, mesmo quando não física. O vento de uma determinada forma, uma expressão, um papel com a letra escrita. Recortes e lembranças na colcha de retalhos que é a vida. Mas sempre tem espaço, sempre. Sempre cabe mais um na casa e no coração. Não feche a porta, ainda. Você não sabe quem vem virando a esquina.

Certos momentos parecem tão errados que é difícil seguir em frente. Aí a gente um dia olha pra trás e vê que nada foi tão ruim assim. Algumas coisas são, mas não são a maioria. Cabe a cada um encaixar as peças e continuar vivendo. Hoje vim pra casa pensando em deixar de existir. Uma tristeza muito grande veio junto com o tempo nublado. Não sei bem porque. Não busquei explicação. Deixei ela vir e passar. Chorei e senti e então me peguei ouvindo um monte de músicas que me fazem feliz. Conversei com Diogo, conversei com João. Jantei na copa de casa com a família na mesa. E de repente eu estava feliz de novo. A melancolia inerente ao tempo chuvoso permanece, mas é branda, quase uma lembrança. Eu provavelmente não vou lembrar do dia de hoje daqui a um ano. Mas como é bom me sentir presente nele agora, cercada por todo o amor que tenho e mereço.

E toda vez que bater isso tudo, volto pra ouvir de novo essa canção, e pra reaprender quantas vezes for preciso que o segredo de tudo é deixar pra lá:

 

Contextualização: para ler e ouvir melhor

Ler, escrever e ouvir música são minhas coisas favoritas na vida. Mesmo antes de aprender a escrever já pegava a caneta e rabiscava “palavras” no papel, ou batia teclas aleatórias da máquina de escrever. Assim que aprendi a ler me tornei uma leitora ávida: livros, bulas de remédios, letreiros, queria saber o que significavam todas as palavras ao redor. A música também faz parte da minha vida desde a infância. Minha mãe fazia tudo ouvindo música, e na casa do meu pai o violão era presença garantida nas festas, reuniões e madrugadas insones. Sempre me atentei muito às letras, mais até do que às melodias. O que queriam dizer os artistas? Qual era o sentido de tudo? Com o advento da internet, ler e ouvir música se tornaram pra mim exercícios mais completos: eu podia agora pesquisar mais sobre a vida dos cantores, bandas e autores que gostava.

Com tudo isso, e por vezes sem perceber, desenvolvi um costume maravilhoso: o da contextualização. Colocar as coisas em seu devido contexto é importantíssimo para compreender seu significado. Como nem todo mundo desenvolve isso, resolvi fazer uma lista breve, quase um guia da contextualização. Além de ajudar a ouvir e ler melhor, ajuda também na vida escolar e acadêmica. Acredito que analisar qualquer coisa fora de contexto – por melhor que seja a intenção – é sempre muito raso. Infelizmente isso tem acontecido bastante, e é uma das coisas que mais me incomoda na produção acadêmica contemporânea. Se é pra ter opinião, que seja completa! “gostei” e “não gostei” não devem fazer parte da vida de quem se propõe a escrever e pesquisar. O melhor desse exercício é que quanto mais você faz, mais tem vontade de descobrir e aprender. Como o objetivo é instigar a curiosidade e a pesquisa, seguem algumas perguntas cruciais:

1 – Em que época vivia o autor?

Essa pergunta muito simples leva a outras tão importantes quanto: o que acontecia no mundo neste período? Qual era o panorama político e social? Quais eram as modas da época? Quais são os artistas contemporâneos a ele? Em que classe social ele estava inserido? Tendo a resposta para estas perguntas, fica mais fácil pensar nas próximas e ter noção de quais assuntos relacionados à música e literatura nos interessam.

2 – Em que lugar ele vivia?

Nossa forma de ver o mundo e os acontecimentos está intimamente ligada com o lugar em que vivemos. Onde o autor passou a infância? Em que cidades viveu? Ele passou a vida no mesmo lugar? Como era este lugar? O clima, a língua, a estrutura, tudo isso influencia nossa escrita. Sem precisar ir longe, a escrita de um autor nordestino é completamente diferente de um que cresceu no sudeste. Quer um exemplo? Compare o trabalho de Caetano com o de Chico (comparar o trabalho de pessoas de diferentes regiões de um mesmo país, aliás, é outro exercício excelente!)

3 – Quantos anos ele tinha quando escreveu o livro/música em questão?

Cada fase da vida nos inspira de forma diferente. O que na adolescência parece um problema muito grave, aos 30 já não faz nenhum sentido. Da mesma forma, o que aos 30 parece o fim do mundo, nada significa aos 50 e por aí vai. Saber a idade do autor e tentar compreender suas motivações e visões de mundo pode levar a várias reflexões interessantes.

4 – Qual era o estado mental do autor quando escreveu a obra?

Além da idade, é importante pensar e pesquisar o aconteceu na vida do autor antes, durante e depois da música/livro existirem. Ele vivia sozinho? Quem eram seus amigos? O que ele fazia no dia a dia? Trabalhava com alguma outra coisa, ou se dedicava somente a escrita? Entender o background da pessoa nos ajuda a compreender seu estado mental, e as motivações por trás das letras, personagens e histórias.

5 – Quais eram as influências do autor?

O que ele ouvia e lia? Quem eram seus ídolos? O que lemos e ouvimos constrói nossa base intelectual, e essa base é impressa no nosso trabalho. Saber quem eram as influências do autor em questão nos leva não somente a compreender melhor o trabalho, mas também a buscar estas referências e aumentar nossa própria base. O mais incrível – além de ir descobrindo mais e mais coisas – é ir percebendo as influências em comum entre diferentes artistas que nos inspiram. Tentar descobrir a essência de um gosto, de onde ele vem, quem fez primeiro, isso tudo só nos enriquece! Mais do que isso, torna tudo menos superficial: o conhecimento, no geral, nos torna cada vez mais imunes a superficialidade.

 

Paz, amor e Sgt. Pepper: um livro pra quem ama música – e os Beatles

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Pesquisei por este livro na Estante Virtual diversas vezes, mas sempre ia postergando a compra por um motivo muito simples: o preço salgado nos sebos da vida. Pra quem não sabe, sou uma exímia mão de vaca (gosto de usar “econômica” e “prudente” rs), e evito ao máximo gastar dinheiro. Eis que estou andando pela minha querida Freguesia, quando encontro um exemplar por R$10,00 (mentira, minha mãe encontrou e me chamou. Se eu não disser acho que ela me mata haha). Nem titubeei: comprei no ato e comecei a ler assim que cheguei em casa.

Ano passado não foi muito frutífero pra mim nos campos culturais e artísticos. Considero um ano praticamente nulo nestes aspectos, aliás. Quase não li, quase não vi filmes, pouco escrevi. Sendo assim, comecei o livro, devorei metade e fui desacelerando até parar por mais ou menos um mês. Aproveitando o ímpeto do início de ano – e o desejo de voltar a ler, escrever e assistir filmes vorazmente como costumava fazer – decidi terminar o livro de uma vez. E que livro! A sensação é a de estar lá no Abbey Road, assistindo e ajudando os Beatles através do olhar carinhoso e paterno que o George Martin coloca em cada capítulo.

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Diferente de outros livros sobre música que li, que focavam muito mais em questões pessoais e relacionados, Paz, Amor e Sgt. Pepper é uma aula de produção musical. Das dificuldades técnicas aos avanços tecnológicos, todo mundo se desdobrava em mil pra alcançar a sonoridade que eles desejavam. Nem sempre as coisas saiam como o planejado, mas por vezes a experimentação levava a resultados ainda melhores. Instrumentos estranhos, fitas ao contrário e músicos e engenheiros beirando a loucura são alguns dos elementos das verdadeiras odisseias envolvendo a gravação de clássicos como Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band e Lucy in the sky with diamonds. Entre um episódio e outro, vamos conhecendo alguns detalhes da vida pessoal dos 4 garotos de Liverpool e os motivos que levaram a separação da banda.

A parte mais interessante do livro é que – tal qual a gravação deste álbum icônico e insano – ele é inteiro uma experimentação, quase um fluxo mental, e a sensação é a de estar sentado de frente ao produtor tomando uma xícara de chá e ouvindo aquilo tudo. Sou muito fã de biografias, da história por trás das coisas e livros de não ficção em geral, e este conseguiu facilmente um lugar no topo da lista de favoritos. Mesmo que eu não fosse fã dos Beatles, sendo louca por música como sou, teria gostado da mesma forma!

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Além de tudo, o livro é um verdadeiro tapa na cara de quem acha que a banda se tornou o que se tornou graças somente à visão do produtor: ele deixa bem claro em todos os momentos que seu trabalho era dar aos Beatles o que eles queriam, traduzindo e dando vazão a genialidade dos quatro. Em alguns momentos, inclusive, ele expõe suas falhas nessa empreitada, os momentos em que não conseguiu alcançar exatamente o que eles queriam. No geral, minha visão de um bom produtor é essa: alguém com o conhecimento, a percepção e o jogo de cintura necessários para que o artista consiga fazer fluir suas ideias e intenções com a música. O mercado é importante? Sim, é. Mas se George Martin fosse naquele tempo o que se tornaram os produtores de hoje em dia, teria tentado convencer os Beatles a manterem as fórmulas que funcionavam. Duvido muito que – por alguma razão que não contratual rs – eles tivessem aceitado algo do tipo!

Finalizo esta resenha com uma reflexão sobre o estado atual da música: independentemente de gênero, estilo ou localidade, acho muito triste a quantidade de jovens seduzidos pelo capital, pelo dinheiro, tentando se adequar ao que o mercado quer. Nada de bom na música surgiu assim, nada relevante. As grandes cenas e as grandes bandas surgiram e marcaram seu lugar na história sendo movidas prioritariamente pela criatividade, pela visão do que gostariam de criar, acreditando em si mesmo quando o mundo e o mercado iam contra. Longe de utopias e da ideia do artista morto de fome (que eu admiro, não vou negar), acredito que a verdadeira genialidade mora na capacidade de se reinventar. Uma pena que cada vez mais gente queira somente se adequar.